é um verdadeiro drama nacional! sabia que a bolacha maria não é portuguesa?

    Eu odeio ser portador de más notícias, especialmente notícias que vão provocar uma preocupante comoção nacional, mas a Bolacha Maria, a nossa tradicional e genuína Bolacha Maria, a bolacha que carrega a responsabilidade do nome de mais de metade das portuguesas e que está na base de doces tão nacionais como o bolo de bolacha ou a serradura, não nasceu em Portugal. E até é uma bolacha mais importante e simbólica em Espanha do que aqui. Mas antes de carregarmos os canhões e marcharmos em direcção a Olivença, vamos à História porque a Maria também não é espanhola.

    A História da Bolacha Maria nasceu na década de 1850 e divide-se entre Pushkin e Londres. Em Outubro de 1853, nasceu em Pushkin, a 26 km de São Petersburgo, Maria Alexandrovna, a quinta descendente e única filha do czar Alexandre II da Rússia. Quatro anos depois, James Peek convidou o marido da sua sobrinha, George Hender Frean, para sócio numa recém-criada fábrica de bolachas perto da Torre de Londres. A história destas três personagens cruza-se quase 20 anos depois quando, em 1874, Maria Alexandrovna é pedida em casamento pelo segundo filho da Rainha Victoria, o Duque de Edimburgo. Para celebrar o evento, a Peak Frean and Co. decide lançar, no ano seguinte, uma bolacha comemorativa. Foi aqui que começou a história da famosa Bolacha Maria.

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    Feita com a forma de uma medalha comemorativa, a Bolacha Maria foi fabricada redonda, com o nome Maria estampado no centro e um pomposo rebordo feito com um padrão grego muito popular na Rússia da época. Com uma receita simples e barata (farinha, óleo, açúcar e extracto de baunilha), as Maria biscuits rapidamente se tornaram um sucesso: primeiro, no Reino Unido; depois, no resto do mundo.

    Se a fama britânica se pode explicar pelo interesse à volta do casamento do príncipe, já o sucesso mundial tem mais a ver com a época. O final do século XIX é essencialmente marcado pela Revolução Industrial nascida no Reino Unido. E as bolachas são dos produtos mais surpreendentes desta revolução.

    Desde muito mais cedo que bolachas eram produzidas, mas essencialmente por serem alimentos duradouros usados nas longas viagens de barco. Duras, secas e muitas vezes sem sequer levarem sal, eram produtos desprezados e raramente consumidos em terra. Havia também biscoitos doces e saborosos, mas normalmente de muito pequena produção devido à sua curta validade.

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    A Revolução Industrial modernizou o mundo das bolachas, como explica Margaret Foster, no seu livro Rich Desserts and Captain’s Thins: não só as tornou mais saborosas e com uma validade mais prolongada, como também descobriu novas formas de embalamento que permitiam produzir bolachas em larga escala, mantendo a textura e o sabor durante mais tempo. Em paralelo, o advento do comboio foi uma alternativa mais suave de transporte, em comparação com as estradas esburacadas, permitindo o envio de bolachas para distâncias mais longas sem que estas chegassem partidas ao destino.

    Se a produção melhorou, os hábitos de consumo alteraram-se radicalmente. Com os novos horários de trabalho impostos pela indústria, “os snacks tornaram-se cada vez mais habituais, em vez das refeições tradicionais”. E as bolachas são a forma perfeita para um snack, diz Foster.

    Foi tudo isto que aumentou a procura de bolachas em todo o mundo e que tornou algumas marcas de bolachas, como a McVities, das primeiras grandes marcas globais.

    Na viragem para o século XX, as Bolachas Maria já eram produzidas em Portugal e Espanha. Cá são ultra-populares, mas em Espanha são um símbolo. Fabricadas no país desde o início do século, as galletas Maria tornaram-se um verdadeiro ícone de prosperidade a seguir à Guerra Civil. Depois de anos de guerra e de fome, o governo de Franco lançou uma campanha nacional para a produção de trigo, o que acabou por resultar num excedente.

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    Os preços baixaram e, com as sobras decorrentes da produção de pão, as panificadoras começaram a produzir bolachas Maria em larga escala e a preços baixos. O produto tornou-se tão popular que era oferecido nos cafés, acabando mesmo por virar um símbolo de prosperidade económica usado pelo Franquismo.

    Hoje, segundo o livro The Oxford Companion to Food, as galletas Maria representam quase metade das bolachas produzidas em Espanha. Mas também são vendidas em locais tão distantes como o Japão. Tudo porque pouca gente resiste àquele sabor equilibrado e não demasiado doce e àquela textura dura que aguenta três ou quatro mergulhos num copo de leite quente sem transformar a bolacha numa massa disforme. Eu cá, continuo a preferi-las em sanduíche, com manteiga no meio.

     

    Uma óptima bolacha para si onde quer que a Maria esteja,

    Ele

     

    fotos: d.r.

    Um comentário em “é um verdadeiro drama nacional! sabia que a bolacha maria não é portuguesa?

    1. Não sou apreciador da bolacha Maria. Nunca pensei que fosse portuguesa, apostava mais que fosse espanhola por causa de uma marca muito conhecida (ela sim espanhola) que as vendia em rolos de cor vermelha.

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