Quem é que decidiu que os hambúrgueres tinham de ser cozinhados? Em que página do sagrado Pantagruel nos mandam colocar os hambúrgueres em cima de uma frigideira?
Ok, eu admito que há o perigo das bactérias, das ecólis e de tudo o resto. Mas, por amor da santa, não deixem de experimentar o hambúrguer tártaro do Burguês, a hamburgueria que abriu no princípio deste ano em Cascais.
O ambiente
Um cavalheiro entra neste restaurante e sente-se o Michael J. Fox a aterrar o seu DeLorean directamente em 1980. Na parede, a ementa está num quadro preto, daqueles com furos onde se encaixavam as letras uma a uma; em cima do balcão, há um telefone de disco, ao lado, um rádio tipo tijolo e, mais afastada, uma televisão a preto e branco igual àquela onde eu acompanhei avidamente cada episódio do Zé Gato. Mesmo o moderno televisor LCD, onde pode ver em directo todos os jogos de futebol (afinal, estamos numa hamburgueria, caramba!), está disfarçado com uma cercadura de cartão a imitar uma TV antiga. Já o relato da bola é para ouvir no rádio-tijolo.
As pedras das mesas são em mármore anos 80 e as paredes estão decoradas com um papel com fotografias antigas. Agora que está feita a viagem no tempo, vamos à viagem no estômago.
A ementa
As entradas
Um almoço da Família Mistério numa hamburgueria não é uma coisa fácil. E muito menos uma coisa leve. Tem de incluir várias entradas, vários hambúrgueres e várias sobremesas. No fundo, vária comida.
Para começar, a mesa deliberou pedir o bolo do caco Finório (€3) e o bolo do caco Especial (€2,80). Servido com manteiga de alho, queijo e tomate, o Especial é bom, mas não tão bom como o Finório: apesar de a mistura entre o adocicado do bolo do caco e o picante do alho resultar muito bem, o queijo é demasiado queijo creme. O Finório não tem manteiga de alho, mas tem queijo brie (um verdadeiro upgrade), cogumelos (frescos e bons) e bacon (o que dá um óptimo toque salgado).
Os hambúrgueres
Eu sou fã de bife tártaro e Ela fã de bife tártaro é. E aqui o bife (ou hambúrguer) tártaro merece a nossa consideração. Em primeiro lugar, a carne é picada à mão – ou, neste caso, à faca – o que faz com que venha para a mesa com consistência e não a desfazer-se em insignificantes grãozinhos encarnados. Depois, traz em cima uma gema de ovo de um cor-de-laranja invejável. Finalmente, vem ladeado por um saboroso molho com pickles aos pedaços e ombreado por dez apetecíveis condimentos: das alcaparras à cebola roxa, passando pelo sal grosso, o alho ou a pimenta moída.
Não é o bife tártaro do Talho, mas vale cada um dos €8,80 que custa. O único problema (além da apresentação do prato em estilo Rei Sol) é o acompanhamento: a batata doce frita estava mole.
As crianças dividiram-se entre o Emigrante (três pequenos hambúrgueres de 50 gramas com alface, cebola e cada um com o seu queijo: brie, blue cheese ou queijo da ilha – €6,30) e o Queijo e Bacon (um hambúrguer de 150 gramas com cheddar português, bacon, tomate e alface – €5).
As bebidas
Para beber, tem gins premium, água tónica Fever Tree e botânicos a condizer. Para os menos corajosos, há as janecas: pequenas canecas de cerveja estupidamente geladas. E para as crianças, refrigerantes Brisa: a tradicional marca da Madeira.
As sobremesas
Almoço de Família Mistério não seria almoço se não tivesse sobremesa. E doce. E calórica. E hiperglicémica. Em que é que está a pensar? Nós pensámos numa mousse de chocolate branco (€3,50), da qual ainda sinto o doce na boca, num cheesecake de maracujá (€3,50), para homenagear a Madeira, e numa tarte de limão para cortar um bocadinho (€3,50).
As crianças
Não há propriamente um menu infantil. Mas há um hambúrguer para crianças – e que ajuda outras crianças. Chama-se Burguês CADin e tem só 75 gramas de carne. Vem no pão sem quaisquer ingredientes extra e custa apenas €3. Uma parte deste valor reverte para a bolsa social do CADin, que ajuda criancas sem recursos a receberem tratamento contra doenças do neurodesenvolvimento nesta instituição sem fins lucrativos.
O serviço
Não pode ser mais simpático. Quando chegámos, sem marcação, o restaurante estava cheio. Havia só uma mesa vazia que estava reservada para alguém que estava 30 minutos atrasado. O empregado ainda tentou ligar ao cliente para confirmar se vinha, mas este não tinha deixado o número. Finalmente disse-nos que se ele não chegasse dentro de dez minutos nos dava a mesa. Ainda pensei mandar a equipa de futsal para bloquear a porta de entrada. Mas não foi preciso. Pedimos duas janecas e esperámos os dez minutos. Ninguém apareceu. Ao fim de um quarto de hora, sentámos-nos felizes e contentes. Um minuto depois entrou uma família pela porta. Eram eles. Tinham perdido a reserva por pouco. Mas, tal como nos jogos de futebol que acabam com um golo no último minuto, perderam. E nós ganhámos um óptimo almoço.
O bom
A decoração anos 80
O mau
A batata doce frita
O óptimo
O Hambúrguer Tártaro
Viva os atrasos onde quer que eles estejam,
Ele
deve ser tao bom 🙂
beijinhos*
Mais uma critica justa e bem feita. É mesmo simpatico esse restaurante, os empregados incansáveis e os hamburgueres muito bons … 🙂
Olá, concordo com tudo o que escreveram. Só não vou lá à noite porque a iluminação é muito pouco atraente, branca demais. Até já lhes disse em jeito de sugestão. Concordaram mas está igual. Pena!