O conceito não pode ser mais original. Diria mesmo que é único em Portugal: um hotel dentro de um mercado. Ao princípio temi o pior, aterrorizada com a ideia de acordar às seis da manhã com os pregões das peixeiras. Mas quando percebi que este hotel de 4 estrelas nasceu no renovado edifício do Mercado do Bom Sucesso, resolvi arriscar. E ainda bem. Chegámos de noite e demos duas voltas ao emblemático edifício portuense até encontrarmos a discreta porta do hotel. Uma escadaria forrada com uma alcatifa decorada com notas e claves de sol levou-nos até uma receção moderna e arejada em tons de branco e madeira clara.
O hotel
A vizinha Casa da Música deu o mote à temática do hotel que, como seria de esperar, tem música ambiente nos espaços comuns. O problema foi tentar decifrá-la. Durante todo o tempo que ficámos em frente ao balcão da receção à espera que a prestável e simpática rececionista descobrisse a nossa reserva (uns longos quinze minutos que enfrentámos estoicamente com um sorriso piedoso tal era o nervosismo da funcionária), não conseguimos distinguir uma única nota musical, abafadas pelo nível dos decibéis da música e da animação noturna do mercado. Aqui confesso que vi a minha vida a andar para trás. Será que iríamos conseguir dormir? Suspirei de alívio quando a rececionista finalmente descobriu a nossa reserva porque o frio que estava naquele hall de entrada fazia o hotel do gelo parecer um destino de praia. Não sei se era da proximidade do mercado, se havia uma corrente de ar entre a porta principal e as portas que dão acesso ao Bom Sucesso, só sei que ali aqueles pobres rececionistas só conseguiam estar de cachecol e luvas.
O quarto
Atravessámos o bar Pavarotti, com o inevitável piano de cauda, passámos pelas portas de vidro que separa o hotel do mercado e subimos ao nosso quarto. A mesma alcatifa com notas e claves de sol indicou-nos o caminho. Os quartos, distribuídos por quatro pisos, são modernos, confortáveis e giros. A decoração assenta nos mesmos tons brancos e de madeira clara da receção, com detalhes a lembrar constantemente o tema do hotel, como os candeeiros em forma de clave de sol nas mesinhas de cabeceira. A casa de banho é aberta para o quarto, com a bancada do lavatório a dividir o espaço, sendo que as zonas mais íntimas e o duche estão devidamente resguardadas por duas portas. A enorme janela dá para as várias bancas e zonas comerciais do mercado e qual não foi o meu espanto quando me apercebi que dentro do quarto, o silêncio era total. O barulho do mercado tinha desaparecido por completo.
O hotel tem duas categorias de quartos, Standard Rooms e Suites, com camas individuais ou de casal. O nosso tinha uma cama de casal super confortável com um colchão, almofadas e edredons dignos de um cinco estrelas. Todos estão equipados com ar condicionado com comando individual (o nosso estava a 25º C, demasiado quente para quem vem da rua com este frio dos últimos dias, digamos que sofremos um ligeiro choque térmico), e claro, WC com secador de cabelo, duche, amenities, uma secretária, telefone, televisão LCD com canais por cabo, mini-bar, cofre de segurança, fechadura com cartão eletrónico, serviço de lavandaria, room service (das 07h00 à 00h00). Apenas duas notas desagradáveis: o papel higiénico era pouco e muito desconfortável (não havia necessidade!) e o despertador da TV é pior do que um alarme de incêndio. O barulho é de bradar aos céus. Apanhei um susto tão grande que caí da cama…
A caminho do pequeno-almoço, no dia seguinte, explorámos o hotel. Pelo vidro, a animação da manhã no mercado e aquelas bancas já chamavam por mim. Mas resisti. Primeiro o estômago. Sempre. Além das partituras e notas musicais que fomos encontrando nas paredes e um pouco por todo o lado, como o Requiem, de Mozart, no primeiro andar, e o Nem às paredes confesso, de Amália, no quarto, também encontrámos Wi-Fi grátis em todo o hotel, o que é sempre simpático para ir atualizando o blog.
O pequeno-almoço
É servido no andar debaixo da receção, no mesmo piso do Mercado do Bom Sucesso, aliás o restaurante Bom Sucesso Gourmet tem acesso direto às bancas do mercado. É provavelmente o espaço menos conseguido do hotel. É um misto de sala de refeições (com demasiadas televisões na parede ligadas nos programas da manhã) com um restaurante de tapas espanhol. Sentámo-nos numa mesa em frente ao balcão cheio de presuntos pendurados e uma enorme seleção de cervejas, o que convenhamos, não apetece muito ao pequeno-almoço. Mas era ou o balcão de tapas ou a Tânia Ribas de Oliveira na TV, um dilema que ninguém merece enfrentar ao acordar. O pequeno-almoço, servido em buffet, cumpriu os mínimos de um hotel de 4 estrelas mas não surpreendeu. Os óbvios leites, chás, cafés, pão, fiambre e queijo: não foi mau mas também não foi maravilhoso. O restaurante está aberto ao público durante o dia e, se preferir, pode comprar a carne ou o peixe no mercado mesmo ali ao lado e pedir para serem cozinhados pelo chef do Bom Sucesso Gourmet.
O hotel da Música não é só original no seu conceito mas também nos programas que cria. E faz questão de estar associado a todos os acontecimentos culturais no Porto. Por isso, assinou um protocolo com a plataforma Porto Digital, através do qual os clientes têm acesso aos eventos culturais da cidade, podendo, mesmo, reservar uma noite no hotel através do site com pacotes especiais. Um exemplo é o pacote do próximo NOS Primavera Sound que inclui passe de acesso ao festival, três noites de alojamento em quarto single/duplo, shuttle de e para o recinto do evento e uma prova de vinhos do Porto, com a visita a uma cave centenária.
Tivesse eu menos uns anitos e menos filhos e estava lá batida.
O bom
Os quartos
O mau
As televisões a darem os programas da manhã durante o pequeno-almoço
O péssimo
O frio na receção
Um ótimo fim-de-semana,
Ela
fotos: hotel da música
Tirando o papel higiénico e o despertador daTV parece-me girissimo !
Mais uma boa sugestão!
Obrigada
Já lá estive e tenho a mesma opinião
🙂