a ucharia, uma despensa realmente portuguesa… com certeza!

    – Onde é que é o jantar?

    – Na Ucharia.

    – Ah. Já sei, na Cevicheria.

    – Não. Ucharia.

    – Ah, e onde é que isso fica?

    – No Príncipe Real.

    – Ah, então eu tinha razão: é a Cevicheria.

    Irra. Conversa de surdos. Uma coisa é a Cevicheria, outra coisa é a Ucharia. São os dois no Príncipe Real, mas não têm nada a ver um com o outro. A Cevicheria é do chef Kiko e o nome vem das típicas ceviches peruanas. A Ucharia significa despensa real, serve comida tipicamente portuguesa e fica mesmo na praça do Príncipe Real… o que a bem da verdade, dá azo a estas confusões e, pior ainda, a comparações.

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    Mas não entremos por aí. Fui jantar com duas amigas à Ucharia e… de facto, tem pouco a ver com a Cevicheria. Os dois têm uma única coisa em comum: o drama para estacionar o carro. Depois de horas às voltas lá cheguei ao restaurante atrasadíssima.

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    O ambiente 

    A entrada é simpática e dá acesso a uma sala luminosa em tons de branco. Todo o restaurante é percorrido por um espelho numa das paredes laterais o que lhe dá uma maior profundidade e o faz parecer muito maior do que é na realidade… sobretudo no dia em que fomos. Era uma terça-feira e estava completamente vazio. Percorri o restaurante até ao fim sem ver vivalma até que cheguei à zona do bar, onde um simpático empregado me explicou que as minhas amigas estavam na esplanada. Ah! Há uma esplanada! Então deve ser aí que está toda a gente, pensei eu. Acertei: toda a gente eram as minhas duas amigas e um casal numa mesa ao lado. Elas já se estavam a deliciar com…

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    …O couvert 

    Peço desculpa. Na Ucharia, não se chama couvert. Chama-se Primeira Coberta e é muitíssimo bom. É um belo prenúncio do que viria a seguir: um cesto com fatias de um ótimo e fresco pão alentejano e de uma broa de chorar por mais (€2,80). A acompanhar, um queijo de ovelha amanteigado bom, um azeite DOP alentejano razoável e um piso de tremoço fantástico (que basicamente é uma deliciosa manteiga de tremoço). Por estes três tiros na minha dieta foram €6,40. Como sou uma mulher contida, centrei os meus esforços a barrar o piso de tremoço nas irresistíveis fatias de broa.

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    Enquanto devorava broa como se não houvesse amanhã, concentrei-me na decoração das mesas: individuais de papel, pratos brancos, talheres dourados, guardanapos de pano branco e copos coloridos. Simples e agradável. Estivemos horas a olhar para as tábuas com as ementas porque cada uma queria uma coisa diferente, e o atencioso empregado insistia que o ideal seria escolher três ou quatro petiscos e partilhar.

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    A ementa 

    Depois de alguns puxões de cabelos, lá chegámos a acordo. Começámos esta viagem gastronómica pelo Portugal profundo com uma travessa (na verdade, era um prato) de amêijoas à Bulhão Pato (€14,80) que estavam francamente boas: bem cozinhadas regadas com muito molho, alho, coentros e um ligeiro sabor a limão.

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    Seguiu-se uma ardósia com um torricado de queijo de ovelha, abóbora, mel e pinhão (€8,90), que basicamente é uma tosta de pão alentejano com todos estes ingredientes. Escusado será dizer que fui eu que insisti neste prato, e, claro, é absolutamente delicioso. É uma combinação feita nos céus.

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    Mas tenho de admitir que uma das minhas amigas também não esteve mal quando escolheu peixinhos da horta e umas migas de espargos para acompanhar. Foi claramente o momento alto da noite. Os peixinhos da horta (€6,80) chegaram dentro de um púcaro com um molho aioli numa tacinha à parte. E não é que eram divinais? Confesso que cheguei a torcer o nariz quando ela os pediu mas os malditos dos ditos peixes (que não são peixes) nem pareciam fritos porque, segundo nos explicaram diretamente da cozinha, foram feitos com pão ralado “panco”, e foram de facto uma surpresa. Também as migas de espargos (€6,70), que chegaram num tachinho apetitoso, eram excelentes… ao nível da melhor cozinha alentejana. Até aqui tudo correu às mil maravilhas.

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    Mas eis que chegaram à mesa uns ovos mexidos com alheira de caça (€8,90) super banais, de tal forma, que nem nos lembrámos que eram com alheira, porque rapidamente se transformou numa espécie de caça ao Wally, à procura da alheira perdida. Não descobrimos nem o cheiro.

    A última grande desilusão foi sobretudo minha. Insisti e insisti num púcaro com fritas de batata doce (€3,80). As minhas amigas torceram o nariz até que eu fiz beicinho e lá vieram as chips que eu tanto adoro.

    – Estão queimadas? – perguntei, praticamente de lágrima no olho, ao solícito empregado, quando me deparei com uma espécie de torresmo estorricado.

    – Não, não, são mesmo assim – respondeu-me num tom tão convincente que me calei logo.

    E “assim”, como poderei descrever? Eram francamente más: com um aspeto queimado e sem sabor.

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    No final da refeição que acompanhámos com vinho a copo: eu bebi um Fiuza Sauvignon Branco (€4,50), a amiga das pataniscas optou por um Dona Ermelinda Reserva Tinto (€5,00) e o terceiro elemento do nosso grupo deu cabo de duas ou três imperiais (perdi-lhes a conta), o simpático empregado ainda apareceu com a tábua da ementa, na página das sobremesas. E bem tentou aliciar-nos com uma tarte de amêndoa, um leite creme, farófias e outras iguarias tipicamente portuguesas. Mas a visão da travessa dos ovos mexidos ainda por acabar devolveu-nos o bom senso. Café e chá, e “ala que se faz tarde”, porque o dia seguinte era de trabalho.

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    O serviço 

    Super simpático e atencioso. O empregado que nos atendeu era particularmente preocupado. Mas estávamos perante a caricata situação de estar rodeados por mais empregados do que clientes. Espero sinceramente que tenha sido um dia anormalmente calmo para a Ucharia, porque fora os ovos mexidos e as chips de batata doce, vale mesmo a pena voltar aqui.

     

    As crianças

    Não é propriamente um restaurante pensado para crianças. Não tem uma ementa própria para os mais pequenos. Mas tem pratos que eles adoram, como rissóis, pataniscas e pastéis de bacalhau. Se o seu filho for boa boca, leve-o, se for esquisito, o melhor é pensar noutra solução.

     

    O bom 

    A esplanada e o serviço

    O mau 

    As chips de batata doce e a ausência de alheira nos ovos mexidos

    O ótimo 

    O torricado, os peixinhos da horta e as migas de espargos

     

    Boas jantaradas,

    Ela

     

    fotos: a ucharia

     

    Um comentário em “a ucharia, uma despensa realmente portuguesa… com certeza!

    1. Fomos lá por duas vezes. E quem vai duas vezes, é porque a primeira vez foi boa. Foi sim, éramos duas pessoas, partilhámos refeição e não achámos muito caro. O restaurante estava cheio, tinha aberto há poucos dias. Voltámos segunda vez, desta para um almoço de família (9 pessoas), ficámos na mesa redonda, e desde os tempos de espera serem para lá do agradável, a conta final para quem partilhou petiscos, qual sugestão dos empregados, foi de fugir. Péssimo serviço (as doses vieram desencontradas umas das outras, esperámos mais de meia hora por nos trazerem o bolo de aniversário que tínhamos pedido para guardar), doses mínimas e muito caro. Não vamos voltar. Faz-nos falta o Orpheu, a nossa segunda casa, onde agora é este restaurante com a mais que esgotada ementa dos “tachos e tachinhos”.

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