Quando se dobra o Cabo de Sines, tudo muda. A areia é mais fininha e as águas aquecem, sobretudo na Praia de São Torpes – não porque nos aproximamos do Equador, mas devido à proximidade da central termoelétrica. Apesar daquelas chaminés gigantes, ali tão próximas da praia, aquele mar mais parece uma piscina, com ondas perfeitas, ideais para quem quer começar a aprender a fazer surf.
A verdade é que não foram só as chaminés que nos afastaram da praia. A esplanada do Trinca-Espinhas é uma tentação, e a ementa então nem se fala. Com uma nova gerência desde o ano passado, o peixe, o marisco e os petiscos são uma aposta segura. Também pode optar por pratos tradicionais portugueses como cataplanas e arroz de marisco.
Fartos de nos ver a comer, os nossos filhos já só sonhavam com a praia. Tinha-lhes prometido que iam conhecer uma das mais bonitas da região a seguir ao almoço. E inspirada pela proximidade de Porto Covo, entoei o “Prometido é Devido”, enquanto introduzia no GPS do carro a Praia da Samoqueira. Ao volante do SEAT Leon, o meu querido Marido Mistério estava deslumbrado a olhar para o painel digital à frente do volante. Ao contrário dos painéis de instrumentos habituais, este é totalmente digital, o que quer dizer que pode colocar o mapa do GPS a ocupar o ecrã todo mesmo à frente do volante, evitando desviar o olhar. Ele parecia uma criança, encantado a experimentar todas as opções. O nosso destino estava a uns parcos dez minutos.
Mas, se fizer este percurso, vale a pena parar 3,5 km à frente para conhecer o Magic Cactus, na Praia da Vieirinha. É um bar que serve cervejas, gins tónicos e cocktails para tirar a sede, e camarões fritos, mexilhões, tostas, pregos e bifanas para tirar a fome. Tem um ambiente giro, animado e é ideal para ir beber um copo ao fim da tarde enquanto vê o sol a pôr-se no mar. Depois, siga para sul, rumo a…
…Porto Covo
Oito minutos depois estávamos a estacionar no parque da Praia da Samoqueira. Que sonho, que cor de mar: é azul, é verde, é azul e verde, é simplesmente maravilhosa! Com várias enseadas divididas pela falésia e pelas formações rochosas, a praia parece que não acaba. É linda, mas infelizmente não é propriamente deserta. Apesar de tudo, tivemos sorte. Escolhemos uma enseada mais recatada e conseguimos espaço para a nossa numerosa família.
Mas vale a pena uma visita, apesar da densidade de chapéus de sol por metro quadrado. O ideal é ir logo de manhã ou ao fim da tarde, quando está menos gente, e com a maré vazia. Mas não se deixe enganar: apesar do tom da água fazer lembrar as Caraíbas, quando mergulhamos, a temperatura do mar dá-nos um banho de realidade: estamos mesmo em plena costa alentejana.
Por falar em enseadas, se gosta de praias pequenas em forma de concha, com o mar mais calmo, abrigadas do vento pelas falésias que a rodeiam, ande mais dois minutos de carro e vá até à Praia do Serro da Águia.
É, como diria a minha avó, “apetitosa”. Mas atenção: não é vigiada. Tem de descer umas escadinhas e depois é só apontar a câmara, porque este é um spot digno de Instagram!
Claro que tem de espreitar a Praia de Porto Covo propriamente dita, bem como a da Ilha do Pessegueiro, mas como são mais conhecidas, normalmente estão mais cheias no verão. Também pode ir passear até à ilha imortalizada pelo música de Rui Veloso. Durante os meses de verão (entre 15 de junho e 15 de setembro) há visitas guiadas que duram aproximadamente duas horas. Apesar do nome, aqui não vai encontrar um único pessegueiro, mas vai descobrir ruínas romanas, uma pedreira, cisternas e um varadouro, um forte e, claro, a fauna e flora locais. Só tem de apanhar o barco no Porto de Pesca de Porto Covo, mas é melhor reservar antes.
Outro programa que vale a pena é percorrer os trilhos desta costa a pé, de jipe ou de bicicleta guiados por quem domina a região. A empresa Alentour organiza as mais diversas atividades e os mais inusitados passeios longe dos roteiros turísticos. As opções são inúmeras: desde a observação da natureza (praias, quedas de água, passeios a cavalo, etc.) a programas gastronómicos e culturais, vale a pena espreitar aqui as atividades que sugerem.
Depois de percorrer tanta praia, já apetece um banho quente e um hotel para descansar. A opções nesta zona são várias. Há novidades lindas, simples e com bom gosto: O Lugar, uma guesthouse que mais parece uma casa de família com uma decoração minimalista e com peças de design, tem apenas 6 quartos com preços muito acessíveis e fica mesmo em Porto Covo.
A Cabeça de Cabra é uma antiga escola primária transformada numa encantadora casa de hóspedes.
Tem apenas 5 suites, todas elas decoradas com gosto mas num estilo minimalista, onde imperam o branco e as madeiras.
Para ter uma noção, na época alta, em pleno verão, a suite mais cara custa 110 euros por noite.
O Três Marias é uma casa de campo com dez quartos (duplos, superiores e duplo com mezzanine) situada entre Porto Covo e Vila Nova de Mil Fontes. Começou por ser um restaurante, mas o proprietário, um suíço que se apaixonou pelo Alentejo, começou a construir quartos, porque “as pessoas iam ficando”.
Simples e confortáveis, os quartos são todos brancos, onde se destacam o linho e o algodão e algumas peças de design que lhes dão um toque de modernidade. O pequeno-almoço é caseiro e delicioso, e os preços são bastante acessíveis.
Claro, depois tem a Herdade da Matinha que é uma verdadeira instituição na região. Um dos turismos rurais mais antigos da zona foi crescendo, tem mais quartos, uma piscina nova, inúmeras atividades e uma gastronomia de excelência.
Os ingredientes de todas as refeições são criteriosamente escolhidos pelo chef nas duas hortas biológicas de herdade. Com um alpendre de sonho, a Matinha é uma explosão de cor, bom gosto, arte de bem receber e de tranquilidade.
Finalmente, a Herdade do Reguenguinho dispensa apresentações. Este projeto também tem vindo a crescer, ganhou duas suites suspensas em palafitas que são o ex-libris do hotel: românticas e afastadas da casa principal, são ideais para namorar.
Os quartos são coloridos e confortáveis e o pequeno-almoço, além de ser caseiro e delicioso, é servido até ao meio-dia.
E, claro, tem sempre a hipótese de arrendar uma das nossas casas preferidas da região: a Casa na Costa Alentejana, situada a meio caminho, entre Porto Covo e Vila Nova. Parece uma casa de bonecas, não é? Eu adoro.
Com capacidade para 10 pessoas, com sala de estar com lareira, sala de jantar e cozinha integrada, 4 quartos, 3 casas de banho, piscina, alpendres e banquinhos exteriores, esta casa é ideal para um grupo de amigos.
Tem ainda limpeza disponível, o que, em tempo de férias, é muito agradável.
E de repente, fiquei com fome. Onde comer por aqui? Vale a pena ir até Sines onde tem duas ótimas opções: se lhe apetecer uma refeição mais sofisticada, vá ao Cais da Estação, onde já nos desgraçámos com um ótimo choco frito com arroz de lingueirão e um incrível pudim de requeijão com nozes (mas infelizmente este ano está fechado durante o verão); se preferir um tasco, não hesite: vá petiscar marisco fresco e o peixe do dia ao Bejinha, na lota de Sines.
Em Porto Covo, a cervejaria O Marquês nunca desilude com bom peixe e marisco frescos, e O Torreão, do outro lado da praça, tem bons secretos de porco preto, boas amêijoas e um ótimo choco frito.
Mas vale a pena fazer os 20 km até Vila Nova de Milfontes para almoçar, jantar ou simplesmente petiscar…
Vila Nova de Milfontes
Para ir à Tasca do Celso, por exemplo, eu faria tranquilamente mais 100 quilómetros. Que tentação, meu Deus! Que desgraça. Tudo aqui é delicioso: os petiscos, as amêijoas, a açorda de camarão, o peixe sempre fresco, e a sericaia? Ai. Ir a Vila Nova e não ir ao Celso é pior do que ir a Roma e não ver o Papa.
Um restaurante que nós adoramos em Vila Nova de Milfontes é a Choupana. Faz-me lembrar a épica música do José Cid “Na cabana, junto à praia…”. É literalmente uma cabana, em frente ao mar, com uma vista deslumbrante (não perca o pôr do sol aqui) e uma grelha fora de série. O peixe é sempre fresco e muitíssimo bem grelhado.
Outro sítio a que também não pode deixar de ir é ao Porto das Barcas. Com uma localização imperdível, tem os óbvios peixe e marisco frescos e as carnes alentejanas, mas a ementa é mais requintada.
Desde as Gambas à Brás, às tibornas alentejanas com queijo de cabra, dos rolinhos de alheira de caça com courgette e queijo da ilha à irresistível mousse de chocolate com flor de sal e azeite virgem, difícil vai ser escolher.
No centro de Vila Nova, tem ainda o Ritual. Com receitas de autor e uma cozinha do mundo, tem petiscos deliciosos, tapas surpreendentes e pratos para todos os gostos: os melhores hambúrgueres da zona e inúmeras opções vegan e vegetarianas.
E, claro, já que está no Alentejo, passe pelo Pátio Alentejano. Mas não vá se estiver de dieta: as especialidades são migas alentejanas, ensopado de borrego, açorda, e das sobremesas, feitas à base de ovos e amêndoa, nem se fala.
As praias, aqui, são consideradas uma unanimidade. A Praia do Malhão é basicamente a praia oficial dos habitués de Vila Nova. A praia é linda e espaçosa e no verão enche-se de famílias que passam férias por aqui há anos sem fim. E até tem um parque de estacionamento renovado! Também para os adolescentes, esta praia e a noite de Vila Nova de Milfontes tornaram-se um paraíso: além de a zona ser mais barata do que o Algarve, a noite acaba muito depois de o sol nascer.
A Praia dos Aivados, a norte, foi em tempos considerada uma praia selvagem. Hoje em dia, tem mais gente, mas apesar de tudo, bastante menos do que o Malhão. Os surfistas adoram-na, já eu, que estou a ir para velha, prefiro um mar ligeiramente mais calmo.
Outro programa que tem de fazer em Vila Nova é mergulhar no Pego das Pias. É um ótimo spot para nadar, atirar-se das rochas, passear de barco, enfim, divertir-se e refrescar-se do calor do Alentejo. Para lá chegar, vá pela estrada que liga São Luís a Odemira, 200 metros depois de passar a ponte sobre a ribeira do Torgal, vire à esquerda para um caminho de terra batida e ande sempre em frente até começar a ouvir o som da água.
Também vale a pena fazer umas compras no centro de Vila Nova e fazer ski ou paddle surf no Rio Mira. E já agora, não saia de Vila Nova sem provar o pão da Ercília, o melhor pão alentejano da região. Antes de regressar a casa, pare em Venda Fria, a cerca de 5 km de Vila Nova, e leve vários pães para congelar.
Entre Vila Nova de Milfontes e a Zambujeira do Mar, o que não faltam são sítios giros para dormir.
A 15 minutos de Vila Nova, a Herdade do Amarelo é a opção ideal para casais apaixonados. O romance está claramente no ar: desde a decoração das suites às banheiras de hidromassagem nos quartos, passando pelo incrível spa a céu aberto, respira-se paixão com um ligeiro toque marroquino presente em detalhes como as lanternas no chão e a decoração de alguns quartos.
As 10 suites são todas diferentes umas das outras, em comum têm materiais tipicamente alentejanos misturados com o exotismo do mundo árabe. Estão basicamente divididas em dois tipos: familiares e românticas. As primeiras são ideais para um casal com filhos, as últimas são pensadas para uma noite a dois. O hotel oferece pacotes românticos para quem está a precisar de apimentar a relação.
Zambujeira do Mar
A caminho de São Teotónio, as Casas da Lupa são uma excelente opção para famílias.
São basicamente três casas impecavelmente recuperadas com materiais naturais, rodeadas por um amplo jardim e uma deliciosa piscina, que albergam 4 Master Suites, 4 Suites Alpendres e 3 Quartos Standard. Algumas das suites têm pátios privados com uma pequena piscina exclusiva.
E a grande novidade na região é o Craveiral, um monte moderno e minimalista, muitíssimo bem decorado, com 38 casas com um 1 ou 2 quartos.
A decoração é simples, em tons neutros e claros, com peças vintage onde se destacam as madeiras claras e o branco.
Tem três piscinas, uma delas interior, um restaurante que usa ingredientes da horta e produtos orgânicos, um pomar, uma quinta com animais e está a 20 minutos das praias da Zambujeira do Mar e do Carvalhal.
A Teima, um dos nossos hotéis preferidos da região, já depois da Zambujeira do Mar e de São Teotónio, fica ainda mais perto das praias. Está apenas a 10 minutos da praia do Carvalhal. Tem charme, tem bom gosto, consegue ser rústico e chique ao mesmo tempo, e é o sítio ideal para descansar.
Começou por ter dois quartos, hoje tem 2 suites e 7 quartos (cada um com uma decoração própria e cuidada), uma sala de estar, outra de refeições e uma piscina que tornou o espaço num cartão postal.
Só tem um problema: não vai querer sair dali. Nem daqui…
O Paraíso Escondido mostrou-se ao mundo quando abriu portas em novembro de 2014. O conceito, garantem os proprietários, é “keep it simple”, e por isso, a Natureza, a tranquilidade e a paz são o principal cartão de visita deste lugar tão especial que, ao contrário do que se passa em quase todo o Alentejo, não é numa planície.
O terreno, situado perto de São Teotónio, no concelho de Odemira, tem 8 hectares, é bastante íngreme e foi no ponto mais alto que foram construídos os mais recentes e espetaculares bungalows de madeira, com uma vista deslumbrante.
Aliás, todos os quartos têm uma decoração moderna, simples, minimalista mas que mistura ao mesmo tempo os estilos clássicos português e asiático, com várias peças de mobiliário e arte orientais que o casal foi comprando nas suas viagens pela Ásia. Este paraíso situa-se mais no interior, por isso, ainda demora cerca de meia hora para chegar à praia.
E quais são as melhores praias desta zona? Eu adoro a Praia do Carvalhal. É bonita, selvagem, espaçosa e tem um bar simpático com ótimo ambiente. Um pouco mais abaixo, se gosta de aventuras, tem a ótima Praia dos Machados. Situada apenas a 5 minutos de carro da praia do Carvalhal, é linda de morrer, mas de difícil acesso. Tem de deixar o carro em cima da falésia, andar a pé e no fim do trilho vai ter de descer por uma corda. O acesso mais seguro é feito através do Brejão, pelo último caminho de terra batida, junto a uma casa isolada. Finalmente, a Praia da Amália, mais pequena, mas igualmente deslumbrante ou até mais. Claro que vai ter de andar a pé também. Mas o esforço não é assim tão grande e compensa. Além disso, é abrigada do vento.
Depois de tanto andar a pé, já comíamos, não? Se procurar uma refeição mais à séria, tem o incontornável restaurante O Sacas. É um dos clássicos da Zambujeira do Mar e é lá que costuma encontrar percebes grandes e carnudos e uma deliciosa feijoada de búzios que deixa o meu querido Marido Mistério quase em levitação. O que o deixa ligeiramente menos entusiasmado é o peixe grelhado. Apesar de ser fresquíssimo e grelhado no ponto, é temperado com azeite e alho (uma tradição da Costa Alentejana). E, para Ele, peixe delicioso é para grelhar só com sal.
Para sobremesa, peça a tarte de figo e amêndoa que não se vai arrepender.
Uma alternativa ao Sacas é a Barca Tranquitanas, que fica a apenas 200 metros de distância. Aqui o peixe grelhado já vem sem alho e também encontra uma ótima feijoada de búzios. Prove ainda os filetes de pampo que costumam ser deliciosos.
Mais sofisticado, mas também mais caro, é o Costa Alentejana, um restaurante que mistura uma boa oferta de marisco com carnes maturadas ou entradas promissoras como as vieiras com mel. Nós ainda não lá fomos – sempre que tentámos estava cheio – mas ficámos tentados com os barcos de marisco: um enorme barco de madeira recheado com ostras, sapateira, amêijoas, camarão e navalheiras.
Se preferir apenas uns petiscos mais simples e especialmente se não tiver medo de gatos – aqui costumam sair de todos os lados – não deixe de passar pelo Café Palhinhas, que fica na Azenha do Mar, já quase a chegar a Odeceixe, e que tem uma das melhores vistas para o pôr do sol.
No Palhinhas, é tudo caseiro e artesanal. Não espere luxos nem requintes. Mas espere uns ótimos percebes, um bom camarão al ajillo, umas simpáticas amêijoas, um peixe grelhado e fresquinho ou, mais importante do que tudo o resto, um fabuloso gin ou um mojito enquanto se deslumbra com o pôr do sol.
E com tudo isto, já chegámos a Odeceixe onde começa a não menos deslumbrante Costa Vicentina. Mas essa merece o seu próprio roteiro. Fica a promessa. E não vai ter de esperar muito.
Leia ainda:
Onde dormir:
Onde comer:
O Bejinha, Sines
Cais da Estação, Sines
Trinca-Espinhas, São Torpes
Magic Cactus, Praia da Vieirinha
O Marquês, Porto Covo
O Torreão, Porto Covo
Tasca do Celso, Vila Nova de Milfontes
Choupana, Vila Nova de Milfontes
Porto das Barcas, Vila Nova de Milfontes
Ritual, Vila Nova de Milfontes
Pátio Alentejano, Vila Nova de Milfontes
O Sacas, Zambujeira do Mar
Barca Tranquitanas, Zambujeira do Mar
Costa Alentejana, Zambujeira do Mar
Café Palhinhas, Zambujeira do Mar
Onde mergulhar:
Para ir até à ilha: Reservas das 9h00 às 19h00 – Joaquim Matias: 965 535 683
Boas férias,
Ela
fotos: casal mistério e d.r.
Este roteiro foi feito com o apoio da SEAT
Excelente post. Obrigado por chamarem as coisas pelos nomes, nomeadamente, Costa Alentejana (Sines a Odeceixe) e não Costa Vicentina (Odeceixe a Sagres) como a maior parte erradamente chama… Inclusive a “Rota Vicentina”…
Excelente roteiro..vinha mesmo a calhar a terceira parte!!
Xiuuuu estes têm sido os meus segredos desde há muito!!! 😉 passo férias em Sines desde que me conheço(onde tenho raízes) e quero que alguns sítios se mantenham ainda quase “selvagens”. 😊