os melhores crepes estão neste restaurante (ao pequeno-almoço, ao almoço, ao lanche ou ao jantar)

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    Na semana passada, ouvi na rádio o mais genial anúncio da História recente da democracia portuguesa:

    “Depois de um Verão bem passado, o que espera para fazer as suas limpezas de Outono com a nova Depuralina Detox”?

    Quem?! Eu?! Limpezas de Outono?! Oh, minha nossa Senhora Aparecida! Para quem não percebeu, devo explicar que Depuralina Detox não é um detergente para lavar o chão da cozinha nem um novo spray para limpar o pó das estantes. As “limpezas de Outono” são… são… são… ao seu corpo. E não, não estamos a falar de um novo sabonete.

    Seja como for, mal ouvi esta peregrina ideia do maravilhoso mundo da publicidade, pensei que estava na hora de experimentar um restaurante diferente para fazer uma “limpeza de Outono” à cabeça. Virei o volante, numa guinada à la Steve McQueen no filme Bullitt, e acelerei até à Praça da Ribeira, em Lisboa. Enquanto a multidão se dirigia para o mercado, eu segui tranquilamente para o La Crêperie da Ribeira.

     

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    A ementa 

    Primeiro aviso à navegação: aqui fazem-se crepes a sério – os doces têm massa de crepe doce e os salgados têm massa de crepe salgado. E isto é importante, porque aquilo que estamos habituados a comer é um crepe salgado com massa de crepe doce. É quase como colocar um strogonoff em cima de um waffle. 

    A massa dos crepes salgados do La Crêperie é feita com uma farinha diferente. Chama-se farinha de sarraceno e é mais escura e sem glúten. A consistência também não tem nada a ver com o habitual e o sabor menos ainda.

    Com metade da equipa de futsal em estágio algures por esse país fora, fomos para aqui acompanhados de dois filhos que salivam por comida desde que acordam até à hora em que se deitam. São os clientes perfeitos do La Creperie: o restaurante está aberto non-stop entre as 9h da manhã e a meia-noite. A qualquer hora, sempre que lhe apetecer um crepe, tem as portas escancaradas e a cozinha (aberta para a sala) a funcionar.

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    De manhã servem-se pequenos-almoços e brunchs com chá, sumos, chocolate quente, muesli, croissants e, claro, crepes doces; à tarde há menus especiais de almoço (€8) com direito a um crepe salgado (pode ser enrolado com uma salsicha, queijo e mostarda como se fosse um cachorro quente), um crepe doce, uma bebida e um café; e à noite há crepes ou croques (tostas quentes com várias opções por cima, inspiradas no croque monsieur).

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    As entradas 

    E ainda há a entrada: uma tábua de queijos e enchidos franceses que pode dividir pela mesa toda. Como estávamos com pouca fome, depois de um almoço impressionantemente exagerado, e as únicas pessoas que queriam entrada eram as crianças, passámos, especialmente depois de o empregado ter avisado que a tábua era grande demais para dois miúdos.

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    Os crepes

    As crianças pediram o básico crepe completo, com fiambre, queijo emental e ovo (€5,50). Nós caprichámos um bocadinho mais. Ela escolheu um delicioso e fresco italienne (€6), com mozzarella, tomate cherry e manjericão; eu optei por um crepe popeye (€8), mais pelo estatuto de super-herói dos anos 60 que a escolha me dava do que por qualquer outra coisa. Vem com espinafres frescos salteados, requeijão e amêndoas e as primeiras garfadas são uma absoluta surpresa: os espinafres estão muitíssimo bem temperados e as amêndoas dão-lhe algum requinte. No entanto, e também por o crepe ser enorme, acaba por se tornar um pouco enjoativo no final. É com algum pesar que assumo que o Dela estava bastante melhor: a frescura da mistura caprese liga na perfeição com o crepe.

    Tudo isto vem acompanhado com uma salada de alface e tomate com um bom molho vinagrete ligeiramente adocicado. Só uma sugestão: duas fatias de tomate é um bocadinho forreta para uma salada. Mesmo que seja só de acompanhamento.

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    As sobremesas

    Há um bolo ou uma tarte do dia, mas um homem vem aqui para comer crepes. Por isso é imperdível experimentar estas pequenas maravilhas para a sobremesa. Feitos com a massa habitualmente usada em Portugal (com glúten, ovos e todas as outras maldades a que temos direito), são fantásticos e hiper-tentadores.

    As crianças pediram um crepe de Nutella (como diz o meu sósia George Clooney, “what else?”) que nem me atrevi a provar tal era o ar ameaçador com que eles defendiam o prato (€2,75). Garantiram, contudo, que estava sublime (as palavras são deles).

    Nós dividimos civilizadamente um crepe com creme de marrons (€3), que é basicamente um magnífico creme de castanhas com baunilha. Confesso que estava com algum receio de ter à minha frente o prato mais enjoativo do Mundo. Especialmente depois de o empregado ter confessado que não gostava muito deste crepe. Mas, mais uma vez, tive de aceitar que Ela escolheu bem. O creme é muito doce, mas como não vem em excesso, espalha-se pelo crepe na perfeição. Melhor ainda: quem quiser mais doce, tem ao lado uma bola de creme para espalhar mais.

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    As bebidas

    Aqui a especialidade é cidra, a bebida que tradicionalmente acompanha um crepe na Normandia. E há cidra doce ou cidra bruta, vinda de França e feita artesanalmente com maçãs biológicas. Quando eu já estava a estender o copo, para que me servissem esta pequena maravilha da natureza, recebi a notícia fatal: a cidra estava esgotada, só havia Somersby. Como é que é possível dar um desgosto destes a um pobre homem a necessitar de boas notícias?! Baixei a cabeça com um ar sofrido e pedi uma Sovina Amber (€4), a óptima cerveja artesanal produzida em Portugal. 

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    O serviço

    É difícil encontrar um serviço mais sincero: além de ter desaconselhado a entrada, por ser grande demais, confessou que não gostava muito do crepe que tínhamos pedido. Mas é um serviço assim que conquista a confiança dos clientes. Eu sonho com um empregado de mesa que me responda honestamente, que me diga quando estou a exagerar nas doses ou a fazer um pedido ao lado, que me aconselhe aquilo de que gosta mais e me guie pela ementa e pelo restaurante como se fosse ele o cliente. É isso que eu procuro: sinceridade, honestidade, franqueza.

    Depois, vem o resto. O serviço é rapidíssimo (nem demos pela falta do couvert) e simpático (apesar de alguma timidez inicial que pode ser confundida com má vontade).

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    O ambiente 

    Há flores secas do campo em cima das mesas, individuais de papel com bom gosto e uma parede com várias cores que dá um ambiente especial ao espaço. Parece que estamos num charmoso restaurante de aldeia, quando estamos no centro da cidade. Se preferir, pode aproveitar o bom tempo e sentar-se na esplanada, apesar de esta dar para a rua e para os carros que passam.

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    A crianças 

    Há um menu infantil (€5), que pode ser pedido por crianças até aos 12 anos e que inclui um crepe com emental, fiambre e ovo ou um croque madame (fiambre, queijo emental e ovo estrelado) com uma salada mista. De resto, o restaurante é claramente familiar, apesar de não ter muito espaço para grandes correrias.

     

    O bom 

    A decoração

    O mau 

    A cidra estava esgotada 

    O óptimo 

    O crepe italienne (mozzarella, tomate cherry e manjericão)

     

    Boas limpezas de Outono para si, onde quer que esteja,

    Ele

     

    7 comentários em “os melhores crepes estão neste restaurante (ao pequeno-almoço, ao almoço, ao lanche ou ao jantar)

    1. Tanta coisa boa que há em Lisboa (até rimou).
      Este seria o lugar ideal para a minha sobrinha Sofia. Adoro crepes e com certeza que iria babar-se por estes.

      Adorei isto, Ele:”Depois de um Verão bem passado, o que espera para fazer as suas limpezas de Outono com a nova Depuralina Detox”?
      “o volante, numa guinada à la Steve McQueen no filme Bullitt”

      P.S.: eu sei que sou uma chata em transcrever o que escreve(em) mas adoro (-vos).

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