Desde que vi pela primeira vez o Kevin Spacey a lamber despudoradamente os dedos depois de se deliciar com um entrecosto na série House of Cards que não sei bem o que sentir em relação ao típico churrasco do sul dos Estados Unidos: por um lado, deve ser delicioso; por outro, será que nos transforma em trogloditas à mesa?
Na semana passada, coloquei umas luvas a proteger estes dedos de pianista e decidi arriscar: fui ao Oeiras Parque experimentar o novo The Smokery, um restaurante inspirado nos churrascos do Texas e acabadinho de abrir no mês passado. Só para começo de conversa, posso dizer-lhe que voltei encantado. E se quiser comparar com o Slow, do mesmo grupo do H3, é a mesma coisa que colocar o Sisley Dias ao lado do George Clooney. Mas vamos ao que importa.
A ementa
Mal cheguei ao balcão, senti-me o George W. Bush de chapéu na cabeça e bota de cowboy no tornozelo: asas de frango estaladiças com molho buffalo, pá de porco fumada e borrifada com sumo de maçã, brisket com molho BBQ… A oferta da ementa tem tanto de texano como de delicioso.
Acompanhado da Minha Querida Senhora Mistério em modo semi-light, optei por desafiar a lei da gravidade e arriscar um menu que vem com um óptimo pão (€7), tão fofinho como o brioche, mas significativamente menos doce – o que liga lindamente com a carne. Dentro desta sanduíche, escolhi o brisket, um peito de vaca lentamente fumado e temperado com especiarias. O resultado é maravilhoso: além de a carne se desfazer em finos fios, tem um sabor apuradíssimo. Dentro do pão, vem ainda cebola roxa, couve, maçã e cenoura também cortadas em fios fininhos. Eu optei ainda por um óptimo molho de maionese de rábano. A combinação é magnífica.
A acompanhar, escolhi as batatas fritas com molho de maionese de manjericão. E no meio de toda esta ode ao bom churrasco, só fiquei ligeiramente desiludido com as batatas: além de não estarem bem quentes, são em palitos e não tão estaladiças como deveriam.
Ela escolheu um menu de pá de porco no prato (€7,50). A carne é cozinhada com o osso e borrifada com sumo de maçã. Vem também a desfazer-se e muitíssimo suculenta. Por cima, Ela escolheu a deliciosa maionese de rábano. Para acompanhar, vem uma boa salada coleslaw e ainda pode escolher mais dois acompanhamentos: no nosso caso, um pouco de arroz aromatizado com jasmim e limão (saboroso, mas um pouco seco e colado demais) e um cuscuz que Ela gostou, mas que eu achei demasiado adocicado.
O ambiente
Tirando a parte de ser um shopping (quanto a isso não há nada a fazer), a decoração é fantástica. A sanduíche vem numa original tábua de madeira por cima de uma folha de papel vegetal e o outro menu é servido num elegante prato preto que poderia ter saído de qualquer restaurante da moda. Além disso, a apresentação é cuidada.
O serviço
Dá gosto ser atendido por alguém que está realmente entusiasmado por trabalhar ali. O empregado do balcão explica cada detalhe dos ingredientes com um brilhozinho nos olhos. É simpático, rápido e atencioso. E transforma uma temível experiência de shopping num agradável almoço de carne.
As crianças
Aqui não há menus infantis, mas há menus para quem não gosta de carne. Se preferir, pode escolher um salmão fresco que passa um dia em salmoura e depois é fumado com pinceladas de mel de rosmaninho. No pão, é servido com um promissor bolo do caco de alfarroba.
O bom
A apresentação dos pratos
O mau
As batatas fritas pouco estaladiças e pouco quentes
O óptimo
A carne, tanto a de vaca como a de porco
Um abraço para o George W. Bush e todos os texanos onde quer que estejam,
Ele
fotos: the smokery