gioia food lab, o novo restaurante onde quase toda a comida é biológica, sem glúten ou sem trigo

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    Os ingredientes são preferencialmente biológicos, não há açúcares refinados nem farinhas de trigo, o glúten é evitado e até a água “é filtrada e depois energizada ao ponto de se tornar antioxidante, mais alcalina e muito mais amiga do seu corpo”. Eu sei, parece a carta de apresentação da Clínica do Tempo, mas não se assuste. É o Gioia Food Lab, o novo restaurante de comida saudável (e, já agora, deliciosa, o que também ajuda) de Lisboa. 

    Antes que me confunda com a Ágata Roquette, deixe-me esclarecer o seguinte: eu também fiquei assustado com a conversa da água energizada, antioxidante e alcalina. Mas não há razões para isso. Apesar deste susto inicial, o Gioia está longe de ser um restaurante fundamentalista: prefere ingredientes biológicos; se não houver, usa não-biológicos.

     

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    O resultado é um restaurante moderno, divertido, com bom ambiente e com comida deliciosa, saborosa e saudável. Não tem nada a ver com os restaurantes biológicos, vegan ou vegetarianos a que está habituado. Aqui come-se, por exemplo, um óptimo tártaro de novilho, uma fabulosa codorniz corada ou uma fantástica selecção de pães feitos no forno a lenha do restaurante. E já nem falo da sangria com malagueta que é completamente surpreendente.

    Mas antes vamos aos preliminares.

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    O ambiente

    Um restaurante que tem uma entrada de USB em cada mesa, para poder carregar o seu telemóvel descansadamente, é tudo menos fundamentalista. E isto para não referir o reóstato que lhe permite controlar a intensidade da luz na sua mesa. O Gioia é claramente um sítio que se preocupa com os detalhes.

    Logo à entrada, há um grande balcão de cimento afagado onde fica o bar. Por cima, junto às garrafas, uma imensidão de flores coloridas fazem-nos sentir como a Cristiana Oliveira a entrar pelo Pantanal adentro. Como fomos jantar com uns amigos que nunca conseguem chegar a um encontro com menos de uma hora e um quarto de atraso, resolvemos esperar no bar, o que ajudou a diluir o sofrimento.

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    Os cocktails

    Eu afoguei os 74 minutos de espera num bom gin tónico. Pedi um Chase Extra Dry com tónica Fever Tree (€14), que veio com uma casca fininha de laranja e outra de limão. A minha querida e prezada Mulher Mistério preferiu arriscar um pisco sour (€10,50) e não teve muita sorte – estava claramente muito aguado.

    Para acompanhar, pedi uns aperitivos que não me deixassem alcoolizado aos dez minutos de jantar. Trouxeram-me uns divinais crackers super fininhos, quase da grossura de uma folha de papel, feitos no forno a lenha que se vê de qualquer canto do restaurante. Temperados só com umas pedras de sal, são levezinhos, bem crocantes e verdadeiramente viciantes.

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    Trouxeram-nos também umas frutas desidratadas no mesmo forno a lenha, muito fininhas e com uma textura suave. Mas confesso que, antes do jantar, prefiro claramente aperitivos salgados a aperitivos doces.

    A esta hora, já um DJ tinha tomado conta da mesa de som com uma música house num volume quase ao nível de uma discoteca às 4 da manhã. Escusado será dizer que a minha querida Ela chegou à mesa afónica de tanto gritar para tentar fazer-se ouvir.

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    A ementa

    Mal chegaram os amigos atrasados, levaram-nos para uma mesa comprida, por baixo de uma mezzanine e com dois bancos corridos inamovíveis. Se a mezzanine lhe dá um ambiente demasiado claustrofóbico, quase como se estivesse a jantar numa cave, os bancos corridos impossibilitam o movimento de qualquer pessoa que se sente no canto, sem obrigar todos os outros a levantarem-se primeiro. Por isso, se é como a minha querida e prezada Mulher Mistério, que não dispensa uma idazinha à casa-de-banho a meio de cada jantar, por favor sente-se na coxia.

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    O couvert

    O forno a lenha é uma enorme vantagem. Além de não terem glúten, os pães do couvert (€2,50 por pessoa) são cozidos no restaurante, o que abre o apetite de qualquer viciado por couverts como eu. A mistura traz os tais crackers de sonho, uma fantástica focaccia muito leve e fofinha, uns óptimos mini bolos do caco e umas boas fatias de pão integral. Para acompanhar, trouxeram um pratinho com azeite e vinagre de vinho tinto envelhecido e um agradável paté que me pareceu de couve. 

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    As entradas

    E eis que chegámos ao momento alto do jantar: o momento da partilha. Como estávamos entre gente generosa, decidimos optar por um regime alimentar semi-soviético: cada um escolheu uma entrada que depois foi nacionalizada e dividida pelo povo. E aqui devo confessar, sem falsas modéstias, que a minha escolha foi aclamada pela mesa.

    Tratava-se de uns divinais peitos de codorniz corados (€12), o que quer dizer que que vêm crocantes por fora e muito tenrinhos e suculentos por dentro. A acompanhar, trazem um delicioso creme aveludado de agrião e uma redução de Moscatel que lhe dá um sabor caramelizado inacreditável. Por cima, uns pedaços de avelã tostada e crocante. A mistura das texturas é incrível, mas o sabor da codorniz combinada com a avelã, o agrião e a redução de Moscatel é perfeito. 

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    A minha querida e prezada Mulher Mistério também não ficou nada mal servida na sua escolha. Optou por um fantástico tártaro de novilho (€14) que vem para a mesa quase como se fosse uma pintura abstracta. A carne é hiper macia e bem cortada à faca em pequenos cubos. Depois traz uns bons pickles caseiros, uma deliciosa mostarda e uma fantástica gema de ovo de codorniz curada.

    A festa continuou com um tártaro de carapau (€14) com tomate e gengibre que também estava muito bom e com um ceviche (€12) que não achei nada de especial (escolha do outro casal, claro!). O peixe era bom e bem fresco, mas pareceu-me pouco temperado. O molho também estava pouco cítrico e o puré de abóbora, para mim, é claramente mais fraco do que o puré de batata doce. 

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    Para acompanhar tudo isto, pedimos a fenomenal sangria muito alegre (€21). Servida num tubo de ensaio gigante, leva vinho rosé, Cointreau, maçã, hortelã e… malagueta. Muita malagueta. Além de ser pouco doce – não aguento aquelas sangrias que parecem um rebuçado líquido –, tem um toque picante que se vai acentuando à medida que o tubo de ensaio se esvazia. E isso torna-a absolutamente viciante e pouco enjoativa.

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    Os pratos principais

    Chegados ao momento solene, já com algum andamento digestivo, como se pode perceber pela quantidade de pão e entradas ingeridos, a minha estimada Mulher Mistério decidiu regressar à sua dieta, pedindo uma óptima carne maturada a 40 dias para dividir com um dos nossos amigos. Mas antes que se entusiasme demasiado com a dieta Dela, deixe-me esclarecer dois pontos importantes: Ela dividiu a carne maturada porque a dose já era para dois (€44 para duas pessoas) e não dispensou nem uma das batatas fritas que vieram a acompanhar. Para quem está mesmo, mesmo de dieta, trazem também uma boa salada mista. De resto, a carne veio na perfeição – tostada por fora e rosada por dentro – e com um sabor magnífico.  

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    Eu preferi arriscar no polvo com arroz, pimentos e coentros (€22) e não me arrependo nem um segundo. O prato vem dividido em dois: de um lado, um tentáculo de polvo corado por fora e muito tenrinho por dentro, com umas rodelas de pimentos grelhados e marinados e umas folhas de cebola roxa; numa taça à parte, trazem-lhe um dos melhores arrozes malandrinhos que comi recentemente – bem molhado e solto, com cebolinhas e uns rebentos de coentros.

    O restante elemento do grupo pediu um peito de pintada (uma galinha selvagem originária de África que está a entrar na moda à mesma velocidade a que o Usain Bolt corre os 100 metros) com alho francês, cogumelos e puré de batata trufada (€21). Como é cozinhada em sous-vide (em vácuo, a baixa temperatura), a galinha estava macia e nada seca. E o puré de batata trufada é a perdição para quem gosta de trufas.

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    As sobremesas

    Sim, houve espaço para as sobremesas. E haveria para muitas mais. Por isso, pode tirar esse olhar crítico e recriminatório sobre a quantidade de comida que ingerimos. 

    Primeiro, dividimos uma mousse de chocolate razoável (€8), feita com 75% de cacau e apresentada em três texturas: mousse, uma espuma gelada e uma bolacha crocante. Muito melhor estava a sobremesa que mistura citrinos com doce de ovos (€6). Traz um fantástico semi-frio de tangerina, uns óptimos gomos de lima gelados, um delicioso gel de toranja, um magnífico lemon curd e um irresistível doce de ovos. A combinação é perfeita.

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    O serviço

    A simpatia do serviço não está em causa. Só falhou quando comecei a fazer perguntas sobre os pratos e se percebeu claramente que não conhecia a ementa em detalhe. A partir de metade da refeição, a simpatia também começou a resvalar quase para a amizade de infância.

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    As crianças

    Tem menu infantil: por €15, pode pedir uma bebida, um prato principal e uma bola de gelado. Para o prato principal, as opções são um bife grelhado com puré de batata, uma massa fresca ou uma pizza Margarita.

    Também tem um menu de almoço com couvert, entrada, prato, sobremesa, bebida e café por €19.

     

    O bom

    A carne maturada, o polvo e a pintada

    O mau

    O pisco sour muito aguado e o preço: um tártaro de carapau por €14 não é propriamente barato

    O óptimo

    A codorniz e o tártaro

     

    Um óptimo jantar para si onde quer que a comida saudável esteja,

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    fotos: gioia food lab; casal mistério

     

    Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial. 

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    Gioia Food Lab
    Praça da Alegria, 50 Lisboa
    De terça a sábado, das 12h30 às 15h e das 19h30 às 23h30
    T: 211 393 086

     

    3 comentários em “gioia food lab, o novo restaurante onde quase toda a comida é biológica, sem glúten ou sem trigo

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