Tenho de confessar: levar-me a entrar num restaurante que se chama Paradigma é quase tão difícil como fazer-me correr a ultramaratona Oh Meu Deus, na Covilhã. O problema não está nos 160 quilómetros, está no nome. Gosto de nomes simples e reveladores. Foi por isso que não chamei Acheropita a nenhuma filha nem Nacrotério a nenhum filho. Preferi chamar-lhes simplesmente… bem, é melhor ficar por aqui.
Ultrapassado o problema do nome, entrei no restaurante em Cascais mais ou menos como o Rui Reininho entrou no The Voice no último domingo: abananado e contrariado. Mas, ao contrário do Reininho, só precisei de uns minutos para me recompor.
O ambiente
Infelizmente íamos em família. E digo infelizmente não por estar com qualquer tipo de overdose infantil. Digo porque as melhores mesas do restaurante são mesas para dois. Ficam na varanda, protegidas por uns enormes arcos que transformam cada mesa num pequeno spot privado. E além disso é um spot ao ar livre. E além disso é um spot com uma vista deslumbrante sobre a praia, as casas senhoriais e a baía de Cascais quase até Lisboa. É, sem qualquer hesitação ou margem de dúvidas, uma das melhores mesas da Estremadura portuguesa.
Foi no momento em que vi estas mesas que apaguei da memória o nome do restaurante e o logótipo estilo Nelita Noivas que está gravado num vidro à entrada.
A decoração é ligeiramente sóbria demais para o meu humilde gosto. No entanto, há outras coisas boas, além das mesas na varanda. O restaurante tem dois andares: em baixo está um bar, com uma simpática lista de gins e cocktails; em cima está o restaurante, com a tal vista para a baía. No meio, há uma mesa de mistura que, aos fins-de-semana, é comandada por um DJ convidado. Por isso, prepare-se: o Paradigma (aiiiiiiii, que até custa a dizer o nome!) não é só um restaurante.
O bar
Tem uma parte com mesas e cadeiras e outra com bancos altos. Mais uma vez, a decoração não é muito o meu género, mas as janelas gigantes que abrem para a baía são suficientes para me fazer abstrair do resto. As cores e o espaço estão óptimos. Mas é tudo um bocadinho moderno demais (umas molduras sem quadros?!) e artificial demais (uma simulação de lareira a gás?!), o que torna o espaço pouco acolhedor. Mas esse é o único defeito do Paradigma. De resto, o bar é fantástico e serve óptimos cocktails. E mais: tem 35% de desconto em todos os cocktails todos os dias entre as 18h e as 20h e, às terças-feiras, entre as 18h e as 2h da manhã.
É claro que começámos pelo andar de baixo, onde eu bebi um gin tónico e Ela uma caipiroska. Reconheço que eu fiquei melhor do que a minha querida Mulher Mistério – a caipiroska estava forte demais. Ainda tentou juntar-lhe água, mas não resultou.
A ementa
As entradas
No restaurante, a fasquia subiu como a Apolo 13 a caminho da Lua. Pedimos algumas entradas e dividimos por todos. E, meus senhores, preparem o babete porque a comida aqui é de babar. Já estou aqui com o dicionário de sinónimos para conseguir descrever bem aquilo que provámos. Primeiro, um divinal tártaro de salmão com puré de manjericão e tapenade de azeitona. O que é que é aquela mistura entre o frutado do puré de manjericão e o salgado da tapenade de azeitona, meu Deus?! Perfeito.
Depois, o ambiente arrefeceu um pouco com uns bons tacos de atum braseado com salteado de legumes. Nesta fase e depois do tártaro, uns tacos de atum simplesmente bons não eram suficientes. Discretamente, tirei bastante mais do prato do tártaro do que do prato do atum. Acho que, até hoje, Ela ainda não percebeu.
Os pratos principais
Aqui fizemos o pleno. Ela optou por um bacalhau delicioso e eu pedi a garoupa escalfada em manteiga de lima com puré de ervilhas e cubos de morcela de arroz. Senhoras e senhores, apresento-lhes um prato maravilhoso. Muitíssimo bem cozinhada, mesmo no ponto, a garoupa separa-se em finas lascas tão brancas como a camisola do homem da Olá. O puré de ervilhas é suave e encantador (e olhem que eu não sou grande fã de ervilhas) e os cubos de morcela de arroz… bem… vale mesmo a pena dizer mais alguma coisa?
As sobremesas
E, quando pensámos que já nada mais era possível, eis que nos chegam à mesa, pedidos pela equipa de futsal uns mini-cornetos de Nutella com Peta Zetas. Não há descrição para a simplicidade e a surpresa deste prato. Só precisa de juntar um cone estaladiço, Nutella e Peta Zetas. Ainda tenho de experimentar fazer isto em casa…
O serviço
Impecável. Como bem notou a minha querida Mulher Mistério, os empregados são novos e “nada de se deitar fora”. Simpáticos e sempre atentos, cumpriram a sua missão com distinção.
Por tudo isto, se quer uma sugestão para um destes dias de calor que ainda se encontram por aí, faça o que lhe digo: meta-se no carro, percorra os mais de vinte dolorosos quilómetros de auto-estrada até Cascais e sente-se numa das mesas da varanda em cima da baía, ainda com a luz de fim de tarde, enquanto bebe um gin tónico. Depois jante e acabe com um corneto de Nutella e Peta Zetas. Encontramo-nos lá esta quinta-feira?
O bom
A comida
O mau
O nome
O óptimo
A vista
Um bom paradigma para si, onde quer que esteja,
Ele
Aposto que com uma ementa desse calibre deu vontade de deglutir tudo de uma só vez.
Caso consiga enveredar esta sobremesa, – isso sim, deixou-me a salivar por completo – partilhe esse mistério connosco. Pode ser? 🙂
Andreia,
https://pontofinalparagrafos.blogspot.pt
Vou tentar… Mas ainda não sei muito bem como é que vou resolver o problema do cone estaladiço