bem-vindo à cidade mais fria do planeta (é para aqui que ela quer vir de férias – não, não estou a brincar)
Se acha que tem estado frio, então este post é para si. Se não consegue sair à rua com o seu cachecol, então este post também é para si. Se sonha com os fantásticos dias nas praias da Caparica, então este post é a sua cara.
No início deste ano, Ela acordou com um objectivo: conhecer as zonas mais desbravadas do planeta. Eu pensei que fosse uma loucura passageira. Mas, na semana passada, depois de amadurecer um pouco essa ideia peregrina, Ela decidiu: gostava de ir à localidade mais quente e à mais fria do Mundo. Ou seja, Ela quer ir para aqui.
Chama-se Oymyakon e fica na Sibéria, no Norte da Rússia. Ao lado do Inverno em Oymyakon, estas temperaturas perto de zero graus que temos tido nas Penhas Douradas são o Batatinha e Companhia ao lado do Jack, o Estripador. Oymyakon é a povoação habitada mais fria do globo. Em 1924, atingiu os 71,2º C abaixo de zero. E a partir daí fez questão de manter sempre temperaturas abaixo dos -50º C, todos os anos. O frio é tanto naquela vila que os carros têm de ficar com o motor ligado quando estão parados na rua – senão congelam. Os telemóveis não existem porque as baterias não aguentam o frio. E a tinta das canetas tranforma-se em gelo.
No ano passado, o fotógrafo neo-zelandês Amos Chapple deu uma de Ela e resolveu passar dois dias em Oymyakon. Primeiro viajou até Yakutsk, a cidade mais fria do planeta e que é o centro urbano mais próximo de Oymyakon, e depois fez a estrada de 800 km até à pequena vila com 500 habitantes. O que mais o impressionou foi ver a sua própria saliva congelar, mal saiu para a rua com uma temperatura de 47º C negativos: "Transformou-se em agulhas que me picava a boca".
Enquanto lá esteve, Chapple acompanhou um pastor de renas que, nos dias em que os animais se afastam mais de casa, é obrigado a dormir na floresta. Aos 46 anos, Vladimir Bagadaev tem um saco-cama de pele no qual se enrola sem casaco e sem luvas – para evitar as diferenças de temperatura. Nas noites que passa fora, a única coisa que prepara é uma fogueira grande e um pequeno monte de neve para o proteger do vento gelado.
Talvez inspirados por esta onda de loucura que acabou de atingir a minha querida Mulher Mistério, os habitantes de Oymyakon esperam que o turismo de aventura puxe pela economia da região nos próximos tempos. E não estão a contar com visitantes no Verão, quando os dias têm 21 horas e as temperaturas chegam aos 30º C – positivos. Não. Eles acham mesmo que o atractivo são os dias com três horas de duração que há em Dezembro.
Fundada para acolher os pastores de renas que utilizam as águas termais da zona para aquecerem os seus rebanhos no Inverno, a vila mantém um nível de conforto muito próximo do zero. Amos Chapple compreende a procura junto dos turistas de aventura. Mas avisa: "É um estilo de vida muito fora daquilo a que estamos habituados, no entanto se os turistas conseguirem aguentar, serão muito bem recebidos".
Por isso, minha querida Mulher Mistério, podes começar a fazer as malas que eu não me importo de ficar com as crianças. Mas não te esqueças das tuas luvinhas de lã virgem – tenho a certeza de que com aquelas temperaturas vão ser muito eficazes.
Um bom Inverno para si onde quer que esteja,
Ele
fotos: amos chapple