Abriu oficialmente a época da caça à esplanada. E eu estou na primeira linha da montaria, de babete ao pescoço e garfo em punho, à procura do melhor espaço para passar estes dias de sol, calor e petiscos light. Sim, estamos a falar de saladas, carpaccios, tatakis e outras pequenas preciosidades adequadas a roupas curtas e abdominais ao léu.
Foi com este espírito de missão estilo Carolina Patrocínio que resolvi fazer uma surpresa à minha querida Mulher Mistério. Num destes dias de calor tropical, fui buscá-la ao seu entediante emprego e levei-a a almoçar à magnífica esplanada da Cafetaria Mensagem. Nada de risottos, nada de pizzas, nada de cabritos assados com batatinha no forno. Este foi um dia de comida light.
Mas primeiro…
…O ambiente
O sítio é óptimo. Não tão óptimo como o da vizinha esplanada do À Margem, que está mesmo em cima do rio, mas óptimo de qualquer maneira. A esplanada dá para a Doca do Bom Sucesso, em Belém, e a única coisa que dispensávamos era a vista para o guindaste que sobe e desce os barcos. De resto, está óptimo: veleiros e iates é tudo o que um homem em plena crise dos 40 quer ver.
Atrás de nós, estava um casal de portugueses em que a mulher era daquelas pessoas que gosta especialmente de se ouvir: além de monopolizar a conversa, falava suficientemente alto para que todas as mesas num raio de 200 metros a conseguissem escutar sem dificuldades (não sei porquê mas parece que tenho uma certa tendência para atrair este género de gente quando entro num restaurante). À nossa frente, dois mexicanos — com um chapéu típico na cabeça e uma camisola da selecção no dorso — recapitulavam ao detalhe tudo o que tinham feito durante a viagem: um ditava e o outro tomava notas num caderno.
Mas o que interessa numa esplanada, durante a Primavera, não é propriamente ficar a conhecer o roteiro turístico dos mexicanos: é apanhar um pouco de sol e esquecer durante uma hora o ambiente insuportável de um escritório empestado com bactérias do ar condicionado.
A ementa
Quando chegámos, trouxeram-nos dois simpáticos pãezinhos: um de sementes e uma chapata. No entanto, não é o pão que prova que a cozinha da Mensagem é liderada por um chef com uma estrela Michelin. João Rodrigues é o responsável pelo magnífico Feitoria — a que já fomos, também no Altis Belém — e trata da cozinha da Mensagem. Isso nota-se claramente em alguns detalhes maravilhosos, como os deliciosos grissini que vêm com o couvert. Feitos com polenta, no próprio restaurante, são provavelmente os melhores grissini que já comi: leves e muitíssimo saborosos, têm alguns vestígios da polenta à superfície. A acompanhar, vem ainda uma boa manteiga de ervas nada enjoativa e uma óptima pasta de atum ligeiramente picante, com uma consistência quase perfeita.
Para compor, tem ainda umas originais azeitonas temperadas com casca de limão e laranja e malagueta. Tudo isto está disponível pela módica quantia de €3,25. E este é um preço por pessoa: ou seja, cada cliente tem direito a meio pão de sementes e meia chapata. Se acha que é caro, não se atreva a pedir mais um pouco de grissini: nós pedimos e cobraram-nos um terceiro couvert pelo reforço inusitado.
Resumindo, só em couverts foram €9,75. Os grissini são deliciosos, mas não sei se valem assim tanto. E ainda nem falámos das coca-colas. Servidas em garrafas de 24 cl, custam €4 cada, o que dá o imbatível preço de mais de €16 por litro de coca-cola.
Ultrapassado esse pequeno detalhe, o melhor é passar para os pratos principais.
As saladas
Começámos por escolher um carpaccio de salmão fresco acompanhado com um delicioso molho oriental, laranja e uma salada japonesa composta por finíssimos fios de beterraba, cenoura e nabo que, além de frescos e leves, se tornam crocantes. Por cima, vinham umas ovas de salmão que lhe davam um toque salgado fantástico.
A seguir veio uma salada de fusilli (apesar de light, sempre é preciso algum hidrato de carbono para pôr este corpinho musculado a funcionar) com atum fresco braseado de forma perfeita (selado por fora e cru por dentro), rúcula, tomate cherry, maçã Granny Smith e uns ovos de codorniz cozidos de forma sublime: a clara consistente e a gema húmida e ligeiramente líquida.
As sobremesas
Depois do avultado investimento que fizemos no couvert e nas coca-colas, já não houve disponibilidade para arriscar no arroz doce cremoso com gelado de canela (€5) ou no creme brûlée de mascarpone com banana caramelizada e gelado de toffee (€5). O máximo que conseguimos foi fazer uma pequena aplicação financeira em dois cafés Nespresso colocados no mercado à assustadora cotação de €2,5 por café.
O serviço
Quando chegámos, entrámos pela recepção do hotel. A entrada para a cafetaria é uma gigantesca porta em vidro giratória que passa discretamente por uma enorme janela. Resultado: a primeira reacção deste génio do mundo moderno que dá pelo nome de Ele foi parar especado à porta sem saber muito bem o que fazer. Perante a inteligente passividade do cliente, vieram logo dois simpáticos empregados a correr girar a pesada porta para que sua excelência entrasse. Não sei se fiquei mais envergonhado perante o aparente capricho de cliente insuportável ou perante a minha profunda ignorância.
Ao longo da refeição, os empregados foram sempre altamente disponíveis e atenciosos. Mesmo quando nos preparávamos para pedir uma salada de vieiras como prato principal, sugeriram educadamente que era capaz de ser melhor pedir a salada de fusilli porque as vieiras não alimentavam nem uma top model em dieta rigorosa.
O único reparo vai para o cheiro a fritos que se sentia acentuadamente no interior do restaurante: não sei se por descuido do serviço ou se por incapacidade do exaustor.
As crianças
Há um menu infantil com um creme de legumes (€3), um lombinho de garoupa (€12), uns panadinhos de frango (€10) e uma mousse de chocolate com gomas e marshmallows (€4).
O bom
O espaço e o serviço
O mau
O cheiro a fritos e o preço das coca-colas
O óptimo
A comida e os grissini
Uma boa esplanada para si onde quer que o sol esteja,
Ele
fotos: mensagem
Dá mesmo vontade de experimentar !
Muito Fixe.