Convém começar este texto pelas evidências: chama-se Mercearia do Miguel porque, em primeiro lugar, é uma mercearia e, em segundo lugar, o dono chama-se… Nuno. Calma, não entre já em modo Indignação-Bruno-de-Carvalho. É claro que há um sócio. Que se chama: Teresa.
Na verdade, o Miguel foi o primeiro proprietário da mercearia fundada em 1958. Agora, Teresa e Nuno recuperaram o velho espaço e transformaram-no numa mercearia pequena e cheia de charme que também tem umas mesas para quem quer comer qualquer coisa leve: três na sala minúscula e mais três na esplanada microscópica. Mas é precisamente o facto de aqui tudo ser praticamente em miniatura que transforma a Mercearia do Miguel num sítio encantador e carregado de charme onde se pode petiscar alguns pratos simples feitos com o que está à venda: saladas, tostas, bruschettas, queijos, presuntos, enchidos ou uns deliciosos bolos caseiros que podiam perfeitamente ter sido feitos pela minha saudosa tia Zulmira.
O ambiente
Em pleno Passeio Alegre, mesmo de frente para a foz do rio Douro, está uma casa antiga e discreta que mais parece uma casa de bonecas. Com uma fachada verde-água, destaca-se do resto das casas tradicionais à volta por ter sido recuperada no ano passado, no entanto manteve a traça antiga e o maravilhoso telhado em escada, quase como se fosse um pequeno castelo.
O interior é muitíssimo acolhedor. Bem arranjado e em tons de madeira clara, está decorado com os produtos à venda, cuidadosamente arrumados nas prateleiras, e com alguns objectos originais: a balança antiga, as fotos do dono ou até o documento que atribuiu o licenciamento sanitário ao espaço no século passado.
Na esplanada, as três mesas de madeira com cadeiras de realizador ficam mesmo em frente ao eléctrico antigo que ainda percorre o Passeio Alegre. Ou seja, a Mercearia do Miguel consegue ter o charme do século passado com o conforto de hoje em dia.
A ementa
É claro que, com seis mesas, não pode esperar que seja fácil encontrar um lugar vago. Nós tivemos alguma sorte. Acompanhado da minha querida e imprescindível Mulher Mistério, cheguei ao fim da manhã, depois de uma reunião que me obrigou a ir até ao Porto, para comer qualquer coisa leve que me relembrasse do pequeno-almoço mas que substituísse o almoço.
E foi assim que caí nos braços de um óptimo galão (€1,40) feito com leite de soja e muita espuma enquanto a minha adorada Mulher Mistério mergulhou de cabeça num iogurte grego natural, acompanhado com granola e uns deliciosos pedaços de morango e banana (€2,60). Para acompanhar, Ela pediu um sumo de abacaxi (sem açúcar, claro) que vinha docíssimo e também com uma agradável camada de espuma por cima, o que o tornava mais leve (€2,50).
Depois do galão – e feita a transição para o almoço – pedi um crostini (€4,50) que estava muito bom. O pão saloio vinha estaladiço e ainda quente, com uns pedaços de mozzarella fresca, umas fatias de presunto que podiam estar ligeiramente mais fininhas, umas metades de tomate cherry e um fio de azeite salpicado com umas folhas de orégãos. Quando já ia a meio do crostini, reparei numas cervejas artesanais que estavam à venda nas prateleiras da mercearia e não resisti. Pedi uma Musa (€2,30) que é uma excelente lager portuguesa.
Este brunch improvisado (aqui não há menús de brunch, o que é uma pena) acabou com uma fatia de bolo de tangerina que dividimos pelos dois (€3). Era caseiro e feito pela própria dona, de manhã, e vinha ainda húmido com uns gomos inteiros de tangerina por cima.
Bom, na verdade, o brunch não acabou… Embalada pelo facto de só ter comido uma granola com iogurte, a minha querida Mulher Mistério sentiu-se auto-autorizada pela sua dieta a acompanhar o café (€0,80) com um brigadeiro de amendoim artesanal (€1), feito pela marca portuense Brigadão que pode encontrar à venda em algumas feiras ou aqui.
A mercearia
Se não quiser sentar-se – ou se não encontrar mesa – pode sempre ir até à Mercearia do Miguel para comprar qualquer coisa para levar. Das cervejas artesanais aos frescos, tem alguma variedade de produtos gourmet e até um armário exlusivamente dedicado às bolachas artesanais, o que deixou a minha querida Mulher Mistério com tremuras nervosas.
O serviço
São dois empregados a preparar tudo e a servir toda a gente, mas a verdade é que não esperámos quase nada e a mercearia estava praticamente cheia. Além disso, foram sempre simpáticos e sorridentes.
As crianças
Não tem um menu infantil, mas aqui é quase tudo adequado aos miúdos: tem uma sopa de legumes ou uma salada para os mais saudáveis e uma sanduíche, tosta, bruschetta ou crostini para os mais esquisitos.
O bom
A comida e os sumos naturais
O mau
É difícil conseguir mesa
O óptimo
O espaço e o ambiente acolhedor
Um óptimo almoço saudável para si onde quer que esteja,
Ele
fotos: mercearia do miguel; casal mistério
Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial.