a meta dos leitões e a visita de estudo do cds

     

    Em relação a esta polémica entre o CDS e a Meta dos Leitões, só não percebo um ligeiríssimo detalhe: como é que os donos do restaurante, cheio a um domingo, se aperceberam de que um grupo de pessoas discretas, amáveis e civilizadas, que seguramente falam com o tom de voz da Mafalda Veiga e agem com a veludez de uma bailarina do Bolshoi, eram militantes do CDS? Não quero crer que, num momento de maior excitação, os militantes tenham entrado no restaurante ainda com os cachecóis do CDS ao pescoço, as bandeiras debaixo do braço e o autocolante com a cara do Paulo Portas junto ao coração. Recuso-me a acreditar que tenham falado alto, gritado urros de vitória ou cantado o hino da Dina. Não é que seja crime, mas no mínimo é desconfortável para os outros clientes, sejam eles Portistas ou Leninistas. Nós que já lá estivemos com os nossos quatro filhos, cinco primos e 23 amigos nunca fomos identificados como Casal Mistério, então porque é que os 15 seguidores do culto a Paulo Portas se fizeram notar? Passada a perplexidade inicial, importa ir ao que interessa: vale a pena ir à Meta dos Leitões? Resposta difícil: primeiro ligue para lá a saber se o João Almeida ou qualquer outro pós-adolescente mergulhado em acne se encontra no raio de 100 quilómetros mais próximo. Se lhe garantirem que não, meta-se rapidamente no carro. E, de preferência, não tome o pequeno-almoço.

      

    A ementa

    Aqui é um sítio onde não se deve perder tempo com couverts ou entradas. É um restaurante de leitão estaladiço, batatas fritas finíssimas e salada saborosa. E é para isso que deve reservar o estômago. Sobretudo se não for obrigado a ouvir as histórias dos ladrões do rendimento mínimo na mesa ao lado.

     

    O leitão

    O leitão é suculento por dentro e estaladiço por fora. Pode – e deve – pedir essencialmente costelas e deliciar-se com o molho – picante, mas agradável.

      

    O vinho

    Não hesite. É o Casa Sarmentinho frisante, um Bairrada equilibrado, gaseificado e muito leve. É produzido pelos donos do restaurante e merece todos os elogios que lhe possam ser feitos.

     

    As batatas

    As batatas fritas estão naquele ponto em que parecem ter sido todas cuidadosamente cortadas à mão até atingirem a espessura de uma folha de papel de 90 gramas. Não têm óleo a mais nem sal a menos. São simplesmente perfeitas.

      

    A salada

    Este é o ponto em que se nota a preocupação de quem está na cozinha. A salada é normalmente o alimento desprezado pelos cozinheiros – o acompanhamento que leva umas folhas de rúcula para impressionar e um tomate mal cortado para encher. Aqui não. Aqui há alface boa e cebola picante, divinalmente temperada com azeite e vinagre à medida. São produtos da lavoura, meus senhores! Deveriam ser o orgulho discreto dos centristas, não o local onde se prolonga a festa de entronização do líder sem respeito pelos alimentos.

     

    O ambiente

    Confesso que poderia ser melhor – e não é só por causa da infeliz visita de estudo dos rapazes do CDS. Ao fim-de-semana, já lá encontrei colegas de trabalho que não queremos ver, amigos que não queremos cumprimentar ou conhecidos que preferimos esquecer. É quase como uma estação de serviço dos patos bravos.

      

    O serviço

    Com uma média de idades que deve rondar os 67 anos, são empregados que têm de ser tratados com cuidado. Se quer ser bem recebido, peça desculpa por estar a chamar, faça um elogio à comida e ouça aquilo de que eles se têm a queixar. Este é um sítio quase familiar, não é definitivamente para festas partidárias.

     

    O melhor –  O leitão, as batatas, a salada, o vinho, tudo

     

    O razoável – As sobremesas

     

    O que é para esquecer – Os amigos do João Almeida

      

    Um abraço para si, especialmente se estiver na Mealhada,

    Ele

    2 comentários em “a meta dos leitões e a visita de estudo do cds

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