O serviço
Como é habitual fazer em qualquer restaurante que se digne receber esta humilde criatura, entrei e olhei à minha volta. Na ausência de empregados disponíveis no horizonte, fui-me chegando discretamente à mesa mais próxima e, à falta de qualquer sinal que me fizesse parar, sentei-me. Quando digo sentei-me, na verdade quero dizer “sentámo-nos” – eu e os quatro fiéis elementos desta verdadeira equipa de futsal que faz o favor de partilhar o código genético comigo. Desta vez, éramos só cinco no total porque Ela, na sua corajosa cruzada anti-calorias, resolveu ficar em casa à frente de um prato de salada.
Depois de ocupada a mesa, esperámos. E, enquanto via os empregados passarem por mim como as flechas passam pelo chapéu do Lucky Luke, foi crescendo na minha bílis uma estranha sensação de incredulidade. Só quando me atrevi a chamar alguém para fazer o pedido é que percebi o motivo do desprezo:
– É pré-pagamento, mas eu já vou aí à mesa ajudá-lo.
Agradeci cordialmente a simpática ajuda e levantei-me. De facto, junto à caixa registadora uma discreta placa avisava para o inconveniente, mas eu costumo perder mais tempo a olhar para a decoração do espaço do que para as caixas de pagamento, por isso escapou-me.
O problema do pré-pagamento no Munchie é só o da indefinição: por um lado paga-se à chegada, por outro a caixa registadora está na sala do fundo; por um lado temos de pedir ao balcão, por outro trazem-nos a comida à mesa; por um lado não podemos fazer o pedido sentados, por outro podemos pedir a segunda imperial na mesa que não tem problema; por um lado não há serviço, por outro vemos empregados a servir; por um lado é pré-pagamento, por outro nem tanto. Decidam-se, pelas alminhas, porque este método não é brilhante: sobretudo se eu pagar ao balcão, for procurar mesa e não houver nenhuma disponível. Aí acabo a receber o meu hambúrguer em pé, encostado a um canto.
Ultrapassado este contratempo inicial, fui sempre bem atendido. Quase como se fosse da família. Especialmente quando a rapariga que recebeu o dinheiro me perguntou:
– Queres número de contribuinte?
Há quem fique ofendido com a intimidade do tratamento por tu, eu limito-me a ficar mais novo. E quase respondo com um Hi-Five. Foi também com esse espírito jovem e despreocupado que recebi a segunda imperial num copo de plástico, porque os de vidro estavam todos a lavar.
No Munchie, tem de estar preparado para tudo isto: nada de frescuras, estamos num restaurante “bué-de-iá-bacano, meu”.
O ambiente
A clientela é essencialmente composta por estudantes, alunos e alguns discentes também. A decoração tem bom gosto, com óptimos detalhes, e a esplanada que dá para a Praça das Flores vai ser seguramente um ponto de passagem obrigatório da movida a caminho da noite. E há bons motivos para isso: o Munchie está aberto todos os dias, só fecha à meia-noite e tem óptimos, grandes e relativamente baratos hambúrgueres.
A ementa
Os hambúrgueres
Grandes é uma palavra que deve reter antes de tentar dar a primeira trinca no seu hambúrguer. A comida é servida num simpático cesto com um papel no fundo. Por cima, vem uma quantidade de batatas fritas capaz de alimentar um adolescente (olhe que não é fácil) e um hambúrguer que mal cabe nas minhas duas mãos de Rui Patrício totalmente abertas. É claro que a primeira trincadela acabou com uma cãibra na mandíbula e metade da camisa coberta de ketchup. A partir daí, optei por pedir uns talheres, mas acredite que não é fácil comer um hambúrguer com garfo e faca dentro de um cesto.
Para mim, veio o hambúrguer Gula (€6,90) que foi aquele que me pareceu adequar-se mais à minha personalidade. Feito com 140 gramas de carne de vaca recheada com cheddar e acompanhado de alface, tomate e um bacon invejavelmente estaladiço, traz ainda o tal molho ketchup e uma boa maionese de alho. Além de muito alto, o hambúrguer estava feito no ponto: nem demasiado cru nem desnecessariamente passado. O pão branco com sementes por cima é leve e agradável e as batatas fritas que ajudam a compor o cesto estaladiças e fritas com a casca. Tudo muito bom.
As crianças dividiram-se: Eles escolheram o Munchie 2 (€5,90), que vem com 140 gramas de carne de vaca, alface, tomate, ovo, queijo cheddar, ketchup e maionese de alho; Elas o Ganância (€5), que traz a mesma quantidade de carne de vaca, tomate grelhado, alface, mozzarella e molho pesto. Todos adoraram. Eu ainda consegui dar uma trinca no hambúrguer Delas e pareceu-me óptima a ideia do molho pesto com a mozzarella.
Quem ficou a perder foi Ela. É que, além dos hambúrgueres, o Munchie ainda tem três wraps um pouco mais lights: de salmão, de frango ou de carne de vaca.
A sobremesa
Todos os dias há uma sobremesa diferente, a que a equipa do Munchie chama na ementa “O Que Houver” (€2): a nós calhou-nos um brownie com bolacha e manteiga de amendoim que a nossa equipa de futsal adorou, mas que eu achei um pouco enjoativo demais.
As crianças
Este texto devia ter sido feito ao contrário: quase tudo sobre as crianças e uma pequena nota para os adultos. Este é o restaurante perfeito para elas: confuso, animado (durante uma parte do tempo, passou música alta, depois, apagou-se), descontraído, relaxado e com hambúrgueres e doces com manteiga de amendoim. Alguém se lembra de alguma coisa tão à medida dos miúdos?
Eles lembraram-se e chamaram-lhe Menu do Pirralho. São 90 gramas de carne de vaca, com batatas fritas, um copo de bebida e uma sobremesa. Tudo por €5.
O bom
Os hambúrgueres e as batatas fritas
O mau
A cerveja em copo de plástico
O péssimo
O pré-pagamento
Bons hambúrgueres para si onde quer que esteja,
Ele
fotos: munchie
O Munchie de Matosinhos é igualzinho. Quando lá fui também fiquei confusa. O pior é que os funcionários já deve estar habituados à confusão das pessoas, mas nem assim dizem qualquer coisa. Deixa-nos ali sozinhos até percebermos que é pré-pagamento. Também erraram o meu pedido, porque eu pedi sem cebola e eles devem ter percebido cebola extra.
Pronto, vocês são a minha desgraça 😱
Como sempre com humor faz a delícia destes olhos que o lêem e que comem tudo o que aqui escreve.
Gostei da composição dos hambúrgueres e da sua “grandiosidade” mas para mim este era suficiente:
“Eles lembraram-se e chamaram-lhe Menu do Pirralho. São 90 gramas de carne de vaca, com batatas fritas, um copo de bebida e uma sobremesa. Tudo por €5.”
Ahhh, como me divirto a ler o vosso blogue! E fico sempre cheia de vontade de experimentar tudo… 😉
Ontem estive por Lisboa e por ter lido este post há uns tempos, e por estar na zona do Bairro Alto, tentei ir lá almoçar. Para meu espanto este restaurante fechou e deu lugar a uma pizzaria.