sea me

    O serviço 

    Faça-me um favor: leia esta frase em voz alta e dê um grito de desespero comigo: “POR QUE RAIO É QUE A MAIORIA DOS EMPREGADOS DE RESTAURANTES EM PORTUGAL TEM DE SER TÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÕ FRAQUINHA?! PORQUÊ?! PORQUÊ?! POOOORQUÊEE?!” Ok. Agora está mais relaxado? Eu estou. E depois de ter ido jantar ao Sea Me Chiado, na rua do Loreto, em Lisboa, era tudo o que precisava de fazer.

    Chegados mesmo em cima da hora, a mesa reservada não estava pronta. Não há um pedido de desculpas. E não há problema: o restaurante tem um bar onde se consegue esperar. Mas afinal há problema: o restaurante tem um barman que não consegue sorrir.

    Resolvido o embaraço inicial – eu sorrio, ele não sorri; eu cumprimento, ele não responde; eu pergunto se tem vinhos a copo, ele entrega-me a lista; eu tento perceber se ele é mudo, ele rosna – ficamos em pé a beber uma flûte de Murganheira bruto e a petiscar qualquer coisa.

    Meia hora depois, a mesa está pronta e a nova empregada está a sorrir. Problema ultrapassado? Nem por isso. Depois de pedir três entradas, em vez de um prato principal, chegam duas. E com elas, um novo empregado – de óculos de massa, cabelo rapado e ar de intelectual incompreendido.

    – Peço desculpa, mas falta um prato.

    – [Sobrolho franzido]

    – Falta um prato.

    – [Sobrolho franzido novamente] Qual prato?

    – Já não me lembro bem. Era uma salada, mas foi a sua colega que ma recomendou.

    – Ela já não está.

    E é aqui que o meu cérebro entra em tilt: “MAS PORQUÊ EMPREGADOS TÃO MAUS?????????!!!!!!!!!” É assim tão difícil ser competente no mundo da restauração?

    A ementa 

    A salada, afinal, era de caranguejo real. Que é o mesmo que dizer algo muito parecido com delícias do mar com um bocadinho mais de sal. De resto, vieram umas ostras da Ria Formosa – se já as comeu em Cacela-Velha, no tasco do largo da igreja, não vale a pena passar pela desilusão – e umas vieiras coradas com tártaro de manga e flor de sal – estavam bem cozinhadas, mas o molho era demasiado doce, o que retirava o sabor a mar. Antes de termos ido para a mesa, petiscámos ao balcão uns bombons de atum, mozarella, basílico e sweet chili perfeitamente indiferentes. Para acabar, o doce: a Maria Bolacha tem um nome apetitoso, mas um sabor enjoativo. 

    Só mais uma irritação para completar a noite em grande: começámos por pedir rolinhos de robalo recheados com presunto e mozarela, mas não havia – o forno estava com um problema. De facto, pode ter sido um dia azarado, mas é sempre de desconfiar de tantas coincidências.

    O ambiente 

    O restaurante estava cheio para um dia de semana, o ambiente animado e o barulho ensurdecedor. Se isso não o incomodar, este é o sítio certo. De quinta a sábado, ainda há mais barulho com um DJ residente – no dia em que lá fomos, escapámos. A decoração é moderna, os detalhes estão bem cuidados, mas a confusão é tanta que não dá para prestar atenção a tudo. No meio de tantos azares, nem deu para ir à casa-de-banho ver como era – uma obrigação hoje em dia.

     

    Nota final: chamar Chiado à rua do Loreto é como chamar Leblon à favela do Vidigal.

     

    E agora resta-me mandar um abraço para si onde quer que esteja,

    Ele


     

    7 comentários em “sea me

    1. Até estava com vontade de experimentar, mas não depois de ler o post. Também não acredito em tantas coincidências.

      P.S.: Adorei o post. O que eu me ri… “Chamar Chiado à rua do Loreto é como chamar Leblon à favela do Vidigal” é maravilhoso!

    2. Ando a resistir a uma visita ao Sea Me. Ainda no fds passado lá fui tentar fazer uma reserva, mas não fui com antecedência suficiente, ainda assim não fiquei com vontade de tentar de novo. Não sei se consigo ultrapassar o cheiro a praça do peixe que se sente à entrada.

      Quanto às ostras de Cacela Velha…estou mt mal habituada. Até há poucos anos o meu pai tinha lá viveiros. Nunca comi ostras sem ser em casa!

    3. Penso que poderá ter sido mesmo muita coincidência nessa noite azarada.
      Já fui (fomos) por diversas vezes ao Sea Me e posso dizer que foram sempre das melhores experiências gastronómicas que já tivemos. A começar pela simpatia de quem nos atendeu, sempre com recomendações interessantes – tanto na comida como na excelente bebida, e a acabar na belíssima refeição (vamos sempre para os petiscos. o nigiri de sardinha é delicioso, as vieiras.. e o belo do prego de atum em bolo do caco para acabar).
      É daqueles restaurantes em que não nos importamos de esperar para comer e em que saímos sempre satisfeitos com tudo e ficamos com pena de não conseguirmos ir mais vezes 🙂

    4. Que bom que li. Passei no outro dia em frente ao restaurante e, como adoro peixe, pensei ir… Ler as vossas críticas ajuda-me a escolher roteiros.

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