Quando estivemos recentemente no Porto, planeámos ao pormenor a nossa agenda gastronómica. Vida dura esta nossa de Casal Mistério: uma correria de almoços aqui, jantares acolá, enfim. Na nossa lista de prioridades estava o Flow, um restaurante muito recomendado por amigos nossos, que já lá tinham jantado várias vezes e que tinham adorado, especialmente o sushi. Mas quando ligámos para reservar uma mesa para domingo, explicaram-nos que estavam fechados. Ainda perguntámos se teriam mesa para sexta, mas depressa nos lembrámos de que já tínhamos marcado a Cantina 32 para esse dia.
– Não, afinal na sexta-feira não conseguimos – lamentámos.
– Não consegue? Que pena!
É claro que perante esta tão simpática resposta, trocámos os nossos planos todos para o fim-de-semana e reservámos uma mesa para almoçarmos no Flow no sábado: um restaurante bom, com um serviço simpático e que está na moda é irresistível.
É um erro ir com uma expectativa destas para um restaurante. E pior é, quando lá chegamos, elas aumentarem ainda mais. Porque o espaço é pura e simplesmente espetacular.
O ambiente
Da rua, ninguém imagina que a porta de um edifício antigo da baixa do Porto esconde um espaço amplo, moderno e imponente com características neo-árabes. À entrada (um hall enorme com uns candeeiros lindos e originais) fomos recebidos por um sorridente e simpático relações públicas. Espreitámos a sala e ficámos rendidos ao bom gosto da decoração, em tons de tijolo e onde as palhinhas abundam nas cadeiras e nos candeeiros.
Mas se a sala é magnífica, o que dizer da zona do bar e do pátio? Irrepreensível. Maravilhosa. Espetacular. O espaço é tudo isto. Apesar do calor, não resistimos a escolher uma mesa no pátio com paredes com azulejos à volta das janelas e das portas em arco, a fazer lembrar os pátios marroquinos. Estava vazio, por isso, não foi difícil escolher uma mesa, ao centro, perto da magnífica lareira exterior.
A ementa
O couvert (€4,40) tinha três tipos de pães diferentes: uma baguette boa e estaladiça na côdea, um pão de sementes e um pão de milho, claramente o meu preferido. A acompanhar veio um tapenade de azeitona leve e molhadinho e três manteigas diferentes: uma de manjericão boa, leve e fresca, a saber mesmo a manjericão; outra de citrinos, também boa, com um sabor forte a laranja, talvez ligeiramente doce demais; e ainda, uma última de cereais, mais banal. As manteigas vinham muito geladas mas, com o calor, derreteram rapidamente. Para abrir as hostilidades, pedimos duas flutes de cerveja.
As entradas
A cozinha do Flow é predominantemente mediterrânica e japonesa, por isso pedimos uma entrada de cada. Partilhámos um Ceviche de Peixe e Camarão (€9), que estava bom mas pouco cítrico. Sabia muito a coentros, o que para Ele é um ponto a favor, para mim, nem tanto. Vinha com cebola roxa, manga e tomate cherry e acompanhado de uns nachos servidos numa bolsa de papel pardo. Infelizmente, estava pouco fresco (vinha à temperatura ambiente) e muito cru por causa da falta de cítrico. Conclusão: era peixe cru, não era ceviche. Seguiu-se uma Salada Caprese (€8) com tomate baby, uma redução de balsâmico e molho pesto e pinhões tostados por cima. Também era boa mas, na minha opinião, tinha rúcula a mais e mozarela a menos. Mas, mesmo assim, estava fresca e muitíssimo bem temperada com a quantidade certa de pesto e uma mistura perfeita do salgado do pesto com o doce do balsâmico.
O prato principal
E chegámos ao momento da grande desilusão. Como estava calor e tínhamos pedido duas entradas, optámos por partilhar um Sushi Freestyle com 25 peças (€28). Tínhamos visto fotografias como esta:
E esta:
E esperávamos um sushi à altura. Mas infelizmente, não foi isso que aconteceu. Enquanto esperámos (uma boa meia-hora) pelo sushi, os empregados foram trazendo as más notícias: não tinham atum (um restaurante de sushi sem atum?) nem ovos de codorniz para fazer aquela peça cuja fotografia nos deixou a aguar. Resultados: o sushi era banalíssimo. Em 25 peças, duas eram niguiris de salmão e outras duas eram niguiris de robalo, deixando pouco espaço para alguma criatividade. O que convenhamos, para uma sugestão do chef, é muito fraquinho.
A sobremesa
Foi claramente o melhor: uma divinal tartellete de lima limão (€7) que se desfazia na boca conseguindo a proeza de conseguirmos distinguir os dois sabores de uma só vez.
O serviço
Os empregados eram, de uma forma geral, simpáticos e conversadores, uns mais do que outros, mas o prato de sushi demorou demasiado tempo a chegar à mesa. Um detalhe para o qual parecemos estar destinados: enquanto esperávamos pela sobremesa, como éramos os únicos no pátio, os empregados começaram, sem cerimónias, a desmontar todas as mesas e as cadeiras, sob a orientação disciplinadora do chefe de sala. Quando, ao fim de dez minutos de arrumações, ousámos levantar os olhos para tentar perceber se era a Galamas que tinha tomado conta do espaço, explicaram-nos que iam “ter um evento à noite”.
– Não se importam, pois não? Que vamos arrumando a casa?
– Esteja à vontade, a casa é sua.
Ainda ponderámos dar uma ajuda para carregar algumas mesas. Mas, quando percebemos que só faltava arrastar a nossa mesa, achámos melhor pedir a conta (€81,80 com uma garrafa de Vinha Grande branco e cafés incluídos) ao simpático relações públicas e ir andando.
É capaz de ser melhor voltar ao jantar, quando houver mais clientes, atum, ovos de codorniz e as mesas no seu lugar. O Flow é definitivamente um restaurante de noite, com jantares até tarde e um simpático bar. Fica para a próxima.
O bom
O couvert e a tartelette de lima limão
O mau
O freestyle sushi
O ótimo
A decoração e o pátio (antes da revolução)
Alimentem-se bem,
Ela
fotos: flow e casal mistério
Concordo em absoluto. Mas, à noite, não é melhor. Uma confusão de barulho, mesas coladas (quase se ouve a conversa da mesa do lado) que tentam compensar colocando a música muito alta. Definitivamente, não fiquei fã. Giro sim! Mas…caro, comida nem sempre boa e muito, muito barulho. Além de o serviço ser lento. Prefiro restaurantes mais cosy.