prepare-se para uma notícia difícil: estes éclairs merecem uma estrela michelin e estão demasiado perto de si

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    Não há coisa que me dê mais prazer do que entrar num sítio em que tudo corre bem: os empregados são simpáticos, a comida é deliciosa, a decoração é elegante, o serviço é rápido e as pessoas têm um enorme orgulho no seu trabalho. Quer dizer… pensando bem, se calhar pode haver coisas que me dão mais prazer do que isto – mas o que interessa é que me dá imenso gozo ir a sítios bons. Pode haver quem ache que nós somos uma espécie de Vasco Pulido Valente da gastronomia, que temos um enorme gozo em encontrar defeitos em todo o sítio, que andamos na rua a espumar de raiva à procura de um prato com um grão de pó só para poder destilar um camião TIR carregado de ódio em cima de toda a gente… Mas não. Ela é um doce de criatura e eu sou uma criatura doce. Por isso é que gostamos de encontrar gente que faz um bom trabalho.

     

     

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    Mas infelizmente não foi isso que encontrámos na L’Éclair. Aqui, definitivamente, não se faz um bom trabalho – faz-se um óptimo, um fabuloso, um extraordinário trabalho.

    Quando entrei nesta pastelaria de Lisboa especializada em éclairs, senti-me ligeiramente intimidado pelo estilo Cristiano Ronaldo do dono: t-shirt de gola em bico, blazer justo por cima. Mas contive-me debaixo do meu pullover aos losângos que trazia às costas como se tivesse acabado de sair de dentro do DeLorean do Marty McFly, vindo directamente de 1989. E não me arrependo da contenção.

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    O serviço

    O dono é provavelmente uma das pessoas mais apaixonadas por aquilo que faz que eu já conheci na vida. Mathieu Croiger, um luso-descendente que veio para Lisboa há um ano trazendo consigo o chef responsável pelos deliciosos éclairs, fala de cada bolo como se de um ovo Fabergé se tratasse. Explica os ingredientes e a forma de fazer os bolos com uma dedicação que é impossível não sair daqui com mais éclairs no estômago do que quilos na balança.

    Depois, tem outra vantagem. Nós viemos cá para almoçar – almoçar éclairs?! Sim, eu já explico – e o serviço foi tão rápido como a ascenção do António Costa ao poder. 

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    Os éclairs salgados

    Almoçar éclairs pode parecer um hábito digno do Homer Simpson, mas olhe que não… Além de uma infindável montra de deliciosos éclairs prontos para lhe rebentarem com a balança, a L’Éclair tem cinco fantásticos éclairs salgados. São feitos com a mesma massa dos outros, mas não têm açúcar. Em compensação, são cortados ao meio e reforçados com fantásticos ingredientes, como se se tratassem de uma sanduíche bastante mais leve.

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    A vantagem é que esta massa parece uma nuvem descida do paraíso: é consistente por fora e quase algodão por dentro, o que a torna um maravilhoso substituto do pão. Eu pedi um Éclair Nordique (€6,70), recheado com salmão fumado e salpicado com funcho e uns pontinhos de creme mascarpone com lima. Vem servido num prato com uma deliciosa salada bem temperada com vinagrete de balsâmico. Não é suficiente para me alimentar para o resto da tarde, mas é exactamente para isso que lá estão os éclairs doces ao lado.

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    Ela pediu um Éclair Perigourdain (€6,90), que vinha com magret de pato, tomate seco, pinhões torrados, maçã golden, folhas de rúcula, um bloco de foie gras e uma óptima redução de balsâmico de Modena. Como pode imaginar, enche bastante mais do que o meu, mas, coitadinha, Ela precisa porque ainda está a crescer.

    Para beber, eu pedi uma Coca-cola (€1,60) e Ela pediu uma fantástica limonada com hortelã picada (€2,20), feita com produtos biológicos e sem açúcar – do Ladybug, um bar de sumos que fica ali perto.

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    Os éclairs doces

    E foi assim que chegámos ao momento da verdade: o da sobremesa.

    Primeiro, a massa. Além de vir consistente por fora e levíssima por dentro – tal como no caso dos éclairs salgados –, esta massa leva ainda uma capa feita com uma espécie de crumble por cima. E isso torna-a ligeiramente doce e muitíssimo crocante, o que faz toda a diferença em relação aos éclairs tradicionais, como os fantásticos éclairs da Leitaria da Quinta do Paço, no Porto.

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    Não quer dizer que sejam melhores ou piores, são totalmente diferentes – não só por causa da massa, mas também por causa do recheio. São raros os bolos da L’Éclair que levam chantilly por dentro. O recheio é feito com delicadíssimas espumas suaves, frescas e não demasiado doces. Todos são cuidadas reinvenções de sobremesas ou requintadas combinações de ingredientes. É como estar perante a Estrela Michelin da doçaria: tudo é original e criativo.

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    Nós dividimos dois éclairs. Começámos com um fantástico, recheado com um creme de lima e limão e coberto com açúcar de confeiteiro e três mini suspiros – eu adorei a doçura do creme cortada com a acidez da lima e do limão e o requinte dos mini-suspiros. Ainda por cima está muito longe de ser demasiado doce ou sequer minimamente enjoativo.

    A seguir, pedimos um éclair que vinha aberto, com um creme de avelã e amêndoa picada por cima. Um pouco mais doce do que o outro, mas eu fiquei fascinado com a consistência do creme-quase-espuma e a leveza de toda a combinação. Ela achou-o ligeiramente enjoativo, mas eu comia quatro de seguida com a mesma facilidade com que o Passos Coelho faz aquela sua voz de tenor em cada cantoria de rua.

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    Para casa, ainda levámos mais alguns para a nossa pequena equipa de futsal sedenta de calorias. Mas definitivamente não é a mesma coisa. Quando coloca os éclairs no frigorífico, a massa perde o crocante e fica mole – e o bolo perde grande parte da graça. Pode sempre experimentar não o colocar no frigorífico, mas arrisca-se a deixá-lo estragar.

    Eu recomendo vivamente experimentar o de caramelo e flor de sal de Guérande, que é uma mistura imbatível de doce e salgado, e o de chocolate e folha de ouro: o chocolate tem 80% de cacau e a folha de ouro é finíssima – é a mesma usada por José Avillez, no Belcanto, para fazer a Horta da Galinha dos Ovos de Ouro.

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    Se gostar muito de chocolate, experimente o éclair feito com 70% de cacau e menta (mas o dono garante que não é a mesma coisa que After Eight, é tudo feito ali). E se aguentar as experiências mais doces, tem ainda um enrolado num crepe suzette, com um gomo de laranja e tudo; outro com tiramisú e uma espécie de palitos de la reine crocantes por cima; e mais um de baunilha e framboesas, com doce de framboesa por dentro e lima raspada por cima.

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    Os éclairs doces variam entre os €2,50 e os €4. Está longe de ser um preço barato, mas sempre é uma forma de não o deixar perder-se ali dentro e cortar de vez relações com a balança.

    O espaço está aberto de terça a sexta das 8h da manhã às 20h e, aos fins-de-semana, das 9h30 às 19h, quando tem menus especiais de pequeno-almoço.

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    O ambiente

    A decoração é sóbria e com bom gosto. As mesas são grandes e com espaço suficiente a separar, de modo a não me obrigar a ouvir a conversa do lado. E ainda tem uma esplanada que dá para a renovada Avenida Duque d’Ávila, em Lisboa. Não está no meio dos Jardins da Gulbenkian, mas é simpático.

    A sala está decorada em tons de bege e preto, com enormes janelas que deixam entrar a luz à vontade e com uns candeeiros modernos e minimalistas pendurados no tecto.

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    As crianças

    Não tem menu infantil, mas também quem é que precisa de uma coisa dessas quando tem uma ementa atolada de deliciosos bolos?

     

    O bom

    O ambiente; a decoração; a simpatia e a paixão dos empregados por aquilo que fazem

    O mau

    O preço

    O óptimo 

    Os éclairs – tanto a massa crocante como o recheio que parece uma espuma

     

    Leia também:

     

    Um delicioso éclair para si onde quer que esteja,

    Ele

     

    fotos: casal mistério; l’éclair

     

    Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial.

    7 comentários em “prepare-se para uma notícia difícil: estes éclairs merecem uma estrela michelin e estão demasiado perto de si

    1. Ainda bem que vocês existem, andava com imensa vontade de provar os éclairs da leitaria quinta do paço, mas por estar no Porto não é propriamente coisa fácil… e já tinha passado pela L’eclair o ano passado, e pareceu-me mais uma pastelaria pretensiosa, tinha medo que fosse demasiados enfeites, esteticamente éclairs muito bonitos, mas quando se fosse avaliar o sabor e textura ficasse “desmoralizada”, aconteceu-me isso na Poison D’Amour… Lá está, não se deve julgar um livro pela capa, nem achar que as más experiências irão se repetir.
      Muitos éclairs para vocês e bom fim de semana.

    2. Caro Sr Mistério, parece impossível uma pessoa tão bem informada a nível da actualidade gastronómica portuguesa ainda não ter conhecido anteriormente esse templo de perdição chamada L’Eclair! Uma falha grave da sua parte. Eu então infelizmente já lá fui algumas vezes cometer o pecado da gula. Mas depois do belíssimo comentário que fez a”Pâtisserie” concerteza está já ilibado desta distração! Cumprimentos e continuação com os belos dos Eclairs.

    3. Eu nao conhecia de todo e agora vou ter de esperar ate a minha proxima visita a Lisboa para ir la. Apetece-me morder o ecra de tao bons que me parecem, obras de arte deliciosas. quero, quero muito!

    4. Fica uma enorme curiosidade em conhecer o espaço e provar os tão famosos éclairs. Confesso que só conheço os da Leitaria da Quinta do Paço, no Porto, e pela descrição serão realmente muito diferentes. Nada como provar estes também!

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