Foi elogiado pela CNN pela sua postura durante o estado de emergência por causa do novo coronavírus. A cadeia de notícias norte-americana considerou mesmo que o Craveiral Farmhouse optou por uma “missão nobre”, protagonizando uma “história fascinante”.
E a verdade é que, com quatro famílias alojadas quando começou o isolamento, Pedro Franca Pinto, o proprietário do Craveiral Farmhouse, não recorreu a lay off e manteve os postos de trabalhos dos seus 22 funcionários. Além disso, disponibilizou as suas 38 casas para “cuidados profiláticos, quarentenas obrigatórias ou hospitalização domiciliária”.
O hotel
Este turismo rural situado em São Teotónio, perto da Zambujeira do Mar, tornou-se assim um exemplo de integridade e humanismo em tempos difíceis como estes. Confesso que não me surpreendeu.
Quando passámos um fim de semana no Craveiral Farmhouse, meses antes da pandemia, percebemos logo que aqui reina um espírito familiar e de entreajuda fora do comum. A começar pela pizzaria pop up, com produção artesanal em forno a lenha, que abriu no ano passado no hotel: em parceria com o restaurante In Bocca Al Lupo, o Craveiral contratou três funcionários com défice cognitivo, apoiados pela associação VilacomVida. Por cada pizza vendida, €1 é doado à associação. Ainda por cima as pizzas são divinais.
O Craveiral Farmhouse é muito mais do que um turismo rural, não só pela sua dimensão como pela variedade de infraestruturas e atividades à disposição. Os 9 hectares da propriedade, em plena Costa Alentejana, albergam quatro núcleos de casas com várias tipologias, que vão desde os estúdios às casas com 2 quartos.
Tem ainda duas piscinas exteriores e uma interior, um jacuzzi, um ótimo restaurante com o espírito Farm to Table que só serve produtos da horta e comida orgânica, um Spa, uma quinta com animais, um pomar, uma horta biológica e um centro de interpretação da Natureza.
Toda a decoração é moderna, arejada, com linhas minimalistas e com muito bom gosto. Nós adorámos o hotel cuja arquitetura está muitíssimo bem integrada na Natureza. E, sendo relativamente grande para um turismo rural, com 38 quartos, consegue-se ter privacidade, a não ser que queira passar o dia na piscina comum perto da receção. Aí, sim, encontra uma maior concentração de hóspedes.
O nosso quarto
Ficámos num simpático estúdio com uma kitchenette. A decoração é, tal como no resto do hotel, minimalista e contemporânea, onde predominam as madeiras claras, a cortiça, o branco e o microcimento. Todas as casas têm um pequeno terraço privado com cadeiras e uma mesa. A cama era boa e confortável e o quarto é espaçoso.
A kitchenette está escondida por trás da parede que faz de cabeceira da cama. É pequena, mas tem tudo o que precisa para fazer refeições fáceis e rápidas. Nós não a usámos. Preferimos passar os dois dias na praia e, à noite, jantámos no restaurante.
A casa de banho está bem escondida a seguir à cozinha. Prática, minimalista, em tons de cinzento e madeira clara, tem o estritamente necessário. Tem duche, não tem banheira mas o nosso duche tinha um pequeno grande problema: a água fria e a água quente não se entendiam. Pior: desconfio que estavam mesmo de costas voltadas, de relações cortadas. Quando tentávamos que se juntassem para uma temperatura mais agradável, recusavam-se terminantemente. Estavam ali numa guerra suja e não se misturavam. Pareciam as castas na Índia. Por isso, durante todo o fim de semana, tomámos banho ou de água fria ou de água a escaldar.
A casa de banho tinha ainda outra surpresa: o sabonete que também era champô era é uma espécie de cone sólido. É bio, dizem eles, não lava, digo eu, que adoro um bom gel de banho.
Outro detalhe que me chamou a atenção foi a falta de espaço para arrumação. O armário, embutido na parede da entrada do quarto, não tinha nem prateleiras nem gavetas. Por isso, acabámos por deixar a roupa dentro das malas. Mas isso, sinceramente, são detalhes sem muita importância.
Pior é ouvir-se barulho de um quarto para o outro. Na casa ao lado da nossa, estava um bebé cujo pai parecia que me embalava a mim, tão próxima estava eu da cantoria. O que vale é que o Dorme Bebé em loop me embalou numa noite de sono profundo. Só acordei às 9h30 da manhã, não com o vizinho a cantar, mas com as empregadas a baterem à porta para arrumarem o quarto. Como diria o Herman na pele de Diáconos Remédios, “não havia necessidade”. Se calhar, a solução passa por usarem aqueles avisos de “Não incomodar” pendurados na porta ou outra alternativa mais criativa.
O pequeno-almoço
O pequeno-almoço é servido entre as 8h30 e as 11h na sala principal do hotel e no maravilhoso alpendre junto à piscina. A sala tem na parede ao fundo um painel gigante em macramé muito giro feito pela Oficina 166, da talentosa Diana Cunha, que costuma fazer workshops no Craveiral.
Quanto ao pequeno-almoço é bom e tem muitas opções saudáveis. Servido em buffet, tem alguma variedade de fruta. Mas, à hora que fomos, já só sobrava melão. Tem pudim de chia, bolos vegan e vários leites vegetais, queijos e frutos secos, sumos naturais, bom pão alentejano e ovos e panquecas, ambos ótimos, mas a pedido.
O restaurante
Já ao fim da tarde, depois de um dia de praia de sonho, pedimos uma tábua de queijos enquanto esperávamos pela hora do jantar junto à piscina. Eram 20h e só tínhamos mesa marcada para as 21h30. Para nossa desilusão a funcionária explicou-nos muito delicadamente que só servem a tábua até às 19h00 porque faz parte do menu de snacks do almoço. Foi pena porque dava meio quilo de barriga por um queijinho, mas paciência. O serviço no Craveiral foi sempre de uma simpatia de tal forma desconcertante que nem tivemos coragem de protestar.
Optámos por jantar mais cedo. Estava uma noite de sonho no alpendre com as lareiras exteriores acesas. E jantámos maravilhosamente: dividimos um robalo grelhado e uma Pizza Pesto. Ambos absolutamente divinais. Partilhámos também duas sobremesas: uma mousse de chocolate com frutos secos e este pudim inacreditavelmente pornográfico de bom que era.
O Craveiral Farmhouse é seguramente um sítio delicioso para ir passar uns dias, em família e com amigos, não só por causa do bom gosto da decoração, da simpatia do serviço, da ótima piscina e do excelente restaurante, mas sobretudo pelo exemplo de integridade, sustentabilidade e humanidade que o projeto revela em cada detalhe. Se puder, aproveite os feriados da próxima semana e passe uns dias neste paraíso perto da Zambujeira do Mar.
O bom
A decoração dos quartos e do hotel
O mau
A pouca insonorização das suítes e a falta de espaço para arrumar a roupa
O ótimo
O restaurante, o alpendre, as lareiras exteriores e a simpatia do serviço
Bons feriados,
Ela
fotos: casal mistério e d.r.
Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial.