A noite prometia. Quando comprámos em agosto do ano passado os bilhetes para os Coldplay em Coimbra, tentámos logo reservar um hotel. Claro que já estava praticamente tudo cheio ou os preços dos quartos que sobravam eram pornográficos, sobretudo, para quem já tinha comprado os bilhetes para o concerto, que não eram propriamente baratos. Foi nessa altura que o meu querido Marido Mistério me propôs com um olhar maroto: “E se fossemos para um motel?”
Respondi, logo:
– Olha, porque não? Desde que seja barato e limpinho…
O que se seguiu foi um telefonema hilariante. O meu querido Marido Mistério aproveitou a deixa, excitadíssimo com a ideia, e descobriu logo um motel, a cerca de 10 km de Coimbra com o sugestivo nome “Fonte dos Amores”.
– Estou? Queria reservar uma suíte para a noite X. (pausa) Com jacuzzi? Pode ser. Mas diga-me uma coisa: é limpinha? (pausa) Não, a água do jacuzzi. Vocês desinfetam? (pausa) E o quarto todo? Também desinfetam?
Por esta altura, já estava eu a rebolar a rir, porque o meu querido Marido Mistério é muito mais enojadinho do que eu. Por mim, já estava por tudo, desde que não tivesse que voltar para Lisboa, depois do concerto.
Resumindo, conseguimos uma suíte com jacuzzi por 135 euros, o que não nos pareceu nada mau, para a especulação que tomou conta de Coimbra por estes dias.
O hotel
Depois do concerto que valeu todo o dinheiro gasto nos bilhetes, saímos ainda a cantar o “Paradise” rumo ao nosso ninho de amor à beira da estrada.
O Waze levou-nos a um edifício de betão muito pouco romântico com umas letras garrafais a dizer “Fonte dos Amores”. Seguimos a seta que dizia “Entrada” até a uma cancela onde nos identificámos e pagámos mais 32 euros (já tínhamos recebido um email a anunciar que atualizaram os preços para este ano e que, afinal, seriam mais 30 euros… e 2 euros pela taxa municipal recém-criada pela Câmara Municipal de Coimbra).
Fiquei parva com a eficiência tecnológica do check in, apesar de por detrás da máquina estar um postigo de onde, de repente, saiu uma mão para confirmar o cartão de cidadão do meu querido Marido Mistério.
A suíte
Check in feito, dirigimo-nos à nossa garagem cuja porta se fechou imediatamente mal estacionámos. Não vimos vivalma durante as 12 horas que aqui pernoitámos. Saímos do carro diretamente para umas escadas que davam acesso à nossa suíte. Mal abrimos a porta demos de caras com um jacuzzi amarelo de gosto duvidoso e em pleno funcionamento, a chamar por nós, situado em cima de uma escadaria imponente, qual altar. Em frente ao jacuzzi, havia um duche (enorme, onde cabiam várias pessoas) dourado. Literalmente. As paredes do duche eram douradas.
Passámos uma porta de vidro e demos de caras com uma cama redonda e gigante. Perguntei logo ao meu querido Marido Mistério se Ele esperava mais alguém porque aquele leito deve albergar, no mínimo, normalmente 4 a 5 pessoas. Piadas à parte, a cama era mesmo grande.
Rodeada de espelhos por todo o lado (menos no teto), tinha uma faixa com o nome do motel, dois roupões e pétalas de rosa espalhadas em cima da colcha.
O varão, o jacuzzi e a cadeira erótica
Ao fundo da cama, um varão para pole dancing (que obviamente ignorei estoicamente com receio de que o meu querido esposo tivesse pesadelos ou eu acabasse nas urgências dos Hospitais Universitários de Coimbra) e uma cadeira cuja utilidade ainda não conseguimos descobrir. Eu sei que somos um casal de meia-idade com alguns filhos e eventualmente pouco experientes neste tipo de materiais, mas palavra de honra que a cadeira deu origem a um intenso debate. Basicamente tem a forma de um escorrega, por isso, não nos pareceu nada cómoda. Ainda tentei ir ver um tutorial no YouTube, mas só encontrei um vídeo enorme de uma brasileira cuja cadeira era bem diferente daquela e desistimos, porque, por esta altura, já sonhávamos com uns bons lençóis.
Antes, ainda tomámos um banho rápido no jacuzzi que, para felicidade do meu querido Marido Mistério, tresandava a lixívia. Eu ia-me espatifando na escadaria, que era um autêntico perigo. Em vez de desfilar toda sensualona, agarrei-me ao corrimão (bendito! Está lá por alguma razão) com todas as mãos que tinha, e desci qual idosa de 90 anos.
A noite
Claro que, depois de termos palmado Coimbra a pé de fio a pavio, estávamos mortos e desmaiámos na famosa cama redonda, para descobrirmos que os lençóis eram curtos demais e que iríamos passar a noite com os pés de fora. Além disso, a cama, apesar de ser enorme, faz uma cova no meio (será do uso excessivo?) e eu estava sempre a cair para cima d´Ele. Uma hora depois, acordei com o meu querido Marido Mistério a rogar pragas ao jacuzzi que, do nada, começava a funcionar sozinho. Levantou-se várias vezes para tentar resolver o assunto, mas em vão.
A verdade é que não dormimos grande coisa, mas presumo que o objetivo destes motéis não seja dormir… Acordámos cedíssimo para descobrir que até a única janela que havia no quarto tinha um vidro fosco, ou seja, entrava luz, mas ninguém nos conseguia ver. Que maravilha. Até a iluminação da casa de banho (que era enorme) era tão reduzida que o meu querido Marido Mistério não conseguiu fazer a barba (mas também quem é que faz a barba num motel?)
Será que a ausência de luz é para não haver desilusões no dia seguinte? Normalmente, as pessoas à noite e depois de uns copos parecem sempre mais interessantes…
Tomámos um duche rapidamente, com um gel de banho que também era shampoo, limpámo-nos as umas boas toalhas brancas com o logo do motel e saímos como entrámos e gostamos de viver: envoltos em mistério e sem vermos vivalma.
O bom
A casa de banho
O mau
O barulho do jacuzzi durante a noite e os lençóis curtos
O ótimo
As toalhas de banho
Um boa noite (de sono, claro!) para si, onde quer que o motel esteja,
Ela
fotos: casal mistério e d.r.
Amei de todo… Incrível leitura..