Todos os anos, caem em Mawsynram cerca de 12 metros de água. Isso quer dizer que se a água não drenasse, a quantidade de chuva seria suficiente para deixar o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, submerso até aos joelhos.
Mawsynram é uma pequena aldeia na Índia e é a povoação onde mais chove à face da terra. Só para ter uma ideia, Seattle – a cidade onde foram filmadas as séries Anatomia de Grey e The Killing, dois verdadeiros hinos à chuva e ao mau tempo, e onde chove durante mais de 150 dias por ano – tem uma média de precipitação 13 vezes inferior a Mawsynram.
Mas porquê falar agora de Mawsynram? Porque, em algum momento menos prevenido da minha vida, eu decidi casar com uma mulher radical. E, depois do seu fascínio pela cidade mais fria do Mundo, agora está embeiçada pela zona mais chuvosa do planeta.
Hoje, no meio desta chuvada sem fim, Ela descobriu um fabuloso trabalho do magnífico fotógrafo neo-zelandês Amos Chapple, publicado pela revista The Atlantic. E foi a gota de água de que precisava (peço desculpa pelo trocadilho) para fazer transbordar o copo da loucura. Primeiro, investigou tudo sobre Mawsynram. A seguir, virá acenar-me com os preços das viagens.
Só para ter uma ideia do nível de loucura da senhora, em Mawsynram a agricultura é quase impossível por causa da precipitação. Os materiais de construção não resistem ao mau tempo e as pontes dificilmente se aguentam em pé. Como a localidade fica nas montanhas, há séculos que os habitantes encontraram uma solução para se deslocarem com facilidade: construir pontes naturais, feitas com as raízes das árvores da borracha.
O segredo é não cortar as raízes, mas entrelaçá-las de forma a que cresçam em direcção a atravessar os rios e os vales. Como são resistentes e flexíveis, as raízes estendem-se pelo ar, com a ajuda de estruturas de bambú. Uma vez chegadas ao outro lado, as raízes agarram-se ao solo e tornam-se mais fortes. Quando as estruturas de bambú se desmoronam por causa da chuva, as raízes já estão prontas a aguentar o peso de um ser humano. Quanto mais tempo passa, mais sólidas se tornam as pontes.
Segundo a BBC, normalmente estas pontes naturais demoram dez anos a se auto-construírem, mas aguentam-se firmes durante séculos. Acredita-se que a ponte mais antiga de Mawsynram tenha mais de 500 anos.
Outro problema é o barulho ensurdecedor provocado pela chuva dentro das cabanas onde os habitantes vivem. Bini Kynter, uma bisavó com cerca de 100 anos (não sabe a sua idade ao certo), adiantou ao jornal online Huffington Post que, quando era criança, tinha pânico do barulho. “Hoje em dia, as pessoas já vivem melhor com a chuva”.
Para evitar o barulho dentro das cabanas, estas são forradas com erva, o que ajuda a abafar o som da chuva. No exterior, toda a gente usa chapéus-de-chuva – literalmente. São chapéus gigantes, parecidos com a carapaça de uma tartaruga, presos à cabeça mas que cobrem quase todo o corpo. São feitos de bambú e folhas de bananeira.
Mawsynram fica no estado de Meghalaya que pode ser traduzido por “Morada das Nuvens”. Está ao lado do Bangladesh e da Baía de Bengala. E é essa a causa das chuvadas intensas: sempre que se forma humidade na baía, chove fortemente na região de Meghalaya. E isso acontece especialmente durante a época das Monções.
Segundo a BBC, 90% da chuva cai em Mawsynram ao longo de apenas seis meses, entre Maio e Outubro. Entre Dezembro e Fevereiro, há secas severas que levam até à falta de água para beber – no sítio mais chuvoso do mundo.
Um óptimo Inverno para si onde quer que a chuva esteja,
Ele
fotos: amos chapple