1300 taberna: boa comida, óptimo ambiente, fabulosa decoração

    Estou aqui parado há meia hora à frente do ecrã vazio sem saber muito bem como explicar isto. Tenho um problema e gostava de o partilhar consigo. Vou desfazer o mistério (do restaurante, claro, não do Casal…): adorei o 1300 Taberna, mas há um “pormenor” que me ficou atravessado. Por isso, despacho agora o “pormenor” e depois passo aos elogios já sem hesitações.

    Acho a descrição da ementa de algum mau gosto. Começar todos os pratos de bolo de chocolate com “O Eusébio gosta de…” e depois acrescentar o que acompanha o bolo de chocolate – como, por exemplo, “O Eusébio gosta de vinho do Porto” para bolo de chocolate com sorvete de vinho do Porto – parece-me ligeiramente racista. Eu sei que tudo isto começou há muitos anos quando os senhores da Taberna resolveram chamar Eusébio ao seu bolo de chocolate original e depois foi evoluindo para isto. Mas esse começo parece-me logo um pouco a atirar para uma Mário-Machadisse. Longe de mim querer ser politicamente correcto, mas não consegui evitar algum desconforto ao ler esta analogia entre o Eusébio e o chocolate. Se gostam muito de futebol, chamem Jorge Jesus ou Pinto da Costa ao bolo. Mas deixem lá o Eusébio em paz. Adiante. Está feito o desabafo. Agora vamos à crítica. E aos elogios.

    O ambiente 

    Cadeiras com diferentes cores e feitios, mesas de vários tipos de ferro e madeira rústica, candeeiros com colheres de sopa penduradas no tecto, dezenas de relógios gigantes a encher as paredes, peças de decoração em ferro forjado, velas a transbordar cera, lustres, candelabros, castiçais, velharias. Chegámos a um ferro velho? A um armazém abandonado? Não. Chegámos a um dos restaurantes mais modernos e bem decorados do país. Num enorme armazém com um pé direito onde cabem oito Brunos Nogueiras às cavalitas uns dos outros, o 1300 Taberna mistura de forma perfeita o rústico e o moderno, as peças compradas na Feira da Ladra com os objectos de design. O resultado é um espaço cheio de cor e vida, estilo e experimentalismo, ao nível dos mais modernos restaurantes da Europa. E não, não é exagero, é mesmo dos mais bonitos em que já estive.

    Então não tem defeitos? Talvez um ou dois. Especialmente para homens com corpo de Cristiano Ronaldo e cabeça de Manoel de Oliveira, como eu: a porta da entrada, em vidro, provoca correntes de ar que atacam as cruzes. Se, por sorte, você tiver menos de 90 anos, então o espaço é perfeito.

    O serviço 

    Há o serviço de comida – simpático, rápido, atencioso e com capacidade para ouvir, sempre com um sorriso, as 52 perguntas que Ela faz antes de escolher um prato. E há o serviço de vinho – e nesse caso, ouvimos a resposta mais surreal da noite:

    – Entre estes dois vinhos, qual é que me aconselha?

    – São vinhos completamente diferentes.

    E silêncio. Bom, em primeiro lugar, agradeço a constatação da evidência, mas sempre me convenci que o papel de um escanção fosse um pouco além de simplesmente dizer banalidades. Cheguei a pensar que um escanção deveria explicar as diferenças entre os dois vinhos e recomendar aquele que se adaptasse melhor ao prato que tínhamos pedido. Aqui não é assim. Acabei por escolher o Monte Cascas Reserva, que já conhecia, em vez de arriscar num desconhecido. Experimento quando encontrar um sommelier que não tenha tanta dificuldade em falar de vinhos.

    A ementa 

    O couvert

    Começámos a noite de forma espectacular, com três tipos de pão: um branco de cebola e tomate – com um sabor forte e delicioso; uma focaccia bem cozida – pouco surpreendente, mas muito boa; e um pão preto de cerveja Guinness e melaço – uma mistura de sabores que nunca tinha experimentado antes e onde se sente lindamente a presença da cerveja preta. Se a tudo isto juntar uma manteiga de tomate seco e de ervas e um azeite especial da casa, por mim está a noite feita.

    Nesta fase do jantar, o único problema foi a bebida. E foi um problema só meu. Resolvi inventar e pedir um Bubbles, um cocktail de espumante e maracujá em que as sementes da fruta estão no fundo e vão subindo. É muito giro para olhar, mas é muito doce para beber. Ela teve mais sorte: pediu uma cerveja. E aqui as cervejas merecem um subtítulo à parte.

    As cervejas artesanais

    São muitas. São óptimas. E são portuguesas. Depois do erro que cometi com o Bubbles, que deixei a meio, passei para as cervejas – uma excelente maneira de começar a noite. Vale a pena experimentar a Letra A, criada por dois cientistas da Universidade do Minho que se dedicaram ao fabrico da bebida. Feita de trigo, a partir de uma receita da Baviera, tem uma cor turva e um sabor leve e ligeiramente adocicado. Muito boa. Vale também a pena provar os diferentes tipos de Maldita e Sovina que a Taberna tem. Se gostar, pode acompanhar a refeição apenas com cerveja. São excelentes e a carta é extensa.

    As entradas

    Pedimos uma terrina de leitão assado, laranja espumante e pimenta preta com salada e brioche que não estava nada de especial – aliás, nem gosto de terrinas, não sei porque é que fui pedir isto. E passámos para um óptimo atum com feijão frade, que é o mesmo que dizer barriga de atum braseada (óptima), feijão frade (muito bom), puré de abacate (genial) e ervilhas wasabi (maravlihosas). Juntar tudo isto no mesmo prato é ter uma entrada muito, muito, muito boa.

    Os pratos

    Ela escolheu um bacalhau à Brás, de que gostou – a mim pareceu-me normal. E eu optei por um Bife à Taberna muito mal passado, com um óptimo molho (não muito forte para não apagar o sabor da carne), umas boas batatas fritas (não são nem querem ser estaladiças) e uma agradável mistura de tomate assado e cogumelos salteados.

    A sobremesa

    É claro que, por uma questão de coerência, não pedi o engraçaducho Eusébio. Preferi uma Homenagem ao Snickers (brownie de chocolate e amendoim com gelado de manteiga de amendoim de Aljezur) e um requeijão com abóbora (cheesecake de abóbora e noz com gelado de requeijão). Preferi claramente o requeijão. 

    E, no fim de disto tudo, ainda sobrava um bocadinho de vinho tinto na garrafa. Por isso vi-me compelido a avançar para uma poderosa selecção de queijos portugueses.

    Só para descansar os amáveis leitores que nesta fase já estão chocados com a quantidade absurda de comida, tenho um esclarecimento final a fazer: peso menos de 100 quilos, estavam mais pessoas à mesa, as entradas e as sobremesas foram divididas por todos. Não, não sou um alarve. Só gosto de comer. Às vezes, um bocadinho demais…

    O bom 

    A comida

    O mau 

    O Eusébio

    O óptimo

    A decoração

     

    Um bom jantar para si onde quer que esteja,

    Ele

    4 comentários em “1300 taberna: boa comida, óptimo ambiente, fabulosa decoração

    1. Ai! Ao que como, e não gosto de leitão, ficava pelas entradas.
      Aliás, quando estou fora de casa, a maioria das vezes, se as entradas são excelentes, já não apetece mais nada.
      E depois de ler isto, fiquei cansada… não fosse a justificação final.
      Com que então a “letra A” foi criada por dois cientistas da UM… hum (tenho uma vaga ideia de já ter lido qualquer coisa).
      O restaurante parece ser muito interessante.
      As opiniões de Ele, são ótimas.

    2. Não é nosso apanágio responder a críticas ou comentários que fazem sobre a 1300 Taberna, mas desta vez não conseguimos ficar indiferentes ao que escrevem sobre o Eusébio. Como diz e bem sempre demos o nome do Eusébio ao nosso bolo de chocolate, que sempre tivémos na carta e que sempre foi a sobremesa que mais vendemos. Não por ser de chocolate mas sim por ser uma homenagem a um Senhor que ainda em vida sabia que em Oeiras havia um restaurante de benfiquistas que tinha um bolo com o seu nome. Pintos da Costa ou Jesuses há muitos e esses sim não merecem essa nossa homenagem.
      Desconforto para nós é usar uma consideração como “Mário-Machadisse” para se referir ao que quer que seja sobre nós.
      De resto só temos a agradecer a visita e os comentários que fazem sobre o nosso espaço e sobre o nosso trabalho.

    3. Caro Nuno,
      Antes de mais, muito obrigado pelo seu comentário e pela elevação com que reage à nossa crítica. Ficamos muito satisfeitos por saber que o nome Eusébio não foi dado por o bolo ser de chocolate – até porque gostámos bastante do restaurante e do seu trabalho –, mas acredite que alguns dos seus clientes podem achar que existe uma associação entre o chocolate e a cor do Eusébio. Para evitar mal entendidos o ideal seria fazer a homenagem, chamando Eusébio ao Crème Brûlée ou a um bolo de outra cor.
      De qualquer forma, os nossos parabéns pelo restaurante.
      Espero que não leve a mal as nossas críticas.
      Com os melhores cumprimentos,
      Ele

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