Há coisas difíceis de perceber: como é que uma pastelaria que faz uns croissants que conseguem entrar directamente para uma finalíssima da doçaria nacional, taco-a-taco, com os do Careca, no Restelo, decide escolher o nome de Tartine? Vamos lá esclarecer um ponto: uma tartine é uma fatia de pão tostado com bons ingredientes por cima, um croissant é um tratado de prazer, um manifesto de bom gosto, uma convenção de satisfação. Especialmente se forem como estes.
Confesse lá: do que é que está à espera quando trinca um croissant? Hipótese 1: de um brioche ligeiramente mais húmido e que embucha qualquer boca desprevenida. Hipótese 2: de um folhado leve e tostado por cima que se desfaz em milhares de finíssimas partículas a cada dentada.
Pois bem, aqui não vamos falar de nada disso. Vamos falar da terceira categoria da croissanteria nacional, os croissants caramelizados. São feitos com a massa leve e tostada dos croissants franceses, mas depois são polvilhados com um delicado açúcar em pó antes de irem ao forno. O que acontece é que primeiro esse açúcar vai derreter e depois vai cristalizar. Ou seja, um croissant delicioso é promovido a um croissant delicioso e crocante – quase como se estivesse a trincar uma finíssima folha de caramelo.
Os bolos
E qual foi o último sítio onde encontrámos este indignante atentado contra a dieta universal? Na Tartine, no Chiado. A pastelaria de Lisboa que popularizou estes fantásticos croissants foi O Careca, no Restelo. E na Tartine os empregados sabem disso.
– Bom dia, eu queria um daqueles croissants que estão ali na montra…
– Um croissant como os do Careca?
Não, o empregado não se estava a referir ao novo treinador do Real Madrid, estava mesmo a falar da pastelaria concorrente da Tartine e de onde a inspiração terá chegado. Mas copiar nunca foi pecado, desde que se copie bem. E na Tartine os croissants são motivo mais do que suficiente para o fazer lá ir tomar um pequeno-almoço de fim-de-semana.
A minha querida Mulher Mistério é um pouco mais esquisitinha. Apesar de toda a família ter aplaudido os croissants crocantes como se estivesse a assistir ao 17.º concerto Miguel Araújo/António Zambujo, Ela achou os croissants enjoativos demais.
E por isso preferiu coisas que, na sua forma muito peculiar de interpretar o mundo, são mais saudáveis, como os mini-palmiers cobertos de açúcar (estes claramente abaixo dos palmiers do Careca) ou os folhados recheados com doce de ovos – são finíssimas folhas de massa folhada hiper-estaladiça, separadas umas das outras e intercaladas com um fantástico doce de ovos. Como se isto não fosse suficiente para a convencer de que não estamos perante um bolo mais light, este magnífico bolo ainda leva açúcar em pó polvilhado por cima. O resultado é, de facto, divinal e dá pelo nome de Chiado.
Vale ainda a pena experimentar as mini-queijadas de amêndoa que levam uma massa muito fininha e estaladiça e um delicioso e muitíssimo leve recheio com um delicado sabor a amêndoa.
Os outros pratos
Além dos bolos, ainda tem hambúrgueres em pão de brioche e com umas batatas fritas que estavam claramente com gordura a mais, lasanhas, massas, ovos e as tais tartines, que são tostas servidas num pão escuro e agradável. Nós experimentámos uma tartine de salmão fumado com natas azedas misturadas com endro e outra de rosbife e queijo da Ilha que vem com uma overdose de rúcula que quase faz desaparecer o rosbife no meio de uma floresta verde.
Ao fim-de-semana há um brunch que não é propriamente barato. Custa €14 e vem com um cesto de pão, galão, chá ou latte, um croissant, brioche ou pain au chocolat, um sumo natural, granola com iogurte biológico, doces, queijo, fiambre e manteiga. Os ovos são à parte e pode escolher, entre outros, os ovos benedict (+€8), royal (+€10) ou o ovo quente (+€2) que vem cozido com a clara sólida e a gema líquida e acompanha com umas torradas cortadas em palitos para molhar na gema.
O ambiente
À entrada, tem uma mini-esplanada com duas mesas; lá dentro, o espaço é grande, elegante e com bom gosto: uma mesa gigante no centro da sala que dá para umas 20 pessoas, madeiras claras e um ambiente arejado. Mas o que, de facto, sensibilizou a Minha querida Mulher Mistério foram os pequenos ganchos que existem nas pernas das mesas para pendurar as carteiras das senhoras. Isso e o facto de o café ser Nespresso, tirado de uma máquina com design vintage e servido numas pequenas taças sem pegas.
O serviço
Das duas vezes que nós lá fomos, o serviço foi rápido, mas ao fim-de-semana de manhã pode ter de estar preparado para lidar com uma pequena enchente e algum tempo de espera.
De resto, os empregados são eficientes e correctos, não sendo propriamente pessoas de grandes sorrisos.
As crianças
No meio de todos os bolos e bolinhos, que são o sonho de qualquer criança, tem um prato infantil: uma massa com molho de natas e fiambre por €6,80.
O bom
Todos os bolos e o pão
O mau
O excesso de rúcula da tartine de rosbife
O óptimo
Os croissants açucarados e o folhado Chiado
Um óptimo pequeno-almoço para si onde quer que os croissants estejam,
Ele
fotos; casal mistério; tartine
Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial.
O mil folhas “Chiado” é divinal! Mesmo muito bom.
O brunch acho bom também e nada caro, e as refeições durante a semana têm sempre óptimo aspecto: entre risottos e massas, venha quem quiser e escolha 🙂
Esqueceram-se do melhor da Tartine: as panquecas!
Adorei principalmente a tarte de limão merengada, infelizmente o serviço às mesas é horrivél, demorado…confuso…lodo constante.
Os croissants franceses são, sem duvida, os melhores em Lisboa e o chocolate é delicioso!
A expressão ‘cafe da manhã’ em lugar do correto ‘pequeno almoço’ é uma tolice inacreditável!
Eu também acho a palavra errada ‘lanche’ em lugar da palavra correta ‘almoço’ também é outra estupidez. A palavra ‘lanche’ soa ridículo em Português Brasileiro e em Português Europeu. Em vez de dizer ‘lanche’, faria muito mais sentido e até soava muito melhor dizer a palavra com o sotaque original Inglés ‘lunch’.