esqueça tudo o que já viu até aqui: a noélia é um restaurante do outro mundo e fica no algarve

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    Está com fome? Antes de qualquer outra coisa, é melhor ter fome porque hoje não lhe vou falar de comida – vou falar-lhe de muita comida. E de óptima comida. Este restaurante é uma das maiores preciosidades do Algarve. Chama-se Noélia & Jerónimo (ou só Noélia, para os mais íntimos), fica em Cabanas de Tavira e é lá que come alguns dos mais fabulosos, originais e criativos petiscos de peixe e marisco.

    Os ingredientes são fresquíssimos, muitos deles vindos directamente da Ria Formosa, mesmo à frente da esplanada. E todos são tratados com um toque de originalidade que consegue juntar a tradição a que estamos habituados com a surpresa mais inesperada. 

     

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    A ementa

    Mal me sentei à mesa, ainda antes da confusão de Julho, pedi uma imperial fresquíssima (€1,65), servida num copo gelado acabado de tirar da arca frigorífica. E foi isso que me acompanhou enquanto escolhia e olhava para o couvert (€1,30): um óptimo pão algarvio, com a côdea estaladiça e o miolo macio mas denso; uma manteiga de alho e ervas caseira e saborosa mas que tinha uma consistência líquida demais; umas azeitonas verdes ligeiramente secas e umas cenouras com coentros que não faziam muito o meu género. 

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    As entradas

    O nível dispara à velocidade de um Usain Bolt quando entramos nos petiscos do dia. É uma página inteira da ementa dedicada às invenções da chef feitas com os produtos mais frescos apanhados naquela madrugada. Nuns dias pode haver salmonetes minúsculos tipo jaquinzinhos, noutro dia pode encontrar arroz de limão com corvina e amêijoas. Dependendo do que houver fresco no mercado, a chef inventa uma receita – quase sempre divinal. E quase sempre tão irresistível que não conseguimos deixar de provar.

    Da última vez que lá fui jantar com a minha querida Mulher Mistério pedimos seis pratos mais três sobremesas (sim, só os dois…) e só não pedi mais porque já sabia que desse lado iria ter um olhar reprovador de quem está perante o Buda da blogosfera.

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    Primeiro, chegou o mais deslumbrante tártaro de ostras (€8) que esta insaciável boca já alguma vez provou. Feito com uma gigantesca ostra do Moinho dos Ilhéus, com 280 g de peso, é servido por cima de uma mousse de abacate com coentros, cebola e limão. No topo, leva ainda um pé de salicórnia e ovas de arenque e de lumpo. A combinação do incrível sabor a mar das ostras do Moinho dos Ilhéus – uma reserva na Ria Formosa considerada uma das melhores do país – com a suavidade da mousse de abacate é verdadeiramente viciante. 

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    A seguir pedimos um fantástico salmorejo (€6). Trata-se de uma típica sopa de Córdoba, Espanha, que é feita com tomate, alho, pimentos e miolo de pão, tudo finamente triturado, o que lhe dá a consistência de um creme. Aqui, o salmorejo leva um fio de redução de balsâmico por cima, uma framboesa e três fininhas fatias de muxama de atum – uma receita deliciosa com mais de 2 mil anos em que os lombos de atum são salgados e depois secos, dando-lhes quase a consistência de presunto.

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    Nesta fase do jantar, eu já salivava pelo prato seguinte, qual monstro das bolachas. As entradas continuaram com umas inacreditáveis sardinhas marinadas com maracujá (€6). A minha querida Mulher Mistério resistiu a provar este prato até ao último instante. E, quando o provou, não o queria largar (o que, no caso Dela, não é novidade). As sardinhas vinham em pequeninos e macios lombos, sem espinhas, por baixo de um fantástico molho de maracujá fresco. É uma combinação totalmente inesperada e fulminante: a acidez do maracujá corta na perfeição o salgado do peixe, criando uma explosão de sabores na boca. Leva ainda umas folhas de rúcula por cima e uma tosta de pão algarvio com um fio de azeite ao lado. 

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    A primeira etapa do jantar só acabou com um ceviche de ostra (sim, somos obcecados por ostras) com umas raspas de lima, um fio de azeite misturado com sumo de lima e um pé de salicórnia e umas ovas por cima (€9,50). Ao lado, trazia uma maionese de wasabi super-cremosa e mais uma tosta de pão algarvio com azeite. A simplicidade de todos estes ingredientes é o que torna este prato outra maravilha da natureza.

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    Os pratos principais

    Ao perceber que ainda vinham mais dois pratos principais, tive um pequeno momento de fraqueza em que cheguei a duvidar, por segundos, da minha capacidade de ingerir tanta coisa. Mas só precisei de imaginar a aguardente de medronho caseira, no final da refeição, para me tranquilizar. E ainda bem. Porque o arroz de carabineiro (€25) estava simplesmente maravilhoso. Soltinho e com os bagos consistentes que se sentem ao trincar, trazia um caldo delicioso que juntava o recheio da cabeça do carabineiro com um toque de coentros, cebola e espargos cozidos na perfeição – crocantes mas macios. O carabineiro vem cortado por cima em cubos suculentos e ultra-saborosos e com a cabeça para chupar.

    Apesar de ser um prato grande e de termos comido quatro entradas, posso dizer, com um certo orgulho de futuro candidato ao Peso Pesado, que não sobrou nem uma gota de molho.

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    A minha querida e prezada Mulher Mistério pediu outra preciosidade arrebatadora. Gosta de jaquinzinhos? Então tem de experimentar estes “salmonetinhos” (€13). São uns salmonetes minúsculos e fritos como se fossem jaquinzinhos ou petingas: estaladiços por fora, suculentos por dentro e deliciosos por todo o lado. Ao lado, trazem uma surpreendente maionese de pimentos assados (quem é que se ia lembrar de uma combinação destas?!) e a acompanhar umas migas de tomate que estavam simplesmente perfeitas.

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    As sobremesas

    Eu sou uma espécie de Chuck Norris da comida: levo sempre as minhas missões até ao fim, doa a quem doer. Neste caso, doeu ao meu estômago, mas não pude deixar de provar as sobremesas. Não têm o deslumbramento dos pratos principais, mas comemos um óptimo cheesecake (€3,75), servido num copo, com uma mousse de morango fresco por baixo (sem um grama de açúcar a mais) e um creme de queijo ultra-leve por cima. 

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    Além disso, pedimos para dividir meia dose de bolo de laranja, amêndoa e gila bom mas doce demais e meia torta de alfarroba razoável, com um sabor intenso e não muito doce.

    O que não pode perder é a aguardente de medronho no final. É forte? É. Mas também é suave e aveludada e liga lindamente com o café.

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    O ambiente

    Gente, muita gente, filas de gente. Hoje, no dia da graça de 6 de Julho de 2017, é muito provável que já só consiga marcar mesa para o Verão de 2018. É claro que, se for no Outono ou no Inverno, há-de conseguir jantar descansadamente. Ou, se quiser arriscar aparecer sem marcação, pode sair-lhe a sorte grande (só uma parte das mesas é que pode ser reservada). Mas Julho e Agosto são meses de absoluta loucura – chegam a servir mais de 250 refeições por noite – com filas enormes à porta e um serviço a atirar para o caótico.

    A sala não é tão grande como isso. Decorada de forma simples, o que chama mais a atenção é a luz demasiado fluorescente para o meu gosto. De resto, tem alguns detalhes engraçados como a base para os frapés feita com quatro caixas de vinho umas em cima das outras.

    Do lado de fora, há uma esplanada que dá para a marginal de cabanas, o que nesta altura do ano significa ainda mais confusão com exércitos de pessoas a passearem ao seu lado e crianças a gritarem-lhe ao ouvido.

    É verdade que tudo isto parece um sacrifício injustificável, mas garanto-lhe que vale a pena passar por qualquer suplício só para poder comer aqui.

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    O serviço

    Em Julho e Agosto, já tivemos experiências caóticas. Como, desta vez, nós fomos antes disso, não apanhámos a sala muito cheia, tendo sido lindamente atendidos. Os empregados foram simpáticos, explicaram as receitas com toda a atenção e foram trazendo as entradas, uma a uma, para não se acumularem muitos pratos em cima da mesa.

    Com mesa marcada, não esperámos para nos sentarmos nem pela comida. Foi tudo rápido e eficiente. E ainda tiveram a atenção de servir as cervejas num copo gelado, o que no Verão vale mais do que a dívida externa do país.

     

    As crianças

    Não tem menu infantil, mas tem dois pratos de massa fresca por €10 cada um. Tem ainda dois menus de degustação: 5 pratos custa €28 e 7 pratos €35.

     

    O bom

    O cheesecake

    O mau

    As filas e o serviço caótico em Julho e Agosto

    O óptimo

    Toda a comida, em especial o tártaro de ostra, as sardinhas com maracujá, o arroz de carabineiro e os mini-salmonetes fritos

     

    Um óptimo jantar para si onde quer que a Noélia esteja,

    Ele

     

    fotos: casal mistério

     

    Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial. 
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    Noélia & Jerónimo
    Rua da Fortaleza, Edifício Cabanas-Mar, Loja 6, Cabanas de Tavira

    Das 12h30 às 15h; das 19h às 22h
    Fecha à quarta-feira
    T: 281 370 649

     

    5 thoughts on “esqueça tudo o que já viu até aqui: a noélia é um restaurante do outro mundo e fica no algarve

    1. Restaurante de eleição. Fui durante vários anos e recomendo sempre a toda gente. Já não vou lá à 4 anos or causa das melgas e dos mosquitos nessa zona. Na altura não tinham o menu tão elaborado quanto o descrevem… mas o tempo passa e Ainda me deixaram com mais água na boca e com mais vontade de lá voltar! Apesar das melgas!

    2. Infelizmente das quatro vezes que fomos sempre em Setembro e ao almoço foi super difícil conseguirmos sentir-nos e quando nos sentamos fomos super mal atendidos. Parece que nos fazem o favor de nos atender. Concluímos pelo que observamos que os únicos que são bem atendidos são os clientes conhecidos e que os outros se possível não apareçam. Passamos a ir ao Ideal onde são sempre SUPER simpáticos e embora com uma ementa não tão chique para mim a qualidade é deveras superior…

    3. O atendimento deixa muito a desejar… só isso chega para não voltar. O preço não condiz com o atendimento/ambiente de confusão. Existem outros onde nos sentimos em casa e onde se come igualmente bem. Lamento.

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