O assunto é sério. Ainda estou em choque. Preparo-me para abandonar o meu lar e rumar para o Porto. Já fiz a mala, já arrumei as minhas trusses, já coloquei o babete. Arrisco-me a ser ofendido por todos os marialvas da Madragoa, mas tenho de o dizer: descobri no Porto aquele que concorre seriamente no campeonato dos melhores restaurantes do país. Ok, está dito. Agora não há nada a fazer. Podem vir o Anthony Bourdain e o Robert Parker aos pulos chamar-me analfabeto gastronómico. Mas é o que eu acho. E, neste caso, por uma vez na vida, Ela até está de acordo comigo. Esta preciosidade abriu em Março e chama-se LSD. E o nome faz algum sentido: este restaurante é de fritar os neurónios de qualquer pessoa que goste de comida.
A ementa
Começa a loucura com o couvert (€2,00). Para a mesa vem logo uma maragnífica (maravilhosa+magnífica) manteiga fumada feita no restaurante e uma deliciótima (deliciosa+óptima) pasta de caril com amendoins lado a lado com três tipos de pão: sementes de girassol, broa e pão normal. Só esta entrada já seria suficiente para nos deixar em sentido. Mas o problema é que o almoço foi num crescendo até às nuvens.
As entradas
Começámos com um espectacular escalope de foie gras (€9,00) salteado por cima de um divinal puré de castanhas (somos os dois verdadeiros hooligans no que toca a castanhas), com erva doce e um pouco de vinagre de framboesas. A mistura é perfeita. E seria o momento mais explosivo da tarde se, logo a seguir, não tivessem chegado duas deliciosas canilhas de queijo de cabra (€5,00) com texturas de beterraba e peta-zetas a rebentarem na boca. As canilhas são pequenos tubos estaladiços com o queijo de cabra por dentro. E a beterraba vem em gelado (muito bom) e em pó. Espalhadas pelo prato estão as peta-zetas. A ligação entre o ligeiro adocicado do gelado de beterraba e o salgado do queijo de cabra está magnífica. Para mim, o único problema deste prato é o facto de as peta-zetas terem mergulhado no líquido do gelado, tendo perdido mais de metade da sua capacidade de estalarem na boca.
Nesta fase do almoço, eu já estava a fazer contas ao preço das portagens para ver se me ficaria muito caro ir almoçar todos os dias ao Porto. E ainda nem sequer tinha experimentado o melhor.
Os pratos
Depois de termos dividido as entradas, separámo-nos como se estivéssemos a assinar o divórcio. Ela pediu um fantástico naco de atum (€18) com batata doce (em pedaços e em puré), manteiga de ervas e salada de ervas. O atum estava muitíssimo bem cozinhado, encarnado por dentro e marcado por fora, e trazia por cima a óptima manteiga de ervas. A batata doce, cor de laranja viva, desfazia-se na boca.
Eu optei pelo lombo de veado (€20) com beterraba e castanha (duas castanhas a zero). E descobri um dos melhores acompanhamentos que já experimentei nesta curta vida levada com uma mentalidade de criança de 6 anos: cevadotto de beterraba, queijo de cabra e laranja. E aqui fazemos uma pausa dramática. Este assunto é delicadíssimo e requer toda a sua concentração. Faça de conta que está a ver um filme do Manoel de Oliveira e que precisa de apanhar cada palavra dita para tentar compreender a história: o cevadotto é um risotto de cevada, servido num tachinho pequeno com uma mistura de cores e sabores absolutamente arrebatadora. Além de mais leve do que o risotto, é também muito mais surpreendente. Uma pequena Mona Lisa da culinária.
Ultrapassada esta fase, já nada nos poderia surpreender. Verdade?
Sobremesa
Mentira. Depois de uns minutos a olharmos indecisos para a ementa, seguimos o conselho da ultra-simpática empregada e fomos pelo figo, queijo da serra e azeite com crumble de broa de mel e noz (€6). Confesse lá, teve a mesma reacção que nós tivemos, não foi? Figo, queijo da serra e azeite?! Mas o que me apetecia mesmo agora era um doce…
Erro! O figo não é bem figo, é confitado. O queijo da serra não é bem queijo da serra, vem numa levíssima espuma. E o azeite não é bem azeite, é uma bola de gelado de azeite ligeiramente doce. A combinação destas três surpresas, quando colocadas na boca em simultâneo, é o vulcão dos Capelinhos a entrar em erupção. Então se juntar o crumble que, no fundo, são grãos tostados e caramelizados de broa de mel e noz, acabou de entrar no paraíso. É claro que, estando nós no Porto, tivemos de acompanhar a sobremesa com um Tawny 10 anos.
O serviço
Há dias em que tudo corre bem. Desde a recepção:
– Boa tarde, eu guardei-lhes uma mesa na sala interior porque acho mais agradável, mas se preferirem ficar nesta sala não tem qualquer problema.
À indumentária descontraída e simpática: todos os empregados estão vestidos com umas jardineiras de ganga e T-shirts amarelas.
Passando pela simpatia: a empregada conseguiu estar sempre com um sorriso na cara, típico de quem adora o que está a fazer.
E pela atenção: o gerente veio à mesa levantar os pratos principais e perguntar se tínhamos gostado de tudo.
Todos os empregados aqui conhecem os pratos que servem com detalhe, dão opinião sobre cada coisa que se pede, esclarecem e aconselham. Não estão ali simplesmente para servir. Estão ali para o ajudar a ter uma refeição perfeita. E é isso que distingue os empregados competentes dos empregados excepcionais.
O ambiente
A decoração tem a sobriedade do bom gosto e a modernidade da ousadia. Os pratos têm diferentes cores, mas são todos naquela louça baça envernizada que Ela anda há anos a ver se consegue encontrar cá para casa. As mesas são de pedra e o chão é de cimento afagado. Tudo em tons de cinzento (claro e escuro) e preto. Numa das paredes vêem-se os tijolos pintados de preto por cima. Noutra, estão uns pratos pendurados. Todo o ambiente é muitíssimo acolhedor e familiar. Nós fomos lá almoçar num fim-de-semana. E o que se viu mais foram famílias: do avô até aos miúdos. É um espaço alegre e muitíssimo agradável de estar. E ficar. E ficar. E ficar.
As crianças
Nós fomos sem crianças. Mas desde que lhes descrevemos este almoço que elas babam só de nos ouvirem. Se quiser, tem menu infantil, com bife, ovo e batata, uma bebida e um gelado por €12.
Agora só precisamos de referir o nome do responsável por tudo isto: desde o cevadotto de beterraba até à espuma de queijo da serra, passando pelos gelados de azeite ou de beterraba. Chama-se João Pupo Lameiras, tem 28 anos e já é um dos pequenos génios gastronómicos deste país. Eu sou fã – dele e do Porto.
O bom
O ambiente, a decoração e o serviço
O mau
Só talvez as peta-zetas que estalavam pouco
O óptimo
A comida
Um abraço para todos os jovens génios deste país onde quer que eles estejam,
Ele
fotos: lsd e casal mistério
Que bela surpresa: o João Lameiras!
Será que saiu da Casa de Pasto da Palmeira?
Ou criou mais um restaurante?
Em todo o caso: o LSD está apontado para a minha próxima visita ao Porto.
Obrigada!
(e espero que a Casa de Pasto continue aberta – não apenas pela comida, mas pelo sítio, especialmente aquela esplanada em frente ao rio)
Nem tenho palavras para comentar este post.
Obrigado pela dica vou ao Porto este fim de semana e é claro que já marquei mesa…..e ao tlf não podem ter sido mais simpáticos
mas que bom aspecto!!!!
Olá, Helena
Ele continua na Casa de Pasto. Os sócios são os mesmos.
Obrigada!
Estou no porto á contar os minutos para o jantar no LSD mas não posso deixar de dar uma ótima dica ao casal….um almoço espetacular com petiscos fantásticos no * Tapabento * vale a pena experimentar
E o tão merecido jantar finalmente chegou…restaurante fantástico, empregados muito muito simpáticos,adorei os croquetes de queijo..uma maravilha, a manteiga fumada um luxo..e o rodovalho também ótimo o único ponto mais fraco a sobremesa…o parfait de chocolate com caramelo quente com aspecto espetacular não éra top do brioche com gelado bastante estranho, este é o único defeito…precisa umas sobremesas mais espetaculares, não de aspecto que isso são mas de sabor.
Obrigado casal pela dica é realmente um ótimo restaurante
Olá! Como li que gostaram da louça, vou-vos dizer quem a forneceu ao LSD e a grande parte dos restaurantes da Invicta, o nome é: OUTLET DE HOTELARIA.
Este Outlet situa-se na Zona Industrial do Porto – Rua Manuel Pinto de Azevedo, 114 – são 1000m2 de louça feita em Portugal!
Esperamos a vossa visita. Apareçam!
Nós não gostámos da louça, nós adorámos a louça. Muito obrigado pela dica. Vamos lá seguramente 😉
O restaurante LSD foi uma desilusão! Tudo sabe a pimenta de Dijon(mas feita por eles). O único sabor que sobressai é a dita cuja
Seria bom que o restaurante tivesse um site web com ementa e preços. O Facebook esta bem para os amigos.
Overrated… Queres um Chef novo com cozinha fora deste mundo… Restaurante Palco – Hotel Teatro – Chef Arnaldo Azevedo
E afinal o que se come de palpavel ??
Concordo plenamente com a sua opinião. Um optimo restaurante
qual a morada?