A ementa
Quando juntam, num prato à minha frente, laranja, abacate, queijo feta e tomate cherry, fico radiante. Não sou muito exigente. Adoro esses ingredientes e, então, juntos numa salada, são como o Duarte e Companhia: complementam-se como ninguém. Se, por cima disto, ainda colocar um pouco de alface, é imaginar o Lúcifer a juntar-se ao grupo. A Salada Doca, na esplanada do restaurante Doca de Santo, em Lisboa, não é nada de imensamente espectacular. É simplesmente boa. E isso é tudo o que se pode exigir aqui.
Não espere comida fabulosa nem um ambiente refinado. Imagine uma esplanada decente, junto ao rio, onde se paga €9,90 por uma salada. Não é um sítio do outro mundo. Mas não é um lugar onde não se queira voltar nunca mais na vida. É um restaurante mais ou menos. E isso, às vezes, dá jeito.
No couvert, vem um pão de passas bom, um pão de sementes razoável e um pão de sementes de sésamo bonzinho. Ao lado, há uma manteiga de pacote decente e umas azeitonas que foram a primeira desilusão da tarde – são tão más como à partida parecem ser.
Ultrapassado isso – afinal de contas, é um detalhe – chegou a segunda desilusão da tarde. E esta não se pode dizer que seja rara: não havia Coca-cola. Só Pepsi. A sério?! Eu adoptei uma nova e inteligente (pelo menos, era o que eu pensava) estratégia neste ponto. Não bebo. Se não tem Coca, não quero Pepsi. Prefiro água. Assim, gasto menos – pode ser que o restaurante aprenda. No entanto, a tremenda inteligência da estratégia barrou na básica inteligência do restaurante: uma água é mais cara do que uma Pepsi. De certa forma, percebo. Afinal de contas, água é muito melhor do que Pepsi…
O serviço
Há três tipos de pessoas: os optimistas, que vêem o copo sempre meio cheio; os pessimistas, que vêem o copo sempre meio vazio; e os realistas, que vêem que alguém vai ter de lavar o copo. É claro que eu estou do lado da máquina de lavar. Por isso, depois de olhar para a ementa de saladas, hambúrgueres e afins, preocupei-me apenas com o importante: ser atendido de forma competente. Foi o que encontrei aqui. A empregada não falhou, não demorou mas não deslumbrou. Foi eficaz. Cumpre os mínimos olímpicos.
Um fim de tarde de calor e um copo de gin na mão é tudo o que um homem precisa para ser feliz. E aqui isso é possível. O Gin Club, o mesmo do Sushi Avenida, tem aqui um gin corner, que é como quem diz um pequeno bar no meio da esplanada. Nas noites quentes, é o sítio perfeito para vir beber um copo antes de sair para jantar. Os gins são óptimos e o serviço especializado. Quando lá estive, algum tempo antes deste almoço, tinha um ligeiríssimo problema: um acordo de exclusividade com a Schweppes para o fornecimento de águas tónicas. Convenhamos que num bar especializado em gin não é uma grande ideia – especialmente quando a Fever Tree tem tónicas excelentes. É como o problema da Coca-cola e da Pepsi. Mas, neste caso, ainda não arrisquei beber o gin com água Castelo.
O ambiente
O espaço é engraçado e está num sítio óptimo: as docas de Lisboa. Tem alguns detalhes interessantes: colunas de ardósia com sugestões escritas a giz, ventoinhas penduradas no tecto e enormes janelas abertas. Apesar do calor, estava uma temperatura agradável na zona coberta da esplanada. No entanto, há que reconhecer com alguma frontalidade que tudo isto já foi mais surpreendente há uns anos. E isso nota-se: as cadeiras de palha pretas estão um bocadinho a atirar para o velhotas e as outras, que vão alternando nas mesas com diferentes cores ou padrões floridos, vão dando alguma vida ao espaço. No entanto, não se percebe bem se estão ali de propósito, para ajudar a decorar, ou simplesmente para substituir as cadeiras pretas que já estão impróprias para consumo.
No fundo, o Doca de Santo é um bocadinho a Sophia Loren dos restaurantes: já foi uma bomba, mas os anos passaram e as operações plásticas não resolveram tudo. Qualquer pessoa percebe que já teve o seu tempo.
O bom
A salada Doca
O mau
A decoração recauchutada
O óptimo
O bar de gin
Um abraço para a Sophia Loren, onde quer que ela esteja,
Ele
Gostei da comparação.