A ideia era um jantar de reencontro de amigas. Já não nos víamos há uns meses, por isso, havia muita fofoca para pôr em dia. Sugeri o Hikidashi, na rua Coelho da Rocha, em Campo de Ourique. O conceito encantou-me desde o anúncio da abertura em dezembro do ano passado: uma taberna japonesa que serve petiscos em doses pequenas, acompanhados por sake ou cerveja japonesa. Hikidashi significa “gaveta” em japonês, numa clara alusão ao tamanho do espaço. Como sou muito previdente, decidi marcar. Sábia decisão.
O ambiente
E porquê? Porque o restaurante é pequeno. Só tem lugar para 22 pessoas sentadas ao balcão, que não é mais do que um belíssimo bloco de madeira rústica retirada de um tronco de uma árvore africana com mais de 40 anos. A decoração é acolhedora e moderna, sendo quase toda em madeira. Uma das paredes, em madeira (lá está), ostenta uma série de prateleiras (de madeira também) onde estão expostas as mais diversas cervejas japonesas. Ao fundo, vê-se a cozinha através de um vidro e a robata (grelha japonesa) onde são feitas as espetadas de peixe, de carne e de vegetais para quem não é fã de sushi. Ao balcão, três sushimen preparam o sushi à nossa frente. A parede do outro lado é, tal como o chão, de cimento, o que confere um ar clean e elegante ao restaurante.
O conceito é muito giro mas nada aconselhado para um jantar de fofoca. Apesar de termos conseguido lugares na ponta do balcão, o casal ao nosso lado estava tão interessado na nossa conversa que houve um momento em que o marido mandou calar a mulher para nos ouvir melhor. E o ponto alto da noite foi quando uma das minhas amigas perguntou pelo resultado do Benfica e o senhor do outro lado da mesa respondeu prontamente como se fizesse parte do nosso grupo e estivesse no meio da nossa conversa. A gargalhada foi geral perante o ar constrangido do informado cliente.
A ementa
Mal abri o menu entrei em delírio. Não posso ver a palavra “edamame” que fico como aqueles desenhos animados cujos olhos saem das órbitras. Primeira desilusão. Os edamames, que são uns deliciosos grãos de soja verde vaporizados em flor de sal, tinham acabado à hora de almoço. Ora bolas! Acabámos por pedir vários petiscos para partilhar.
As entradas
Começámos por umas guiozas de legumes (4 peças, €9), vaporizadas com molho ponzu, que não eram surpreendentes. A massa não era daquelas que se desfazem como eu gosto… mas eram, digamos assim, razoáveis, quase indiferentes.
Como todas adoramos gunkans, a empregada sugeriu-nos o Gunka Freestyle (1 peça, €4). Pedimos seis, dois para cada, e foi o melhor que fizemos, porque eram uma maravilha: todos com salmão, claro, e por cima, dois tinham umas fresquíssimas vieiras, outros dois tinham salmão braseado e ovas, e os dois últimos, toro e abacate. Tão bons que nos souberam a pouco.
Seguiu-se um extraordinário New Style Sashimi (€14) com molho de soja e azeite de trufas e sementes de sésamo, que é uma espécie de carpaccio de oito fatias super fininhas de peixe branco (dourada), atum, salmão e vieiras. Não há palavras para descrever esta delícia: todos os peixes estavam super frescos e o molho era simplesmente delicioso. Por mim, tinha pedido mais duas travessas iguais mas as minhas queridas amigas são umas desmancha-prazeres.
Os pratos principais
Nesta fase tivemos a inteligência de nos deixarmos nas mãos e na sabedoria da empregada que nos atendeu… e em boa hora! Primeiro sugeriu-nos o Pantanal (€12), um prato com um aspeto tal, que dá pena estragar, mas eu não me fiz de rogada e atirei-me com os meus pauzinhos à tempura de camarão sem dó nem piedade. E confirmei as minhas expectativas: são basicamente vários rolos feitos com uma fatia muito fininha de pepino (de tal forma que nenhuma de nós conseguiu adivinhar que se tratava de pepino), com salmão, tempura de camarão, maionese japonesa picante e ovas. Quando se trinca, sente-se um crocante surpreendente. É muito bom.
A segunda sugestão da nossa solícita empregada chamava-se Black Cod (€12) e como o próprio nome indica é uma posta de bacalhau negro, quente, que se desfaz em deliciosas lascas, marinada em molho miso e yuzu, simplesmente fantástica: o contraste entre o sabor do bacalhau e o doce do molho é incrível.
As sobremesas
Como partilhámos tudo, ainda conseguimos arranjar espaço para a sobremesa. E depois de uma discussão acérrima, optámos pelo Cheesecake de Chá Verde com Doce de Goiabada (€4). Ao princípio, desconfiei, mas depois acabei por me render. Era ótimo, talvez demasiado doce para o meu gosto, mas ainda assim, muito bom.
O serviço
Fomos recebidos por uma jovem empregada híper sorridente. Sorriu o tempo todo. Mesmo quando se esqueceu de uma das nossas cervejas (aqui, falhámos: pedimos a típica imperial tuga, não nos aventurámos para as cervejas japonesas, não costumo arriscar quando não tenho os preciosos conselhos do meu querido Marido Mistério), pediu desculpa e regressou com a imperial com um sorriso desarmante. Só mesmo quando começámos a fazer perguntas sobre a ementa é que decidiu revelar-me quase ao segredo que era o primeiro dia de trabalho dela ali, por isso, era melhor chamar a colega. A colega foi eficiente mas não era o cúmulo da simpatia, ao contrário do sushiman, que estava à nossa frente ao balcão e que apesar de ser tímido sorria com os olhos. Quando nos mostrámos surpreendidas com a fatia fininha de pepino do Pantanal fez questão de nos demonstrar com visível orgulho como conseguiu tamanha habilidade.
As crianças
Não é decididamente um restaurante para crianças pequenas. Pode ser eventualmente interessante para adolescentes viciados em smartphones, porque, a bem da verdade, não acrescentam nada, é como se não estivessem ali. Agora dada a proximidade e até alguma cumplicidade que se cria entre os clientes ao balcão, diria que levar crianças irrequietas para o Hikidashi seria um exercício de masoquismo.
O bom
A decoração, o balcão de madeira e o ambiente
O mau
As guiozas de legumes
O ótimo
O Gunka Frestyle, o New Style Sashimi e o Black Cod
Uma ótima semana,
Ela
fotos: casal misterio