Hoje não vale a pena falar de restaurantes nem de hotéis. Nem de receitas ou pratos elaborados. Faltam menos de 24 horas para a véspera de Natal e já não há tempo para jantares fora nem para fins-de-semana tranquilos. As poucas horas que nos restam são para tratar daquele que para mim é um dos momentos mais importantes de qualquer jantar: a hora do queijo.
Aquele momento em que molhamos a colher no recheio amanteigado de um Queijo da Serra, ou que desfazemos em lascas um fabuloso Parmesão, ou que derretemos no forno um extraordinário Camembert com frutas secas e nozes.
Apetece, não apetece? Eu calculei… E é por isso que me tornei um peregrino da Queijaria, em Lisboa. Desde que descobri esta fabulosa loja especializada em queijos artesanais (foi aqui, nos idos de 2014) que não consigo dar um jantar em casa sem lá ir antes abastecer-me de maravilhosos exemplares: desde um forte e intenso Blue Cheese a uma cremosa e suave Burrata.
O ambiente
A Queijaria está dividida em quatro zonas. À entrada, tem duas áreas: uma onde encontra todo o tipo de acessórios para o queijo – desde tábuas a facas, fondues para raclettes, etc. – e outra onde tem os mais viciantes e irresistíveis acompanhamentos para o queijo. Eu adoro aquelas tostas de pão alentejano cortado muito fininho e torrado no ponto (€1,80) que são uma maravilha para comer com um queijo amanteigado. Mas também há óptimas compotas de figo, de tomate ou, por exemplo, de abóbora da Quinta do Freixo, no Algarve; uma fabulosa marmelada branca de Odivelas ou alguns vinhos e cervejas artesanais. Se quiser, também pode levar bom presunto, bresaola ou salame italiano.
Ao fundo, tem mais duas zonas distintas. Primeiro, um cheesebar onde pode fazer degustações de queijos a qualquer hora do dia, petiscar uma tosta com Blue Cheese, frutos secos, passas douradas, tomate cherry, pera e mel (€8,50) ou comer uma salada de coelho de escabeche com queijo parmesão, tomate cherry, mistura de verdes, vinagre balsâmico e azeite biológico (€10). Tudo isto acompanhado por um copo de vinho, um Porto ou uma cerveja artesanal. Não é bem um restaurante e não é propriamente barato, mas é um sítio tentador para petiscar óptimos produtos artesanais que dificilmente consegue encontrar noutro sítio.
Finalmente, a última zona que é claramente a minha preferida: o paraíso do queijo. Não espere nada de muito nem de pouco abonecado. É apenas uma sala ao fundo, recheada de frigoríficos e dos melhores queijos artesanais da Europa, conservados à temperatura ideal.
Os queijos
Aqui há exemplares de todos os tipos, para todos os gostos e feitios.
– Ok, isso é tudo muito bonito, mas o Continente também tem uma imensa variedade de queijos.
Sim, senhor, é verdade, mas na Queijaria encontra queijos que não encontra em mais lado nenhum. Primeiro, porque aqui não entram queijos industriais e carregados de químicos e conservantes. Depois, porque os queijos são comprados directamente aos afinadores provenientes de variadíssimos países – são eles que tratam artesanalmente da maturação e do envelhecimento de cada queijo. E é todo esse cuidado de meses que transforma estes queijos em verdadeiras preciosidades gastronómicas.
É claro que nada disto é barato (por exemplo, um Manchego com 16 meses de cura pode ultrapassar os €40/kg) e a única coisa que nos salva é o facto de a Queijaria vender quase todos os queijos ao peso. Se quiser levar um queijo inteiro, está no seu direito, mas se só quiser levar uma fatia tão fininha como o abdominal esquerdo da Carolina Patrocínio ninguém vai olhar de lado para si.
E mais: pode provar cada queijo antes de decidir se o quer levar ou não. Ao lado dos tais frigoríficos, há uma mesa onde cada queijo é cortado e dado a provar.
Agora vamos ao que verdadeiramente interessa: e o que é que podemos comprar aqui para o nosso jantar de Natal ou para a Passagem de Ano (sim, a Queijaria está aberta nos dias 24 e 31 de Dezembro)? Já ouviu falar do queijo Brilhante, da Ilha das Flores, nos Açores? É normal, este é um queijo que só se vende na Queijaria. Mas há mais. Aqui consegue encontrar, todos juntos e ao vivo, os melhores e mais raros queijos portugueses, como um Azeitão amanteigado de 2014, um queijo de Cabra da Granja ou um queijo de São Jorge com 36 meses de cura, o que lhe dá um sabor único que não tem nada a ver com aqueles queijos embalados que encontra em qualquer supermercado.
Se preferir um queijo suíço, ou italiano, ou francês, também há. A selecção de queijos à venda junta exemplares de toda a Europa, desde um Gorgonzola que quase parece manteiga a um Vacherin Mont d’Or que é a minha perdição: pode ser comido quente ou frio mas é sempre tão amanteigado como uma colherada de leite condensado. E estes são só dois exemplos: aqui encontra o melhor Parmesão que eu já encontrei em Portugal, um Camembert fantástico ou um Taleggio que tem um sabor único.
O serviço
Prepare-se porque pode ser demorado. Quem costuma estar a atender são os próprios donos que têm uma simpatia rara e um prazer contagiante no que toca a queijos. E isso tem uma enorme vantagem – pode perguntar o que quiser que eles sabem sempre o que responder; mas também tem uma ligeira desvantagem – pode demorar mais tempo do que estava à espera, especialmente nesta altura do ano.
Se quiser saber mais sobre a Queijaria, leia aqui:
O bom
A simpatia do serviço
O mau
Os preços
O óptimo
Os queijos
Um fantástico Natal para si onde quer que os queijos estejam,
Ele
fotos: queijaria
Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial.
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Queijaria
Rua das Flores, 64 Lisboa
3ª a 5ª das 13h às 22h; 6ª e sábado até à meia-noite;
Domingo até às 20h; fecha à segunda
T: 213 460 474