A ideia é simples e prática: em vez de deitar fora a comida que lhe sobrou em casa, deixa-a num frigorífico instalado no meio da rua. Quem precisa só tem de abrir a porta e servir-se. O projecto foi lançado no passado dia 30 de Abril pela Associação de Voluntários de Galdakao, um pequeno município perto de Bilbao, no País Basco, Espanha, e está a tornar-se um sucesso: recebe centenas de quilos de comida por mês e nada sobra.
A grande diferença entre o frigorífico solidário e outros projectos de ajuda alimentar é a facilidade de todo o processo e o anonimato com que a recolha pode ser feita. Aqui não há intermediários nem redes de distribuição. Em vez de levar o saco do lixo até ao contentor, só tem de levar a comida até ao frigorífico. Por questões de segurança alimentar, só não pode colocar ovos, carne ou peixe crus. Tudo o resto é permitido. A comida feita em casa deve ter apenas uma etiqueta com a data em que foi confeccionada.
Ao longo do dia, os voluntários da associação passam pelo frigorífico para retirar os alimentos que já tenham passado o prazo de validade. Segundo o site de notícias espanhol Deia, nas primeiras cinco semanas não tiveram de retirar nada lá de dentro: toda a comida colocada foi aproveitada. E o Guardian adianta que, ao fim de sete semanas, tinham sido recolhidos entre 200 e 300 quilos de comida numa população com apenas 29 mil habitantes.
O promotor da iniciativa, o espanhol Álvaro Saiz, ficou espantado com o civismo com que todo o processo tem decorrido. Diz ao Deia que não houve qualquer acto de vandalismo e que a maioria das pessoas que recolhe a comida tem poucos recursos. De qualquer forma, não há restrições a tirar comida: “Qualquer pessoa pode usar o frigorífico, porque o primeiro objectivo é aproveitar os alimentos que, de outra forma, acabariam no lixo”. Há pessoas que vêm de outros municípios buscar comida, mas também há gente que vai a passear na rua e abre a porta para tirar um iogurte ou comer uma tapa.
O projecto exigiu um investimento de menos de cinco mil euros, suportados pela autarquia, para pagar o electrodoméstico, electricidade, manutenção e um estudo de segurança alimentar que permitisse estabelecer as regras de funcionamento. Ao fim de pouco mais de três meses de funcionamento, o frigorífico enche-se e esvazia-se três vezes por dia. A Associação de Voluntários de Gadalkao já colocou um segundo frigorífico na rua e foi contactada por associações italianas, francesas e americanas para replicar a ideia por todo o mundo.
E se fizéssemos isto em Portugal?
Um abraço solidário para si onde quer que esteja,
Ele
fotos: deia; huffington post