O serviço
Uma coisa é ter o Carson, de casaca vestida e mãos atrás das costas, a olhar pacientemente para nós enquanto acabamos o jantar; outra coisa é ter a empregada do D’Oliva, de avental à cintura e prato na mão, a olhar nervosamente para nós enquanto tentamos engolir de uma só vez o carpaccio e procuramos desesperadamente salvar as últimas lascas de parmesão que estão na iminência de ser sugadas para a cozinha. Eu sei que, assim à primeira vista, posso parecer tão rabugento como a velha condessa de Grantham, mas, convenhamos, há um meio-termo entre o exagero cerimonioso de Downton Abbey e a descontracção amigalhaça do D’Oliva.
Eu não peço muito, dispenso as vénias à entrada e até ser tratado por m’lord, mas gosto de comer descansadamente e, já agora, agradecia que pudessem esperar que eu terminasse antes de retirarem o prato da minha mesa.
Ultrapassando esse pequeníssimo detalhe, o serviço no D’Oliva é de uma simpatia cândida. A relações públicas, que nos recebe à porta de calças de ganga azuis, uma t-shirt branca decotada e um blazer preto fashion, dá ares de Sienna Miller e falta pouco para nos cumprimentar com um beijinho. E o novo sócio (que ficou recentemente com o restaurante de Lisboa, originalmente dos donos do Al Forno, no Porto) fala com os clientes de forma simpática e atenciosa.
O ambiente
A decoração é engraçada e mistura quadros grandes de figuras da Disney com janelas enormes a dar para um pátio com algumas oliveiras. Resultados – um bom e um mau: entra muita luz para a sala, mas o pátio é tão pequeno que, por trás das oliveiras, vemos uma rampa que mais parece o telhado de uma entrada de garagem. De qualquer forma, se se conseguir abstrair da rampa, tem um enorme open space, com duas salas divididas apenas por uns degraus. Esta disposição dá um ar arejado ao restaurante, mas também dá um som barulhento e desagradável à sala vindo das mesas que reúnem pequenos grupos de neoyuppies, de fato, sem gravata e com muito tempo para almoçar.
Apesar de já não existir o buffet ao almoço, aqui toda a gente se conhece. E, quando, no fim da refeição, os neoyuppies se levantam para se servirem do mini-buffet de sobremesas, a sala transforma-se no foyer de um teatro.
A música ambiente é uma boa selecção de jazz mas, se estivesse um pouco mais baixa, ajudava a tornar o nosso almoço um pouco mais calmo.
A ementa
Ao jantar, o serviço à carta é exageradamente caro para o que o D’Oliva tem para oferecer: a comida é boa, mas não é espectacular; a decoração é agradável, mas não é surpreendente; o ambiente é cool, mas já não é da moda. Conclusão: o D’Oliva está desesperadamente a tentar ser aquilo que é no Porto e que nunca conseguiu ser em Lisboa.
Ao almoço, o menu executivo (que substituiu o famoso buffet) é mais equilibrado. Por 18 euros por pessoa, tem direito a um buffet de saladas, uma entrada, um prato principal e um buffet de sobremesas. Todas as semanas, as ofertas mudam.
As entradas
O carpaccio de novilho com rúcula, parmesão, pinhões e alcaparras (o tal que, no meio do stress para terminar, foi engolido sem mastigar) estava óptimo, cortado fininho, bem temperado e com uma fantástica mistura entre a suavidade dos pinhões e o avinagrado das alcaparras.
Os pratos principais
Aqui pode escolher entre pizzas, pastas, carnes (como um apetecível rosbife de picanha) e peixes. Eu optei por uma deliciosa garoupa em crosta de ervas. Bem cozinhada, suculenta, a separar-se em apetitosas lascas brancas brilhantes, vinha com a pele estaladiça e um suave molho de azeite.
As sobremesas
Entre fruta variada, doces e bolos, o buffet de sobremesas é um dos melhores momentos do almoço – e sempre uma óptima oportunidade de ouvir conversas interessantes de empresários, gestores, banqueiros e sofisticados wannabes. Dá para se distrair enquanto saboreia a comida, o que, dependendo da companhia, pode ser útil. Eu, que era o único a cometer essa excentricidade de vestir um fato com gravata, senti-me um bocadinho alienígena. Mas comi bem. Um pouco depressa demais – mas bem.
O bom – A comida e os doces
O razoável – A decoração
O péssimo – O barulho e a pressa de levantar os pratos
Um abraço para os neoyuppies deste mundo, onde quer que eles estejam,
Ele
Adoro este seu/vosso tom subtil de criticar ambientes, pratos, pessoas.
Cumprimentos.
Obrigado. Espero que continue a gostar 🙂
Ele