a melhor maneira de acabar com a polémica sobre os ingleses e a comida portuguesa: a verdadeira receita de fish and chips

    Devo confessar que já não tenho mais argumentos para explicar a esse mago da culinária internacional que dá pelo nome de Giles Coren que um robalo ao sal não é um prato demasiado salgado. Eu sei que temos de usar três quilos de sal grosso e que isso pode impressionar qualquer inglês mais sensível, mas acho que não vale a pena tentar chegar ao cerebelo de alguém que baliza a sua avaliação gastronómica pelo cruel homicídio de uma lagartixa testemunhado em Portugal durante a infância.

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    Posto isto, cheguei à conclusão de que a melhor maneira de convencer o senhor Coren de que a cozinha britânica é ligeiramente mais desinteressante do que a portuguesa (apesar dessa dádiva dos deuses que receberam e que dá pelo nome de Jamie Oliver), depois da crítica demolidora que fez, não será mostrar-lhe o sabor único de uns camarões de Espinho ou de umas bruxas de Cascais, mas antes recordá-lo dessa delícia anglófila que dá pelo nome de fish and chips.

    Sempre que se convencer genuinamente da qualidade gastronómica inglesa, lembre-se desta receita, aqui na versão da revista Take Stock. Ou então coma aquele delicioso feijão com molho de tomate ao pequeno-almoço, que tem o mesmo efeito. Confesse lá, depois de ver isto, qualquer pessoa sonha com uma cobra guizada na China, não é verdade?

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    Ingredientes

    • 125 g de farinha, mais 2 colheres de sopa para salpicar por cima
    • 1/2 colher de chá de sal
    • 1/2 colher de chá de fermento
    • 1/2 colher de chá de açafrão
    • 200 ml de cerveja
    • 1,3 kg de batatas
    • 700 g de filetes de bacalhau sem pele
    • 2 litros de óleo de girassol
    • Limão em quartos para servir
    • Flor de sal e pimenta preta moída no momento

     

    Não vou tentar perceber a beleza de um filete de bacalhau. Vou limitar-me a reproduzir essa icónica receita da gastronomia internacional que um dia juntou a batata frita com o peixe embebido em cerveja. E apelar a todos os seres minimamente racionais deste planeta com dúvidas existenciais para colocarem o fish and chips ao lado dos filetes de peixe galo com arroz de berbigão, ou com açorda de ovas, ou com arroz de tomate – e verem a diferença.

    Comece por juntar a farinha, o fermento, o sal e o açafrão numa taça. Faça uma cova no centro e despeje metade da cerveja para lá (cerveja e peixe: mais uma bela invenção!). Mexa tudo enquanto vai despejando o resto da cerveja até ficar com uma pasta viscosa e peganhenta algures entre a argamassa e o bolo alimentar. Se acha que isto tem mau aspecto, então espere pelo próximo passo: coloque a argamassa no frigorífico durante uma hora até ficar fria e mais pastosa ainda.

    Enquanto esta substância pegajosa vai fermentando, corte as batatas em palitos grossos, lave-as e deixe-as mergulhadas em água fria. Tempere os filetes de bacalhau dos dois lados e salpique-os com as duas colheres de farinha. Frite as batatas até ficarem moles e douradas (não sei de onde vem este fascínio britânico pelas batatas fritas moles). E depois mergulhe os filetes na pastosa argamassa, fritando-os durante quatro minutos na piscina de óleo gorduroso.

    O resultado é a cozinha britânica ao seu melhor nível. Então se for acompanhado por um copinho de Bovril, é o melhor retrato da haute cuisine.

     

    Um abraço para o Giles Coren onde quer que a sua lagartixa esteja,

    Ele

     

    receita: take stock; fotos: take stock, the times

     

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