o guia michelin está a contratar críticos mistério (e oferece pneus grátis)

    No início do século XX, havia cerca de 2.200 carros em França, as estradas eram altamente limitadas e o combustível tinha de ser comprado em algumas farmácias específicas. No entanto, os carros já tinham pneus. E a Michelin já tinha de os vender. Foi para incentivar os poucos condutores do país a usarem mais o seu carro, e a gastar mais os seus pneus, que a Michelin lançou o seu primeiro guia de viagem, com uma rede de hotéis, mecânicos e postos de abastecimento de combustível que tornasse as viagens de automóvel mais confortáveis e apelativas.

    Só em 1926 é que o guia introduziu sugestões de bons restaurantes para comer e, apenas cinco anos mais tarde, surgiram as primeiras e temíveis estrelas. Hoje, Portugal e Espanha vão conhecer quais são os restaurantes premiados com estrelas Michelin em 2019, uma distinção decidida por uma rede de críticos mistério espalhada por quase todo o mundo.

    Agora vamos à pergunta: está interessado em tornar-se crítico do Guia Michelin? Então está com sorte. O guia está a contratar.

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    Normalmente, os anúncios à procura de inspectores para os seus famosos guias são publicados em jornais, revistas e no site da marca. Actualmente está disponível um lugar para trabalhar a partir dos Estados Unidos mas com disponbilidade para viajar permanentemente.

    Primeiro, tem de estar disponível para fazer um mínimo de 275 refeições/visitas por ano. Segundo entrevistas anónimas com alguns inspectores, é normal ter de ir a cerca de 10 restaurantes por semana, o que dá mais de 500 refeições por ano. Eu francamente não teria grande dificuldade com esta exigência, já a minha querida Mulher Mistério iria seguramente queixar-se da dieta. Se bem que, numa entrevista à revista Forbes, um inspector garantiu que, para surpresa de toda a gente, a equipa de críticos até era “bastante magra” (talvez isso explique a obsessão do guia por nouvelle cuisine). 

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    Em segundo lugar, outra dificuldade que não me afectaria muito: tem de estar disponível para viajar durante cerca de três semanas por mês para destinos indicados pelo seu chefe. Nos primeiros meses, as visitas que fizer serão apenas para acompanhar os inspectores séniores, perceber os parâmetros e ganhar background; depois, começará a fazer visitas com ou sem companhia dependendo do restaurante e da fase de avaliação – por exemplo, se se tratar de um restaurante que concorre para as duas ou as três estrelas, terá sempre de ser visitado por mais de um inspector, e de diferentes regiões do mundo, de modo a ter uma avaliação mais abrangente.

    Terceira obrigação: estar atento às novidades, tirar boas fotografias e escrever um relatório extenso sobre cada refeição bem como um post nas redes sociais. Isto para lá do já conhecido anonimato sobre a sua profissão e sobre a identidade dos outros inspectores da equipa.

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    Agora, vamos aos requisitos: formação em culinária, estudos gastronómicos, gestão hoteleira ou equivalente; mais de cinco anos de experiência a trabalhar em hotéis, restaurantes ou equivalentes; experiência de trabalho como sommelier ou fortes conhecimentos de vinhos; qualidade de escrita; elevado conhecimento de ingredientes e técnicas culinárias a nível internacional; e carta de condução.

    Quanto à remuneração, a Michelin não revela o salário, mas elenca uma lista de benefícios entre os quais se destacam, evidentemente, pneus grátis! 

     

    Um óptimo Guia Michelin para si onde que que as estrelas estejam,

    Ele

     

    fotos: d.r.

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