mez cais ou mez caos? desde que vi as panelas a serem lavadas no chão da cozinha já não sei bem

    Devo confessar que foi das experiências mais traumáticas da minha desinteressante vida mistério. Arrastados pelo entusiasmado conselho de uns amigos nossos, resolvemos ir jantar ao Mez Cais, no LX Factory, em Lisboa.

    – A comida é óptima! E o espaço é incrível! Até tem um ringue de boxe no meio da sala.

    Não é que eu seja um grande fã do Mike Tyson, mas confesso que a ideia do ringue me entusiasmou. E por isso peguei no telefone e marquei uma mesa para jantar às 22h30, no segundo turno da noite.

    Como a minha querida Mulher Mistério já está naquela fase da vida em que, se sair de casa depois da 21h, adormece no sofá, resolvemos ir beber um copo antes, à fabulosa esplanada do Rio Maravilha, para ver se a conseguia manter acordada.

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    O serviço

    E foi assim que chegámos pontualmente, às 22h30, para encontrarmos a mesa pronta e direita à nossa espera. E mergulhada numa eléctrica azáfama de barulho, música alta e empregados a correrem de um lado para o outro. Fomos encaminhados para a mesa por uma empregada simpática. E foi aí que começou o nosso calvário.

     

    Depois de sentados, esperámos oito minutos para que nos trouxessem a ementa. Como começou a perceber que o serviço não ia ser rápido, a minha querida Mulher Mistério pediu logo um guacamole com uns totopos (tortillas de milho estaladiças) e uns cocktails enquanto escolhíamos. Se a ideia era apressar as coisas, enganou-se redondamente. A empregada só regressou 17 minutos depois, e à custa de muita insistência, mas apenas para tomar nota dos pedidos. Guacamole e bebidas nada.

    Onze minutos depois chegou, finalmente, o guacamole. Mas e as bebidas?

    – O bar está cheio de pedidos a esta hora, não consigo passar à frente.

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    Afinal, ainda só tinham passado 36 minutos a seco. Resumido à minha insignificância e à minha incapacidade de fazer uma margarita ali à mesa, não me restou outra alternativa que não fosse comer os totopos e o guacamole a seco. Seis minutos depois, outro empregado aproximou-se da mesa com alguma coisa na mão. Faço um sorriso de esperança, humedeço a boca seca e só desanimo quando olho para a minha querida Mulher Mistério e vejo o seu ar de desespero. Não eram as bebidas, eram as entradas. A começar logo por um couvert de milho doce com um creme feito de maionese, requeijão e… malagueta.

    Malagueta?! Exactamente. Esse ser picante que atirou esta entrada para o nível mais alto da escala de picante do Mez Cais. A seco. Sem qualquer elemento líquido que nos ajudasse a amenizar o sofrimento.

    Perante a incredulidade da situação, o novo empregado disponibilizou-se para resolver o assunto imediatamente. Doze minutos mais tarde chegaram finalmente as margaritas, uns precisos 54 minutos depois de nos termos sentado e quase um quarto de hora depois de a minha boca ter começado a arder como se fosse o caldeirão do Panoramix.

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    Acha dramática a espera? Comparativamente com um empregado a lavar as panelas no chão da cozinha, é uma verdadeira irrelevância.

    A cena traumática aconteceu ao minuto 64 do jantar quando, entediado entre um dos vários momentos de espera da refeição, resolvi girar arriscadamente a minha cabeça para a direita, onde uma cortina de tiras escuras mostrava algumas zonas da cozinha. A primeira coisa a prender-me a atenção foi o chão cheio de água turva. A segunda foi um grande recipiente de plástico no chão. O terceiro foi a frigideira.

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    Aproveitando a constante entrada e saída dos empregados, consegui ver o resto. Um empenhado empregado lavava furiosamente uma parte da loiça neste recipiente de plástico. Ali mesmo, no chão, no mesmo sítio que era pisado por Crocs, ténis e outro tipo de calçado. Já não discuto o incómodo que deve ser passar largos minutos de cócoras para conseguir lavar a loiça ali, mas ver utensílios que entram em contacto com a comida ao lado de uns Crocs usados e de um lago de água turva é, no mínimo, pouco recomendável.

    Ainda pensei que tivesse sido um acidente de percurso com a frigideira. Mas, a seguir, vieram panelas, pratos e até colheres de sopa.

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    Tudo alegremente lavado naquele recipiente cheio de água turva pousado no chão, enquanto os empregados que serviam as mesas entravam e saíam da cozinha sem qualquer aparente ponta de surpresa.

    A aventura durou praticamente até ao fim do nosso jantar, ao ponto de nos ter dado tempo para filmar e tirar fotografias com o telemóvel sem que ninguém reparasse. E obedeceu sempre ao mesmo método: o empregado colocava-se de cócoras, pousava a loiça, as panelas e os talheres no chão e lavava recorrendo à água turva que estava dentro do recipiente de plástico, também pousado no chão. Os talheres eram lavados lá dentro. As frigideiras e as panelas eram lavadas mesmo no chão. Eu sei que já repeti a palavra “chão” pelo menos nove vezes ao longo deste texto, mas o trauma é mais forte do que gramática.

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    É claro que esta criativa adaptação do lava-loiças provocou uma pouco atraente acumulação de água turva que se alastrou pelo chão (outra vez…) da cozinha e que se revelou inversamente proporcional ao meu apetite.

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    A ementa

    Foi, por isso, com algum desconforto que degluti as entradas: um ceviche de salmão marinado em citrinos que tinha um exagerado sabor ácido e que vinha com uns chips de batata doce que estavam quase queimados; um ceviche de atum com totopos negros, cubos de abacate e um molho agridoce por cima que achei forte demais e enquadrado de menos; e uma quesadilla vegetariana que vinha acompanhada por um puré de feijão preto com uma consistência que só consegui comparar à argamassa utilizada pelo servente de pedreiro para reparar as fissuras cá de casa neste Verão.

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    Enquanto continuava a acompanhar o empregado a lavar furiosamente a loiça, de cócoras, no chão, chegaram uns tacos de caranguejo frito servido sobre aquilo a que, na ementa, arrojadamente se chama de quinotto de abacate. Ora bem, para mim quinotto é a combinação das palavras “quinoa” e “risotto”, o que exigiria que o resultado final fosse uma quinoa molhadinha e cremosa, com aquela consistência invejável do risotto. Infelizmente, trouxeram-nos uma quinoa semi-pegajosa e colada em bloco.

    Confesso que, depois de tudo isto, já mal consegui provar o burrito de novilho. E, quando nos perguntaram pelas sobremesas, eu só queria afastar-me o mais possível daquela cozinha alagada de água turva e com a loiça no chão.

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    As bebidas

    Novo erro. A margarita de melancia era uma mistura de água com um toque meio axaropado. E quando a minha querida Mulher Mistério perguntou se aquilo era mesmo uma margarita de melancia, porque a melancia não sabia, responderam-lhe com toda a convicção:

    – É, é! O problema é que as melancias não estão muito maduras!

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    O ambiente

    Além do barulho excessivo e da agitação protagonizada pelos empregados a correrem de um lado para o outro, salvou-se o ringue de boxe, em cima do qual foi colocada uma mesa de jantar ligeiramente acima das outras. É divertido, é criativo, é animado. É, sim, senhor. O problema é que eu tinha ido lá para comer. De preferência, em pratos lavados no lava loiças.

     

    O bom

    A decoração

    O mau

    A margarita de melancia e grande parte da comida

    O péssimo

    A loiça a ser lavada no chão

     

    Um óptimo jantar para si onde quer que a limpeza esteja,

    Ele

     

    fotos: mezcais; casal mistério

     

    Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial. 
    _____________________________

    Mez Cais LX
    LX Factory, Rua Rodrigues Faria, 99 Lisboa
    Domingo a quinta, das 9h às 01h 
    Sextas e sábados, até às 03h
    T: 926 396 317

     

    16 comentários em “mez cais ou mez caos? desde que vi as panelas a serem lavadas no chão da cozinha já não sei bem

    1. Me cais…atenção ASAE!!!esse suposto restaurante devia fechar…a não ir de certeza absoluta…que nojo…eu recusava-me a pagar a conta… Jamais pagaria comida péssima e más condições higiene e pediria o livro de reclamações? Porque não pediram? No coments😠😠😠😠😠😠

    2. Boa tarde
      Li com atenção a sua descrição e não consegui resistir a comentar.
      O primeiro “inspetor” é o cliente, que deve exigir um serviço de qualidade e se deve recusar a pagar quando tal não acontece.
      Se se confrontar com situações como a que descreve (e que, ainda por cima, foi capaz de documentar em fotos e vídeos), deve reclamar por escrito (no “obrigatório” livro de reclamações), recusar-se a pagar o que eventualmente já tenha consumido (se é que foi capaz de consumir o que quer que seja mesmo depois de ver o que viu…) e abandonar o local.
      Se tivermos TODOS esta cultura de exigência e responsabilidade, as coisas irão melhorar, certamente, e os MAUS estabelecimentos tenderão a desaparecer.
      Agora ver o que viu e continuar lá, a comer e a beber, sinceramente não consigo compreender e tenho alguma relutância em aceitar.
      Tentou, pelo menos, falar com o responsável pelo estabelecimento? Se não, porquê?
      Está à espera que as entidades fiscalizadoras façam aquilo que deveria, em primeira instância, ser feito por si?
      Tem consciência que os poucos “agentes” de fiscalização disponíveis dificilmente chegarão a todo o lado?
      Assim é seguramente mais difícil que as coisas melhorem.
      Cumprimentos e boas escolhas para o futuro.
      Eduardo Duarte

    3. Concordo, plenamente, com Eduardo Duarte. Li o artigo e não resisto a colocar a questão: Por que razão não abandonaram o local, depois de terem visto e, até, fotografado uma situação tão “insólita”? Não sei como foram “capazes” de comer, tendo conhecimento do que se passava, ali, tão perto. Desculpem a sinceridade.

    4. Essa cadeia de restaurantes apoia-se em comida mexicana de fraca qualidade e boa localizacao para fazer negócio. Após a primeira visita só lá vou se a isso for obrigado em jantares de grupo como já fui infelizmente. Serviço péssimo, comida razoável, espaço muito barulhento…

    5. Casal mistério, eu um fiel seguidor do vosso blog, não podia estar mais desapontado com vocês. Cheguei ao fim desta misteriosa aventura, não só pela falsa difamação deste jovem restaurante mas pela constante negativismo usado ao rever a vossa visita a qualquer restauraunte que não seja do vosso particular agrado.

    6. Tenho cada vez menos vontade de comer em restaurantes. Ele é comida fraquinha e/ou cara, espaços com decorações giras mas com casas de banho a cheirar a esgoto (faço ideia as cozinhas), empregados com má cara e que não chegam para as encomendas. Então o lx factory e outros locais trendy da cidade estão cheios de sítios assim. Bons para as fotos do Instagram, mas maus naquilo que interessa. Como adoro cozinhar, tenho jantado em casa e saio depois para um copo. Com a certeza que comi BBB, bom, bonito e barato😉

    7. Falsa difamação? Com fotos a comprovar?

      Obrigada pelo alerta, pois estava a pensar em ir ao restaurante e definitivamente não quero comer em um sítio assim!

    8. Já fui ao Mez Cais. Adorei!
      Comida diferente bem servida, ambiente jovem, Serviço impecável!
      Lavar tachos no chão… Creio que é no Interior do tacho que se faz o cozinhado.
      Voltarei 😃

    9. Um ringue de boxe no meio do restaurante… e a comida não prestava? Que estranho. Até tinha um ringue de boxe no meio do restaurante…

    10. Eu fui ao Mez Cais do Cais do Sodré e a experiência não foi de todo melhor.

      Era um grupo de 12, com reserva feita semanas antes para as 21:30h.

      às 22h ainda lá estava a mesa anterior .

      às 22:30 estávamos sentados.

      às 22h45 roubámos uns menus do balcão porque ninguém nos trazia.

      às 23 aparece um empregado a perguntar o que queremos.

      veio parte das entradas, parte dos pratos, o resto das entradas, o resto dos pratos, uma confusão.

      as bebidas tinham que ser pedidas 10min antes para chegarem.

      houve 3 ou 4 coisas que nunca apareceram na mesa e estavam na conta. Num jantar de 12 pessoas normalmente passaria despercebido, o que é mau, valeu-nos não estarmos satisfeitos.

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