ainda estou em choque: a receita de pastéis de nata “portugueses” do jamie oliver leva…

    portuguese-custard-tart-758547_960_720.jpg

    …Peço desculpa pela pausa dramática, mas ainda me estou a tentar recompor do baque: crème fraîche?! Eu repito: crème fraîche?! Os nossos queridos pastéis de nata?! Como é que uma receita típica portuguesa, criada algures no século XVIII, pode levar um ingrediente com um acento circunflexo em cima do “i”. Um ingrediente que nem sequer se digna a ter uma tradução para português?! O que é que terá passado pela cabeça do Jamie Oliver?

    Estava eu ontem tranquilamente a fazer o desmame de mais uma dieta da minha querida Mulher Mistério (tradução: estava eu ontem, às escondidas, à procura de uma boa receita de pastéis de nata para fazer sorrateiramente em casa) e eis que esbarro com a receita que Jamie Oliver publicou no seu livro 30 Minute Meals. Com direito a vídeo e tudo, tal é o descaramento!

    94162-blog2b-2bjamie2boliver2b302bminute2bmeals2bb

    Primeiro ponto: o crème fraîche. Desde quando é que uma embalagem de crème fraîche passou do hall de entrada dos Pastéis de Belém? Ou da Manteigaria? Ou da Aloma? O crème fraîche é o Bombarralense do campeonato dos alimentos. É a equipa B das natas frescas. É aquilo que usamos quando não temos mais nada para colocar e precisamos de uma solução desesperada.

    Segundo ponto: os pastéis de nata “portugueses” do Jamie Oliver ainda levam uma cobertura de caramelo de laranja! Ora, eu sei que aquele queimadinho por cima dos pastéis de nata intrigou o Jamie. Também me fascina a mim. Mas um pastel de nata não é um leite creme. E também não é uma laranjada. Por isso, onde é que o nosso Jamie foi buscar o caramelo com sumo de laranja espalhado por cima?

    Eu compreendo que não queira ver mais nada sobre este tema, eu próprio estou indisposto. Mas se insistir, tem aí em baixo a receita completa dos pastéis de nata “portugueses” segundo o Jamie Oliver. Vade retro!

     

    x.jpg

    Ingredientes

    Para 6 pastéis de nata

    • 1 folha de massa folhada com cerca de 400 g
    • Canela em pó
    • 120 g de crème fraîche
    • 1 ovo grande
    • 1 colher de chá de pasta de baunilha
    • 5 colheres de sopa de açúcar
    • 1 laranja

     

    Resistiu até aqui? Não percebo como… eu já teria fugido a correr para afogar as mágoas na Manteigaria. Mas enfim, se quer continuar, vamos a isso.

    Comece por abrir a folha de massa folhada por cima do balcão de cozinha, polvilhado com um pouco de farinha. A massa folhada deve ser um quadrado com aproximadamente 20 centímetros. Polvilhe o topo da massa com bastante canela e esfregue esta com a mão de forma a cobrir a massa toda.

    Agora enrole a massa folhada, deixando a canela por fora do rolo. Corte o rolo ao meio e cada metade em três pequenos rolinhos. Coloque os rolinhos em pé e espalme-os ligeiramente com os dedos. Pegue numa forma para muffins e espalhe os seis pedaços de massa folhada por seis divisões, deixando-os mais lisos no fundo e mais gordos nos lados. Leve ao forno, pré-aquecido a 200º C, durante oito a dez minutos, até a massa começar a ficar dourada.

    jamie.jpg

    (Pausa. Até aqui, nada de muito grave para lá do facto de a massa folhada ficar grossa demais em cima, originando uns pastéis de nata que mais parecem umas empadas de nata. Mas se todos os males fossem esses, viveríamos bem. O problema mais grave começa agora com a preparação do creme de nata ou, na versão de Jamie Oliver, o creme de crème fraîche e laranja.)

    Numa taça, junte o ovo com o crème fraîche, uma colher de sopa de açúcar refinado, as raspas de uma laranja e – nova surpresa capaz de fazer corar a estátua do Marquês de Pombal – uma colher de chá de pasta de baunilha. Misture bem com um garfo até ligar todos os ingredientes. E assim se faz o recheio dos pastéis de nata portugueses segundo Jamie Oliver.

    Retire a massa folhada do forno, use uma colher de chá para criar mais espaço no meio, juntando a massa aos lados, e divida o creme pelos seis pastéis de nata. Volte a colocar no forno durante mais cerca de oito minutos até o creme enrijecer.

    Está chocado? Então vamos à cobertura de caramelo de laranja.

    1s6at1otSQy6CfW3wNV0_Screen Shot 2016-02-08 at 3.5

    Coloque, numa panela quente, quatro colheres de sopa de açúcar e o sumo espremido de uma laranja. Mexa e deixe o açúcar derreter, em lume médio-alto, durante cerca de um minuto, até o caramelo começar a ficar castanho.

    Retire os pastéis de nata (se é que lhes podemos chamar isso…) do forno e espalhe o caramelo por cima deles. Depois de arrefecerem, tem os seus pastéis a la Jamie Oliver.

    23622241_10155476525819807_3127831441058579726_n.j

    Sabe o que é mais chocante no meio disto tudo? É que Jamie Oliver republicou o vídeo desta receita, que já é antigo, na sua página de Facebook, no sábado passado, e já teve cerca de dois milhões de visualizações, quase 10 mil gostos e 3 mil partilhas. Ou seja, as pessoas gostaram! E, pior, acham que isto é que são pastéis de nata! Os monges do Mosteiro dos Jerónimos devem estar a esmurrar os túmulos.

     

    Uns óptimos pastéis de nata para si onde quer que a sua indignação esteja (a minha está ao rubro!),

    Ele

     

    receita: jamie oliver; fotos: jamie oliver e d.r.

     

    P.S: Caso reste qualquer dúvida, convém esclarecer: a primeira foto é a de um pastel de nata português, a segunda é da obra-prima do Jamie Oliver.

     

    36 comentários em “ainda estou em choque: a receita de pastéis de nata “portugueses” do jamie oliver leva…

    1. Infelizmente não é caso único. Gosto muito do JO e fiquei super entusiasmado com o lançamento do novo livro feito em Itália, com e Gennaro e imensas nonnas italianas… até ver no instagram dele uma receita em que ele coloca masala… ? 😐

    2. Relativamente à nossa culinária o Sr. Oliver tem de aprender ainda bastante. Vi noutro dia a “sua versão” de Bacalhau à Brás” e fiquei em choque.

    3. Ao menos roubar por roubar receitas, que o fizesse a um verdadeiro chef pasteleiro português, só inventam… Longe da receita original, como água no azeite…
      Gosto muito da forma como “ele” cozinha, mas por vezes espalha-se ao comprido…
      Curto e grosso Oliver, vem a Portugal e deita essa “mer…” ao lixo…

    4. E não há uma DOP para defender os produtos e o público destes oportunismos, que possa impedir esse sr de enganar o pessoal? Ele é livre de fazer os pasteis que quiser mas estará a enganar o público ao dizer que são pasteis de nata portugueses.

    5. Uma barbaridade destas só é comparável ao “autêntico bolinho de bacalhau português” do Dulce Delight Brasil, que leva (pasmem-se!!!) bacalhau fresco e oregãos!!!!

    6. Pois… A receita pode ser tudo mas…..pasteis de nata não!
      Pode o resultado final ser maravilhoso, ao olhar e ao paladar, mas o nosso tradicional pastel de nata não é, de certeza, o resultado final.
      Não sou grande doceira mas até costumo fazer uns “pasteis de nata” e até ficam bonitinhos (desaparecem em segundos) e só levam ingredientes tradicionais!

    7. Adoro pasteis de nata e adoro esta receita do Jamie, já a repeti diversas vezes. Em nenhuma altura ele diz que são os verdadeiros pasteis de nata! É uma interpretação da receita, como aliás ele faz no mais recente programa dele onde após provar o “original” ele cria a sua própria versão. E como fazem todos os chefes e cozinheiros. Na minha opinião de leiga até um prato criado e desenvolvido pelo chef XPTO (o signature dish) terá sempre uma inspiração, pesquisa, uma memória por trás. Como nunca conhecemos tudo o que já foi feito corremos o risco de classificar como original algo que já existe (!) e isto aplica-se à culinária, à literatura, à música…
      Um olhar mais atento pelos programas de culinária portugueses e de muitas revistas da especialidade mostram “coisas” muito mais chocantes!

    8. este JO é uma perfeita vergonha: tenho-me deparado com algumas receitas suas que não tem pés nem cabeça…, a receita do crème brulée, se seguida à letra, dá uma sola de sapato…, coze eternamente e sem banho maria sequer!

    9. Vi um amigo meu fazer centenas de pasteis de nata, desde o medir o peso dos ingredientes, até ao saírem do forno.
      Isto é outra coisa, tartes, muffins whatever.
      E para que conste, se o recheio tiver saído um bocadinho para fora da massa durante a cozedura, o sabor é diferente.

    10. Por acaso já tinha visto ele a fazer 1 ou 2 vezes na tv e fiquei chocada, só pensei mas ninguém lhe disse que está muito longe dos nossos? Que de portugueses não tem nada?

    11. Entendo a indignação, quando vi o video tambem pensei “isto nao é naada um lastel de nata” ou “nata” como os portugueses do norte chamamos. Mas achi que podemos entender e ver den
      outra perspetiva, e eu vi da seguinte forma: ele é um.cozinheiro de cozinha de autor, ele reinventa pratos, logo seguir uma receita à letra qualquer um faz, ele fez a sua interpretação. Nao quer dizer que fique melhor, nem sei se seria essa a ideia pois se ele provou uma das nossas daquelas mesmo boas, saberá que dificilmente conseguirá ultrapassar por isso mesmo é melhor fazer a versão dele deste pastel de tradição. É mais ou menos o que fizemos com os croissants brioche, os originais, franceses sao tipo folhados provavelmente eles dizem que os nossos tem forma de croissant mas nao o são. Ou como os americanos chamarem pizza a uma massa grossa com toneladas de ingredientes em cima, quando o verdadeiro italiano abomiraria tal coisa. No maximo 3 ingredientes e o tomate e queijo ja são dois 😉 vamos ter compaixão de alguem que acha que sabe tudo mas que nao sabe e não fazer disto uma tempestade, há coisas piores para fazer guerras. Alias nada deveria ser motivo para fazer guerra.

    12. Entendo a indignação, quando vi o video tambem pensei “isto nao é naada um lastel de nata” ou “nata” como os portugueses do norte chamamos. Mas achi que podemos entender e ver den
      outra perspetiva, e eu vi da seguinte forma: ele é um.cozinheiro de cozinha de autor, ele reinventa pratos, logo seguir uma receita à letra qualquer um faz, ele fez a sua interpretação. Nao quer dizer que fique melhor, nem sei se seria essa a ideia pois se ele provou uma das nossas daquelas mesmo boas, saberá que dificilmente conseguirá ultrapassar por isso mesmo é melhor fazer a versão dele deste pastel de tradição. É mais ou menos o que fizemos com os croissants brioche, os originais, franceses sao tipo folhados provavelmente eles dizem que os nossos tem forma de croissant mas nao o são. Ou como os americanos chamarem pizza a uma massa grossa com toneladas de ingredientes em cima, quando o verdadeiro italiano abomiraria tal coisa. No maximo 3 ingredientes e o tomate e queijo ja são dois 😉 vamos ter compaixão de alguem que acha que sabe tudo mas que nao sabe e não fazer disto uma tempestade, há coisas piores para fazer guerras. Alias nada deveria ser motivo para fazer guerra.

    13. Digamos que tentar fazer os “pastéis de nata” não é fácil, o segredo da cozedura ele não o soube (pelos vistos). Porque debaixo daquele género de topping de laranja o aspecto dos pasteis ele, é um pouco duvidoso. Digamos que parecem “cozidos”, se é que me entendem…

    14. Infelizmente já conhecia!
      É realmente triste. Não a receita em si mas que diga que são os “Portuguese Custard…”
      Não me surpreendeu vindo dele. Tem adulterado vários pratos típicos de outros países. Agora foi a nossa vez.
      Num outro registo, Parabéns pelo vosso blog e pelo livro. É quase uma bíblia cá em casa!

    15. Sinto muito contradizer quem acha que o creme do pastel de nata tipicamente português leva nata, é que de NATA só tem o nome. Na verdade a “nata” não passa de creme feito com gemas, leite, manteiga e açúcar. Há pastelarias que acrescentam sumo de limão ou laranja, ou outro coisa qualquer, mas, o creme básico é o que acabei de descrever. É certo que existem uns pastéis que levam nata, mas são os pastéis de frutas frescas ou com pistácios sem qualquer sem sal, que nada têm que ver com o pastel que se diz “de nata” 😊😊😊

    16. Bém, esta é a primeira vez que eu vou falar (escrever) de alguma coisa para ser lida e com alguma certeza ser discutida e contestada por alguém.
      Então aí vai:
      – Em primeiro lugar quero dizer-vos que tenho , isto é, na minha casa vive um amigo meu chamado de “OLIVER”, e tenho a certeza absoluta de que consegue fazer melhores cozinhados do que Sua Majestade o Oliver cozinheiro do reino de S/ Majestade a Rainha de Inglaterra. quanto a mim este cavalheiro tratou o pastel de nata da mesma forma que este trata os legumes e e restantes ingredientes que usa para fazer a comida, que nos mostra na tv, como eu costumo dizer ” á PODUADA ” . Para mim os alimentos ou os ingredientes que utilizamos para confecionar a nossa comida , deve ser tratado com respeito, carinho e limpeza , (os nossos olhos comem ) . Quanto a mim esse sr. que por acaso tem o nome do meu amigo cão Oliver,não deve ser grande cozinheiro, – Por uma razão muito simples, perguntei ao meu amigo cá de casa (o oliver de raça Boxer) se conhecia o ( Oliver de S. Majestade, aquele que faz um programa de uma espécie de comida ,) e sabem o que ele disse? _ pois bem disse : (nada ) !!! –limitou-se a parar levantar a perna traseira direita e mandou duas esguichadelas para uma planta seca , eu parei e pensei -TENS RAZÃO MEU COMPANHEIRO OLIVER – e lá continuámos pela pela mata á procura do seu local preferido para fazer um “PUDIM Á SUA MAJESTADE”

    17. Deixem lá esses camones ficarem com esses pasteis que nós ficamos com os nossos pastéis de nata…engraçado é quando provam pela primeira vez um original até se passam…

    18. Deixem o homem fazer a receita da maneira dele, todos os chefes dão um toque pessoal a receitas típicas… vão mas é beber uma cerveja para uma esplanada em vez de estarem aí frustrados a criticar uma pessoa de sucesso!!

    19. É uma recriação dos pastéis de nata. Não são os originais nem portugueses. São do Jamie Oliver. Assim os gregos, italianos, etc também teriam muito que reclamar com as recriações de chefs portugueses das comidas deles.

    Deixe um comentário

    O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *