Hoje é terça-feira e temos duas opções para ocuparmos o nosso final de dia: ou aproveitamos o pôr-do-sol numa esplanada à frente do rio ou vamos ver Manuel Alegre lançar o seu último livro de poesia. Eu sei, é uma escolha difícil. E que me deixa de coração partido. Mas, depois de muito reflectir, acho que vou ter de optar pela esplanada. E com muita pena de perder esse zimbório da intelectualidade portuguesa que é a poesia de Manuel Alegre, gostava de partilhar com Vossas Excelências a minha última experiência esplanadeira.
O ambiente
O À Margem é provavelmente uma das esplanadas mais bonitas de Lisboa. E se isso não fosse suficiente, tem uma das melhores localizações de Lisboa.
Totalmente em branco e vidro, o projecto, da autoria dos arquitectos Falcão de Campos e José Ricardo Vaz, é moderno e absolutamente minimalista. A fachada que dá para o rio é totalmente em vidro e, nos dias de calor, as janelas recolhem completamente, deixando o restaurante aberto para a frente, sem nada a separá-lo da paisagem. Na sala, só existe um balcão. Tudo o resto – cozinha e casas-de-banho – está escondido debaixo do chão. Do lado de fora, há uma magnífica esplanada com mesas e cadeiras brancas em cima do calçadão e a cinco passos do rio Tejo. Mas o melhor detalhe da esplanada é o piso desnivelado, que lhe permite ver o rio do interior como se estivesse sentado na plateia do Coliseu.
Nos dias mais frios, tem à sua disposição umas mantas que pode colocar nas costas. Nos dias mais quentes, há um toldo – também branco – que corre por cima das mesas do exterior.
A ementa
Aqui não há muita escolha. Durante a tarde ou durante a noite, pode ir beber um copo, mas só tem dois gins na ementa. À hora do almoço, tem tostas, sanduíches e saladas.
Mas vamos aos preliminares. Se não pedir, não lhe trazem o couvert (€2). E, mesmo quando pede, podiam não trazer porque o resultado não é brilhante: um cesto de pão seco por estar cortado, ao ar livre, há muito tempo e dois pacotes de manteiga desenxabida – num espaço destes, esperava-se um pouquinho mais.
Começámos por (tentar) partilhar um carpaccio de vitela com rúcula, parmesão e vinagrete (€14). O carpaccio propriamente dito era bom, mas tinha mais rúcula do que parmesão o que entristeceu ligeiramente a minha querida Mulher Mistério. Além disso, também tinha pouco vinagrete, por isso, na realidade, o prato estava ligeiramente seco. Para remediar a situação, Ela achou por bem temperar com azeite e vinagre balsâmico por cima do vinagrete. Resultado: comeu o carpaccio sozinha, claro.
A coisa melhora ligeiramente com as saladas. Eu pedi uma salada de rosbife (€14,50) que é servida com espinafres, agrião, manga (uma fatia ainda com casca? pode ser muito bonito, mas eu preferia já descascada, obrigado), papaia, croutons e uns deliciosos fios de cebola crocante. A carne do rosbife vinha fininha, mas podia estar bastante mais suculenta do que estava. A acompanhar, trouxeram um bom molho feito de mostarda e laranja que ajudou a equilibrar a secura da carne.
Ela escolheu uma salada de salmão fumado (€13,70) que traz o salmão enrolado à volta de um delicioso queijo ricotta: a ligação resulta perfeitamente. Ao lado vem ainda rúcula, tomate cherry, papaia, croutons (há aqui uma ligeira obsessão com croutons), alcaparras e alface iceberg. O molho é de citrinos, gengibre e endro – óptimo.
Perante esta minha dieta súbita – e espero que bastante curta – não tive margem negocial para uma sobremesa. Limitei-me a pedir um descafeínado (€2,20) que consegue ser mais caro do que o cesto de pão com a manteiga.
O serviço
Desde o telefonema que fiz a marcar mesa (convém sempre marcar se quiser sentar-se na parte de fora) até ao atendimento no restaurante, nunca falhou, mas também nunca foi especialmente simpático. Trouxeram rapidamente os pedidos, deram-nos hipótese de escolher a mesa quando nos sentámos, mas acho que nunca sorriram. Por mim, não me queixo mas há quem goste de um sorrisinho de vez em quando.
As crianças
Não tem menu infantil, o que quer dizer que é bom estar disponível para pagar mais de €6 por uma sanduíche ou cerca de €13 por uma salada. É caro? É. Mas são raros os restaurantes que têm uma vista assim. Se achar demais, esqueça o almoço e vá ao À Margem beber um copo de fim de tarde. Se quiser, leve o livro do Manuel Alegre para passar o tempo e conhecer o último grito da literatura contemporânea, também conhecido como a troika poética: “Entre nós e amanhã há uma taxa de juro / Uma empresa de rating Bruxelas Berlim / Entre hoje e o futuro há outra vez um muro / Resgate é a palavra que nos diz / Tens de explodir o não dentro do sim”.
O bom
A arquitectura e a decoração
O mau
O couvert e os preços
O óptimo
A vista
Uma boa esplanada para si onde quer que o Manuel Alegre esteja,
Ele
fotos: à margem; falcão de campos arquitecto; casal mistério
Adoro o À Margem, um dos meus spots preferidos para Esplanar!
Que fantástico lugar, que calma que transmite, amei! 🙂
Que lugar tão acolhedor, transmite tanta paz, adorei! 🙂
O sítio é realmente bonito e a esplanada convidativa. Apesar dos preços não serem apelativos deixei de lá ir pelo péssimo atendimento. Não sou turista nem ostento riqueza mas ser tratada como se de um marginal se tratasse não admito. Troquei em 3 tempos pela esplanada do Altis ali ao lado, o Bar 38°41'. Os preços são semelhantes, os pregados acolhedores e a vista para o Tejo deslumbrante!
L*
Gosto muito da decoração branca…
Bom espaço. Bem decorado. Péssima ementa. Já para não falar dos preços…
Adoro a esplanada. Por acaso já me cruzei com o Manuel Alegre, lá.
A sério??? 🙂 Grande coincidência! Da próxima vez tem de tirar uma foto para publicarmos 😉
Ele
Almocei lá há dias e o sítio é realmente espectacular, mas o serviço foi muitíssimo demorado e pouco simpático, além de ser caro, mas vou voltar…
Um espaço simplesmente agradável …
Adoro os chás da Kushbu, num formato em cubinhos…