decadente, uma experiência inesquecível

     

     

    Mesa para seis pessoas, restaurante Decadente, Lisboa

     

    O serviço

    – Olhe, desculpe. Esqueceu-se do meu copo. 

    – Hmm… É que… Pois… Não sei se temos copos de vinho tinto lavados… 

    – E então?…

    – pois… Hmm… Deixe-me ver se lhe arranjo um

    [mas o homem está à procura na sala?] 

    [cinco minutos depois]

    – querem fazer os pedidos?

    -eu queria mesmo era um copo.

    – é que estão a secar.

    – mas estão vários virados para baixo ali no balcão?

    – exacto, estão a secar. 

    – Mmmaaas….

    – Deixe-me só tirar o pedido que já o trago.

    [outros cinco minutos depois]

    – está aqui o seu copo. Quer que lhe sirva vinho?

    – se faz favor.

    – ah, parece que a garrafa acabou. Vão querer outra?

    O nome do restaurante Decadente só pode ser uma homenagem a este empregado de mesa.

     

    O ambiente

    Feche os olhos. Agora imagine que está num velho palacete, com portas largas, um pé direito alto, ambiente bem decorado, estilo vintage, em que objectos velhos (não são antigos, são mesmo velhos) ficam bem ao lado de artigos modernos. Agora feche melhor os olhos. Que som é que ouve? A nona sinfonia de Beethoven? Não. É mais o mercado da Ribeira num sábado à tarde. 

    O ambiente do Decadente é jovem, moderno, urbano e bem disposto. Isso tem vantagens. Mas não só. Na varanda exterior, os bancos das mesas não têm encosto; no interior o barulho é ensurdecedor; em todo o lado, o serviço é relaxado – demais. Vale o bom gosto da decoração, o edifício antigo recuperado e a movida nocturna. Se não se importar de jantar num sítio com o nível de ruído de um bar de Albufeira, este é o restaurante ideal.

    Áreas: sala de restaurante, esplanada e bar que costuma estar apinhado de gente à noite.

    A ementa

    Couvert 

    O pão é de Mafra (atenção, pode baixar as expectativas: não é o mesmo do que pão alentejano) e a manteiga de ervas sempre dá um toque diferente. Mas, pode ser do meu excesso de exigência, não é um couvert que me faça adormecer a pensar nele.

    Entradas 

    Carpaccio de Peixe-Manteiga – Tinha tudo para ser uma belíssima entrada. O aspecto era divinal: Peixe-manteiga fresco, cortado finíssimo, decorado com rúcula e temperado com aneto e limão. Tinha tudo…menos sal. E quando as expectativas são altas, a decepção ainda é maior. Não há pior do que um prato insonso. Perde a graça. E foi isso mesmo que aconteceu.

    Carpaccio de novilho – Quem gosta de carpaccio tem de passar por aqui – com muito pouca fome ou com dinheiro suficiente para pedir três doses. O carpaccio de novilho tem tanto de bom como de pouco. Ao contrário do que é costume na grande maioria dos restaurantes de Lisboa, aqui o carpaccio não parece um bife de alcatara: é cortado finíssimo e a carne parece que se desfaz na boca com a quantidade de gordura perfeita e invisível. O queijo da Ilha dá-lhe o toque de sal suficiente de uma forma surpreendente. Problema: uma dose inteira equivale a uma rodela de um carpaccio do Eataly.

    Pratos Principais 

    Bochechas de porco cozinhadas em longa cozedura (12 horas), com batata doce, agrião e redução de vinho tinto – A carne é tenra (como dizia a minha avó, mal feito fora…) e a batata doce joga bem com o porco. Mas é tudo: o agrião é indiferente e a redução de vinho tinto é intensa de mais, ao ponto de se tornar desagradável.

    O Melhor Bife do Miradouro – Bife de picanha, ovo cozido em longa cozedura a 65°, batatas caseiras com molho especial e mix de folhas. Simplesmente genial. O bife, tenro e saboroso, o ovo, original e delicioso, as batatas, uma tentação e um peso na consciência, e o mix de folhas fundamental para nos convencermos de que até estamos a comer um prato saudável!

    Sobremesa 

    Crème de outono (Crème brulée de puré de castanhas) – Castanhas são boas para comer assadas às duzias na rua ou então para comporem um prato ou sobremesa com outros sabores principais. Um crème brulée de castanhas é um projecto arrojado e, já agora, também demasiado enjoativo.

     

    E só para acabar, um abraço para si onde quer que esteja,

    Ele

     

    fotos: decadente

     

    2 comentários em “decadente, uma experiência inesquecível

    1. Aqui está uma casa que enche porque está na moda… fui cliente, uma única vez e jurei que nunca mais. Mal atendido, má qualidade na confecção dos pratos, etc
      Mas como a maioria, vai lá para ver e ser visto, a coisa vai enchendo a casa.

    Deixe um comentário

    O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *