Confesse lá. Já estava com saudades de uma sugestão de um destino romântico para fugir a dois? A sua querida Ela está aqui para animar o seu Dia dos Namorados. Já escrevi várias vezes que não sou fã de jantar fora nesse dia mas ninguém diz que não a uma escapadinha a dois, não é verdade? A não ser que esteja farta ou farto da sua cara-metade mas, nesse caso, arranje outra, porque a vida é demasiado curta para andar a perder tempo. Depois deste meu pequeno momento de conselheira do coração da revista Maria, falemos do que de facto interessa: a romântica Herdade da Malhadinha Nova, no Baixo Alentejo, perto de Beja.
A herdade
Não se deixe enganar à chegada! As duas primeiras grandes casas que encontrar ainda não são o hotel. São o restaurante (que está aberto ao público) e a casa de férias e de fim-de-semana dos proprietários. O hotel fica a cerca de um quilómetro do restaurante, por isso volte a pôr a primeira e siga as indicações até lá. Na verdade, a distância não é assim tão grande já que a herdade tem 450 hectares, com ribeiros, criação de gado e vinha, muita vinha (45 hectares), a principal fonte de rendimento da Malhadinha.
A Malhadinha Nova começou com um sonho de uma família, tornado realidade em 1998 por dois irmãos empreendedores. Donos de uma conhecida garrafeira no Algarve, queriam produzir “o melhor vinho do mundo” e praticar uma agricultura de qualidade e sustentável, dedicando-se também à criação de gado. Já ouviu falar do Monte da Peceguina? E do Malhadinha? São alguns dos vinhos produzidos aqui.
O negócio é tão familiar que foram as crianças da família as autoras de todos os rótulos dos vinhos da Malhadinha desde o primeiro minuto. A simplicidade e o bom gosto fazem toda a diferença e é precisamente isso que encontra nesta herdade: tanto na forma de receber como na decoração do hotel e do restaurante até aos desenhos dos rótulos dos vinhos.
Ainda por cima os vinhos são bons. Calculo que ainda não sejam “os melhores do mundo”, mas continuam a tentar. Os melhores vinhos da Malhadinha – as edições especiais – são o Marias, o Pequeno João, o Menino António e o Mateus Maria (MM). Consegue adivinhar porquê? Pois claro! São os nomes dos filhos dos irmãos Soares, os donos da quinta. Adorei a homenagem!
O hotel
A primeira coisa que me vem à cabeça quando me lembro da Malhadinha Nova é da música. A música está em todo o lado! Nos terraços e nos alpendres, nas duas piscinas exteriores, nas varandas e nos quartos (cada quarto tem um iPad com uma playlist ótima a tocar em fundo).
Depois é o azul claro das portas e portadas. Adoro. E da fachada de um dos edifícios. Aliás a decoração do hotel é toda ela em tons suaves: brancos, bejes, madeiras claras e o azul sempre presente. O pé direito, tanto das salas como dos quartos, é altíssimo e o chão, apesar de ser de tijoleira (aquela larga, típica alentejana), é aquecido.
A sala de estar é grande e confortável com uma lareira gigante e alguns recantos onde pode relaxar, beber um copo de vinho ou ler (se bem que a iluminação da sala não convida à leitura, é demasiado escura). A sala tem ainda um bar onde pode fazer uma degustação de vinhos ou de outra bebida que preferir.
Ao fundo, separada por um enorme arco, está a sala de jantar com uma cozinha americana, um armário gigante e lindo de morrer com a louça toda exposta e uma mesa quadrada de madeira de 12 lugares. É aqui ou no alpendre, de frente para a piscina, que é servido o pequeno-almoço e os almoços tipo snack, que incluem saladas, tábuas de queijos e enchidos e tostas.
Os quartos
Os quartos são rurais e contemporâneos ao mesmo tempo. Cada um tem uma decoração própria, sendo que em todos também imperam os tons suaves e o bom gosto. Os móveis do campo conjugam-se com um conforto e um luxo simples e irrepreensível. Nota-se que foram escolhidos com todo o cuidado.
As camas são enormes e confortáveis, as toalhas de banho são igualmente enormes e fofinhas, tal como os roupões, frescos e bons. E depois têm pequenos pormenores que me conquistam ao primeiro olhar: tanto o secador como os chinelos de quarto estão guardados nuns sacos de linho bordados à mão: são lindos, simples e estão à venda na receção. Tal como as amenities da marca Bulgari.
Quando chegámos ao quarto, fomos recebidos com música ambiente e um cesto com peças de fruta fresca, uns saquinhos com uma etiqueta a dizer “Miminhos da Malhadinha” com deliciosas bolachas caseiras, e uma garrafa de vinho rosé Monte da Peceguina. Enquanto eu arrumava as malas, o que é que Ele fazia? Claro. Abria a garrafa de rosé… Como é que uma pessoa consegue fazer dieta ao lado deste homem, meu Deus?
Ah, vale a pena falar dos termos com água na mesinha de cabeceira. Forrados com as cores de cada quarto, eram muito giros e caros… Sim, também se compravam na receção mas a um preço tão extravagante que se apagou da minha memória. Conclusão: os quartos são simples, acolhedores e confortáveis, mas… sim há um mas: infelizmente, ouve-se o barulho dos quartos do lado e os passos e as conversas no corredor… o que é uma pena.
O pequeno-almoço
O pequeno-almoço é servido em buffet, na enorme cómoda de madeira clara da sala, protegido por um imenso voile: é ótimo, com produtos frescos da região, como fruta de todas as cores e feitios e uma variedade incrível de queijos e compotas caseiras. O sumo de laranja natural é fresquíssimo e viciante, e tem ainda cereais, iogurtes caseiros e um bolo do dia. Pode pedir café, lattes, chás, cappuccinos, enfim, quase tudo.
Também fazem ovos a pedido mas isso ninguém nos avisou. Se não tivéssemos visto a mesa ao nosso lado a receber uns deliciosos ovos mexidos, não tínhamos adivinhado que podíamos pedir ovos no momento. Foi uma espécie de “I’ll have what she’s having!” do filme When Harry Met Sally, só que não tão animado. E lá vieram uns ótimos ovos mexidos cozinhados no ponto certo.
Apesar de termos ido no inverno, fizemos questão de tomar o pequeno-almoço no alpendre por duas ordens de razões (como diria um professor meu da universidade): porque é lindo e tem uma vista deslumbrante e porque a mesa da sala de jantar estava sempre cheia à hora a que nós chegávamos…
O restaurante
Tal como expliquei no início desta já longa prosa, o restaurante situa-se a um quilómetro do hotel, perto da casa dos proprietários, logo à entrada da herdade. E a ideia de separar fisicamente o restaurante do hotel faz todo o sentido, porque o restaurante está aberto ao público e assim não incomoda os hóspedes que, se preferirem, podem optar por um menu mais simples na sala do hotel.
Mas não se assuste: não tem que andar um quilómetro até ao restaurante (eu tive mas porque tenho um marido tirano que acha que andar faz bem à saúde, sobretudo depois de um jantar muitíssimo bem servido). Os simpáticos funcionários da herdade levam-no e trazem-no à hora que quiser. É só avisar na receção e tem um dos jipes da herdade à sua espera à hora marcada.
O restaurante propriamente dito é simplesmente espetacular. Com uma decoração clean e moderna, com uns apontamentos rústicos, como cadeirões em pele, mantas e uma salamandra a meio da sala, os pratos são ótimos e o serviço impecável. Com uma ementa em que cada entrada, prato principal ou sobremesa surge acompanhado com uma sugestão de um vinho da Malhadinha, escusado será dizer que nos desgraçámos totalmente.
Os pratos são mesmo bons ou não fosse o autor da carta o excelente Joachim Koerper, do restaurante Eleven, em Lisboa. Eu desgracei-me com um ovo do galinheiro a baixa temperatura, em pão alentejano, para começar e com um salmonete com cenoura biológica como prato princial. Estavam os dois absolutamente divinais.
Ele deliciou-se (sem engordar – odeio-o!) com um cappuccino de cogumelos de inverno, pata negra DOP e foie gras. Depois, comeu um ravioli caseiro de rabo de boi alentejano DOP com legumes da estufa e marmelos biológicos. Ambos incrivelmente deliciosos. No fim, ainda partilhámos uma sobremesa que era basicamente chocolate e framboesas apresentados em várias texturas: eu fiquei com as framboesas, Ele com o chocolate. É a vida.
As atividades
São inúmeras. Para começar, tem duas piscinas exteriores e um spa. Tem campo de ténis e uma coudelaria. Pode fazer desde passeios pela herdade a pé, de moto-4 ou a cavalo, passeios de balão, piqueniques, fora os vários workshops que a Malhadinha está sempre a organizar: fotografia, gastronomia e, claro, enofilia.
Vale a pena visitar a adega e conhecer um pouco mais sobre os vinhos que aqui se produzem. No fim da visita, faça a prova de vinhos. Garanto-lhe que não se vai arrepender. Se quiser saber os preços (as más notícias vêm sempre no fim, não é verdade?), tem aqui todos os contactos.
O bom
Os quartos e a decoração do hotel
O mau
O barulho que se ouve dos outros quartos e no corredor
O ótimo
O restaurante e o pequeno-almoço
Um ótimo Dia dos Namorados para si,
Ela
fotos: malhadinha nova