um copo ao fim da tarde e um empregado que não sorri

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    Por que azar do destino é que é tão difícil encontrar um sítio em Lisboa onde se possa beber um copo ao fim da tarde? E porque é que, quando encontramos, somos sempre olhados de lado pelos empregados que lá estão? No outro dia, percebi de repente que eram 18h e eu estava no centro de Lisboa, com tempo livre enquanto esperava pela minha querida Ela para jantar. E como, para mim, tempo livre é tempo blogosférico, consultei imediatamente a minha poderosa base de dados, qual Edward Snowden da restauração, à procura de um sítio agradável para beber um copo. Foi assim que encontrei a simpática Champanheria do Largo, um restaurante/bar de petiscos, com vários champanhes, espumantes e cocktails, e, melhor de tudo, aberto das 12h às 24h.

     

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    Perante a raridade, desloquei-me apressadamente até ao Largo da Anunciada, onde encontrei uma esplanada com um jovem a falar ao telemóvel com ar de quem ia entrar num ringue de boxe para enfrentar o Mike Tyson. Como a sala estava totalmente vazia, dirigi-me ao balcão onde havia duas pilhas de ementas. Mal fiz tenção de pegar numa das ementas, o jovem dirigiu-se a mim com o mesmo ar zangado que impunha lá fora. 

    – Boa tarde.

    – Boa tarde, vinha só beber qualquer coisa.

    – Mas só beber! A cozinha está fechada.

    Ainda pensei fugir rapidamente enquanto ainda estava vivo, mas este espírito de missão blogosférico (atenção, não tem nada a ver com o esférico do Gabriel Alves) levou-me a superar o medo:

    – Posso sentar-me aqui dentro ou para beber um copo é só lá fora?

    – Não. Pode. Mas para petiscar não. A cozinha está fechada.

    – Ok. [Já tinha ouvido]

    – Pode escolher a mesa.

    Sentei-me perante a simpatia colossal de quem tinha visto o seu descanso vespertino interrompido por um inconveniente cliente.

    – Esta champirinha leva rum e cachaça…

    – …sim. É um preparado que já temos pronto.

    – …e não é possível ser só com rum?

    – Não.

    [A amabilidade não tem limites…]

    – Ok. Então, se calhar, vou querer uma flute de espumante da champanheria [casta Moscatel, ligeiramente frutado, mas agradável]

    – Tem alguns frutos secos para acompanhar?

    – Não.

    – Ok, obrigado.

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    Não sei o que é mais notável: um ser humano capaz de aguentar tanto tempo sem mexer um único músculo facial, ou um bar que não tem frutos secos para acompanhar as bebidas. 

    O espaço está engraçado. Com uma música ambiente simpática e calma, poderia ser um óptimo sítio para beber um copo de fim de tarde antes de nos atirarmos de cabeça para o fim-de-semana. O chão tem azulejos coloridos com vários padrões desencontrados, que dão vida ao ambiente; as mesas de madeira clara têm uns individuais divertidos a imitar os naprons de casa da família Marques Vila, na novela Vila Faia; as paredes estão decoradas com relógios grandes e variados; e as cadeiras de madeira e palhinha são seguramente mais agradáveis do que o empregado (algumas têm apoios para os braços, outros são sofás…).

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    O problema é que o estar aberto das 12h à meia-noite deve ser alguma penitência imposta para cumprir uma promessa divina. Além de às 18h estar completa, absoluta e totalmente vazio, estava já com todas as mesas do interior postas com pratos, talheres e guardanapos de forma a amedrontar qualquer pessoa que ousasse pensar em beber um copo de fim de tarde aqui.

     

    Um bom copo de fim de tarde para si onde quer que esteja,

    Ele

     

    fotos: champanheria do largo

     

    12 comentários em “um copo ao fim da tarde e um empregado que não sorri

    1. não há pachorra de facto… mas eu também começo a achar que é um género, devem haver cursos de servir à mesa que o exigem, ser sério mas com um ligeiro ar de frete.

    2. Não vejo onde está a admiração. Deve ser porque vc tem “bom ar” que ficou admirado e não está habituado já eu, que tenho “mau ar” (alternativo), sou tratado assim em 97% dos estabelecimentos comerciais (??) nacionais e por isso só entro no comércio tradicional se não houver uma grande superfície perto. Mas a mim é só uma vez pois nunca, mas nunca mesmo, boto lá os pés outra vez. Ah e peço sempre o nº de contribuinte. Até desenvolvi um tom de voz para o efeito que é equivalente ao atendimento. Tento até que o ultrapasse para não levar desafôro para casa.

    3. Não há paciência! A mim já me aconteceu (várias vezes) essa antipatia em lojas de roupa. Mas da última vez “saltou-me a tampa” e pedi para falar com a gerente de loja… rapidamente a situação se inverteu e as “mordomias” eram mais que muitas – um exagero, claro.

    4. Acho mesmo que perante tamanha amabilidade tinha dado meia-volta e tinha ido embora. Não suporto empregados que acham que nos estão a fazer um favor ao atenderem os clientes!

    5. Ainda ontem eu e o meu marido falávamos sobre a simpatia, horários e disponibilidades dos empregados de Tanger comparando-os a Portugal. Aqui os restaurantes estão abertos até tardíssimo e mesmo que entremos tarde e que não tenha mais nenhum cliente somos servidos com toda a simpatia. Bem, não digo que não haja o contraio, mas dos que ele conhece e que eu conheço vejo uma diferença inorme.
      É horrível chegarmos a um estabelecimento , seja ele restaurante, bar ou loja e apanhar um empregado que nos faz sentir que nos está a fazer um grande favor.
      Nestes casos não volto.
      Bom fim de semana

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