Chegar ao Mercado de Carcavelos pode ser tão difícil como descobrir as Ilhas Kerguelen no mapa. Primeiro, o Google Maps mandou-nos para São Domingos de Rana. Depois, a minha querida Mulher Mistério decidiu que o caminho mais próximo seria por Matarraque. Até que, finalmente, uma simpática senhora na rua resolveu elucidar-nos sobre o trajecto correcto:
– É além.
– Mas… além, onde?
– É além.
– Mas será que me podia explicar o caminho um pouco mais detalhadamente?
– Ah, sim, claro! Segue em frente na rotunda e depois vira à direita. Passa por baixo da linha do comboio e está além.
Finalmente, consegui vislumbrar no horizonte uma ténue esperança de encontrar o Mercado de Carcavelos, mais de uma hora depois de ter saído de Lisboa – por sorte, decidimos ir no fim-de-semana, por isso tivemos tempo para nos perdermos.
O ambiente
O espaço está rodeado por prédios, a estação de comboios e umas carruagens cobertas de graffiti e de frases irreproduzíveis num blog de boas famílias como este. A área descoberta é grande e espaçosa, mas a vista está longe de ser tentadora. De resto, as opções que tem aqui são uma pastelaria, uma cafetaria, uma hamburgueria e os dois motivos que nos trouxeram até Carcavelos: o Santini e um clone mais simples do grande Eduardo das Conquilhas que aqui dá pelo nome de Eduardo dos Petiscos, a nossa opção para almoçar.
Do lado de fora, há uma esplanada grande com bancos corridos e, no interior, uma marquise rodeada de vidro não muito grande e que se pode tornar bastante barulhenta, especialmente se tiver ao seu lado uma mesa com uma família numerosa com o nível de decibéis da Cristina Ferreira. Não foi o nosso caso. O que encontrámos ao chegar ao restaurante foram duas famílias numerosas fundidas na mesma mesa e com uma ala feminina que tornava a Castafiore numa cantora de músicas de embalar.
A sorte é que nós tínhamos deixado a nossa mini-equipa de futsal em casa, em estágio para os testes que se avizinham, por isso não contribuímos ainda mais para a confusão no restaurante.
A ementa
Se espera encontrar um restaurante de marisco com muita opção de escolha, o melhor é ir ao verdadeiro Eduardo das Conquilhas, junto à estação da Parede. Aqui as opções de escolha são bastante mais reduzidas (por exemplo, não havia conquilhas) e dividem-se entre alguns mariscos, petiscos, pregos, sushi e uns pratos tradicionais.
Mas antes sequer de olhar para a ementa pedimos aquilo que é mais importante em qualquer restaurante de petiscos: duas imperiais (€1,50) que aqui são Heineken, bem tiradas e muitíssimo geladas. Foi o suficiente para me anestesiar da conversa estridente da mesa do lado, onde uma mulher explicava, ao devorar uma fatia de bolo em formato XXL:
– Eu não estou de dieta só que as coisas não me sabem à mesma coisa.
E um homem gritava para o grupo, com os olhos vidrados na televisão:
– Aquilo é uma gaija?
Os petiscos
Concentrados na ementa, eu fui escolhendo os petiscos enquanto a minha querida Mulher Mistério pedia uns pratos de sushi para levar para as crianças, em casa. O empregado explicou, sempre muito simpático, que bastava pedir o sushi no fim do almoço, porque demorava apenas dez minutos a fazer e, por isso, focámo-nos nos mariscos. Começámos com umas boas ostras (€2 cada) que vieram grandes e bem frias e que conseguiram chegar antes do cesto de pão do couvert.
A seguir, à falta de conquilhas, vieram umas óptimas amêijoas com um molho à Bulhão Pato (€12,50) exactamente como deve ser feito: simples, sem invenções e com nacos gigantes de alho e raminhos inteiros de coentros. A terceira etapa do almoço foi ocupada com umas fantásticas gambas ao sal (€12) que aqui recebem o faustoso nome de gambon. Além de enormes, são assadas no forno por cima de uma cama de sal grosso e vêm para a mesa mesmo no ponto, com o marisco húmido e nada seco e a quantidade de sal perfeita. Faltaram só umas pedrinhas de sal grosso por cima que são sempre agradáveis de trincar.
Antes de passarmos para a fase final da refeição, ainda provámos um bom edamame (€3,50), esse, sim, servido com grandes pedras de sal grosso e com umas sementes de sésamo que lhe davam um toque surpreendente, e umas puntillitas (€7), apresentadas como uma especialidade da casa, mas que foram a grande desilusão da tarde: lulas grandes demais, moles, gordurosas e sem uma cobertura de farinha uniforme.
O almoço acabou com um pica pau (€7) que também estava longe de qualquer encanto: além de a carne não ser nada de especial, vem com uns pickles que eu dispensava e com um molho de natas ligeiramente enjoativo.
A sobremesa
Ainda ponderámos comer a sobremesa no Santini, mas o nosso espírito aventureiro levou-nos a arriscar numa mousse de Oreo (€2,80) que tinha tanto de doce e enjoativa como tão pouco de bolachas Oreo (timidamente raspadas por cima do creme).
O serviço
Foi sempre rápido e atencioso, preocupado em fechar a porta para não fazer frio e em ver se não faltava nada. Até que…
…Ela resolveu, então, pedir o sushi para levar para casa, no final do almoço, tal como o empregado tinha recomendado:
– Ah, pedimos imensa desculpa, mas a cozinha de sushi já está fechada.
– Mas foi o seu colega que nos disse para pedirmos só no final da refeição.
– Peço imensa desculpa, mas é que já não tenho mesmo nenhum sushiman aqui. Saíram há bocadinho, agora não tenho mesmo maneira de lhe preparar nada.
É claro que, perante a simpatia do empregado e a forma como se desfez em desculpas, a minha querida Mulher Mistério conteve a sua raiva e limitou-se a sorrir.
As crianças
As nossas ficaram sem sushi, as suas poderão comer um prego (€3,50), uma bifana (€3) ou um bitoque (€8,50) se vierem aqui. Para lá disso, não há menu infantil. Só um espaço enorme para correrem e saltarem ao ar livre. Com vista para os graffiti dos comboio, mas não se pode ter tudo.
O bom
O marisco, especialmente as gambas ao sal e as amêijoas.
O mau
O espaço do mercado, as puntillitas e a mousse de Oreo
O péssimo
O barulho dentro do restaurante
Um óptimo jantar para a família da Castafiore onde quer que ela esteja,
Ele
fotos: mercado de carcavelos e casal mistério
Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial.
Excessivamente caro para a qualidade do que serve e para a quantidade, alias carissimo para a quantidade!! Restaurante? Nao, aquilo eh um espaco em que se pode comer ca fora ou num corredor.
Ja repararam quanto gastaram em comparacao com uma boa refeicao noutro restaurante dos tantos que aqui referem?
Enfim uma roubalheira mas eh da moda esses locaizinhos assim, se fosse uma tasca serviam-lhe o mesmo mas nao gastava tanto porque as doses alem de bem servidas nao sao a esses precos.
O local eh inenarravel, horrivel de feio e suburbano nao sei como a Santini apostou nesse local, so lhe retira prestigio.