a nova tragédia da rua das flores: um bar de queijos para acabar as tardes em beleza
Sai do trabalho com este tempo miserável e tem duas hipóteses: enfia-se em casa a preparar-se para mais um dia de trabalho enquanto ouve Gloomy Sunday; ou enfia-se na nova Queijaria, a provar algumas das 45 variedades de queijos artesanais com um bom copo de vinho à frente. Vamos lá ser sinceros: ninguém se quer enfiar em casa a ouvir a música mais triste do Mundo, pois não? E se este tempo o leva para a tragédia, mais vale que seja uma tragédia calórica: pelo menos sabe bem...
O assunto é sério: a Queijaria é a primeira loja em Portugal 100% dedicada aos queijos artesanais. O assunto é óptimo: além de loja, a Queijaria também é bar. Mas o assunto também é triste: a Queijaria abriu em Agosto e nós só lá fomos agora – foram três meses desperdiçados a comer queijo flamengo quando poderíamos ter estado a comer um gorgonzola artesanal vindo directamente de Itália.
O ambiente
Estivemos à espera de um dia de frio, chuva e chatices no trabalho para nos enfiarmos na Queijaria. Eu fui buscá-La ao escritório a tiritar de frio e acelerei furiosamente até à Rua das Flores. À entrada, dei logo de caras com a zona da mercearia, onde há marmelada branca de Odivelas, manteiga de ovelha de Serpa, pêra rocha em vinho do Porto e uma quantidade grandota de tostas e bolachas: das mais fininhas às mais saborosas, com passas ou outros extras.
Foi por aqui que eu comecei a minha expedição, enquanto Ela se dirigia impacientemente para o bar. Um pouco mais à frente, está a sala fria dos queijos, onde há várias marcas – portuguesas e internacionais – e onde pode provar e escolher quais quer comprar.
Na outra ponta deste pequeno centro comercial do queijo, fica para mim a melhor zona de todas: um bar para comer queijo enquanto bebe um bom vinho ou uma cerveja. A Queijaria está num antigo edifício recuperado de Lisboa. E o que é que isso quer dizer? Tal como Marcelo Rebelo de Sousa, aqui eu faço a pergunta e dou a resposta: isso quer dizer que tem uns antigos arcos romanos no tecto, colunas de pedra no meio da sala e janelas sem vidros entre as várias divisões. A decoração é sóbria e elegante – o único detalhe que me pareceu ligeiramente demasiado prafrentex foi uma parede decorada com um enorme filme de fotografias de produção de queijo a preto-e-branco.
Os queijos
Na sala dos queijos há uma mesa para provar antes de comprar. A ideia não é ir à Queijaria para comprar um queijo inteiro – até porque os preços não são propriamente baratos. A ideia é escolher um bocadinho de vários e trazer um saco cheio para fazer também uma degustação em casa. É claro que, enquanto Ela já estava sentada à mesa com um copo de vinho do Porto branco na mão, eu provava e pedia para embalar um delicioso Taleggio (um queijo italiano mole e com um sabor forte que custa €31/kg), um maravilhoso Gorgonzola (que parece manteiga derretida) e um divinal Manchego, com 16 meses de cura, por €40,25/kg (e que não tem nada a ver com os Manchegos que se compram nos supermercados). E (Marcelo Rebelo de Sousa versão 2) porque é que não tem nada a ver com os Manchegos dos supermercados? Porque aqui os queijos são comprados directamente aos afinadores que cuidam da maturação de cada queijo e lhes dão um sabor especial, diferente de tudo aquilo a que estamos habituados.
Feita a encomenda para levar para casa, refastelei-me ao lado Dela e à frente de uma tábua de cinco queijos (€14,70). Nesta fase do lanche abanquetado, já Ela tinha absorvido várias fatias de umas finíssimas tostas, de um pão branco e de um pão escuro incrivelmente mole, juntamente com um queijo creme (€2,50).
Além de ter vindo com uma óptima selecção de queijos – do menos forte para o mais intenso – a tábua que pedi veio com umas nozes simpáticas e com uma fantástica descoberta: uns morangos desidratados que são uma experiência imperdível para cortar de forma suave o salgado do queijo (não se vende em Portugal, a Queijaria importa os morangos de Espanha). Ao lado vieram umas óptimas uvas brancas sem grainhas.
Depois de ter provado o Porto branco, oferecido com a tábua de queijos, pedimos dois copos de vinho branco (€3,50 cada) que ligaram lindamente com os queijos (os donos aconselham a degustação com branco em vez de tinto e têm toda a razão do Mundo). É claro que os dois copos se transformaram em quatro e a degustação de fim de tarde virou um verdadeiro jantar.
O serviço
O espaço é gerido por dois irmãos. Aquele que nos atendeu é de uma simpatia sem limites. Adora conversar e contar histórias e fala dos queijos com a mesma paixão com que o António Costa fala do Rui Rio. Enquanto provávamos a nossa tábua, veio várias vezes à mesa perguntar se estava tudo bem, se estávamos a gostar ou se precisávamos de alguma coisa.
Agora vou ali ao frigorífico que ainda tenho um Fourme d' Ambert (€29,95/kg) que sobrou.
O bom
O espaço e os arcos no tecto
O mau
Não estar aberto à noite
O óptimo
A qualidade e a variedade de queijos
Bom queijos para si onde quer que esteja,
Ele
fotos: queijaria
_________________________
Queijaria
Rua das Flores, 64 Lisboa
3ª a 5ª das 13h às 22h; 6ª e sábado até à meia-noite
213 460 474