– Boa noite. Como é que é este frango ML Style?
– Hmmm… Sei que tem vários ingredientes.
– Pois, isso eu desconfio que possa ser verdade.
– E sei que um dos ingredientes é espargos. É que há muita gente que não gosta… Mas o melhor é perguntar à minha colega ali.
Esta minha conversa não foi com o segurança do Mercado da Ribeira, em Lisboa. Nem com o responsável da manutenção. Foi mesmo com uma empregada do novíssimo Chicken All Around, o último restaurante do chef Miguel Laffan, o próprio do “ML”. Dirigi-me diligentemente até à “minha colega ali” e repeti a pergunta.
A senhora olhou de forma atrapalhada para um conjunto de folhas à sua frente. Começou a virá-las freneticamente. Depois procurou no verso. E acabou por se virar para uma terceira colega, que estava atrás de si, a perguntar. E foi esta heróica senhora que conseguiu finalmente esclarecer esta minha dúvida hiperbólica. O frango ML Style é igual a um cachorro, mas com salsicha de frango.
Esclarecida a questão, vamos ao que importa: não pedi o frango ML Style, era só mesmo uma questão de curiosidade. O Chicken All Around abriu há poucas semanas – como se pode perceber pela conversa acima – e é o novo projecto dos donos do Porto de Santa Maria, em Cascais, e do chef Miguel Laffan, vencedor de uma estrela Michelin no restaurante do L’AND Vineyards, no Alentejo. Para já, abriram no Mercado da Ribeira, no Verão contam abrir no Mercado da Vila, em Cascais. Miguel Laffan criou a ementa e acompanha todo o processo, o chef executivo é João Oliveira. E isso pode ser um problema. Porque, apesar de ter bons petiscos, o frango “acompanhado” por Laffan está muito longe dos melhores frangos que se comem por aí.
A ementa
Excluído o ML Style, resolvi encher dois tabuleiros e provar o máximo de pratos que consegui (este blog está a destruir a minha relação com os cintos das calças). Primeiro, os petiscos – que são claramente o melhor.
Comecei por pedir uma espetada de corações de galinha (€2,50) que vem servida numa taça, já fora do espeto e acompanhada por um óptimo molho que lhe dá um sabor intenso e agradável. Depois, provei um bom paté de fígados (€2,50) que dá perfeitamente para dois. Vem, no entanto, acompanhado por umas tostas grossas demais para o meu gosto, douradas por fora e fofinhas por dentro – com o miolo ainda mole.
Até aqui, não estava deslumbrado com o novo restaurante, mas pelo menos tinha achado razoáveis as criações do chef Michelin à volta do frango de churrascaria. O pior veio depois.
Como prato principal, pedi meio frango chimichurri (€6,90) que é temperado com este molho típico da Argentina, feito à base de azeite, vinagre, salsa e alho e que aqui é servido numa versão não-picante. O problema é que o molho deve ter sido usado apenas antes de cozinhar. E o resultado acaba por ser um frango saboroso, mas muitíssimo seco, sem qualquer vestígio de líquido nas imediações.
Para acompanhar, resolvi arriscar na batata doce (€2,50), feita com lima, coentros e chili. Mais um erro. O que vem para o prato é o interior da batata esmagado e com um leve sabor a lima. Mas o pior nem é o facto de não se dar sequer pelo picante do pimento, é mesmo a consistência da batata. Servida sem pele, é colocada no prato como se fosse um empadão, o que nos deixa embuchados, com duas bochechas à Mário Soares, ao fim da primeira garfada. Mesmo com a ajuda Dela (e olhe que é uma ajuda poderosa…) ficou mais de metade da batata doce no prato.
Nesta fase, já só queria era provar um doce. Mas não tive coragem de correr mais um risco e pedir as bolas de Berlim do Chicken All Around. Acabei na outra ponta do mercado, no…
…se calhar, não vou dizer – e guardo a sobremesa para outro post.
O serviço
Tirando a desorientação do início, foram sempre muitíssimo simpáticas. E, quando viram o meu desespero a tentar equilibrar sozinho dois tabuleiros com quatro pratos em cima (Ela preferiu jantar noutro sítio), qual malabarista da sofreguidão gastronómica, uma empregada ofereceu-se logo para me ajudar a levar a comida à mesa. Felizmente consegui desenrascar-me e não tive de passar por esse momento humilhante que era levar tanta comida para uma pessoa que não a conseguia transportar sem ajuda.
O serviço aqui funciona de uma forma mais confortável do que num simples self-service. Vai ao balcão fazer o seu pedido e pagar. Depois dão-lhe um aparelho que vibra quando a comida está pronta. Ou seja, pode ir procurar mesa à vontade ou buscar uma bebida a outro lado enquanto lhe preparam a refeição. No meu caso, tive tempo de ir buscar uma boa cerveja artesanal à banca da Super Bock, procurar mesa, sentar-me, beber quase toda a cerveja e ver a minha querida Mulher Mistério comer metade do seu jantar. No total foram mais de 15 minutos de espera.
O ambiente
O Mercado da Ribeira está com uma vida incrível. Cheio de turistas, consegui sentar-me entre uma família de inglesas, um grupo de italianos e um casal de brasileiros. É um espaço animado e com uma oferta enorme. É difícil arranjar mesa, mas a logística funciona bastante melhor do que o Mercado de Campo de Ourique. Só o facto de haver bebidas em cada um dos restaurantes, facilita bastante a vida dos clientes.
E, depois do jantar, pode comprar qualquer coisinha na loja da Vida Portuguesa que existe ali – é sempre irresistível.
As crianças
Existem dois menus infantis que custam €5,50: um com canja, meio frango e batata frita; e outro com canja, hot dog de frango e batata frita.
O bom
Os corações de galinha
O mau
O frango
O péssimo
A batata doce
Um bom frango para si onde quer que as estrelas Michelin estejam,
Ele
fotos: chicken all around; mercado da ribeira
Um bom domingo.
Tudo certo, não fosse a Super Bock NÃO ter cervejas artesanais 🙂
Olá, Zé
Antes de mais, muito obrigado pelo seu comentário. Na verdade, a Super Bock lançou uma linha de cervejas artesanais, a 1927, que está disponível no Mercado da Ribeira, no quiosque que eles lá têm. A que provámos foi a Munich Dunkel, que não é nada má 😉
Obrigado e esperamos que continue a acompanhar o Casal Mistério,
Ele
Boa noite,
É uma vergonha, um artigo tão tendencioso….. Claramente nota se que existe compatriota por parte deste pseud blogueiros, triste influenciarem pessoas…. O mercado da ribeira com boa logística, deviam era levar uma cagadela de um pombo na cabeca….. Enfim
No mínimo hilariante a maneira como criticam tudo aquilo que não vos agrada. Em vez de estarem a associar tanto o nome do chef Miguel que apenas é consultor e idealizou a carta, e o trabalho do chef João Oliveira que todos os dias está lá a dar o seu melhor e não anda por ai a brincar aos jornalismos, podiam fazer o seguinte, não gostam, não comentam, é fácil. Vocês melhor que ninguém sabem que Portugal está cheio de tontos que não pensam e que são influenciados por personalidades como os caríssimos do casal mistério. Por outro lado é fácil apontar farpas quando se é “mistério” e poucos sabem quem são. Tentem ser isentos, vocês não terem gostado, não significa que “o chef executivo é João Oliveira. E isso pode ser um problema” à dias e dias, e sempre podem pensar que o frango conhecia as vossas tendências de pseudo dietas e ter secado.
Uma boa e isenta opinião para vocês, onde quer que estejam
Antes de mais queria agradecer a vossa visita ao meu Espaço no MR em Lisboa. gosto de aprender com os meus erros e sou totalmente focado no meu cliente.
Agora vou ser sincero consigo, acho um pouco injusto o título do post para o conteúdo do argumento, em primeiro lugar acho que qualquer critico deveria ir ao restaurante no mínimo 3 vezes antes de lhe rotular seja o que for, estamos abertos a 2 meses não conheço nenhum critico reputado que avalie um restaurante nos primeiros 6 meses de vida desta forma.
As entradas estavam boas!
O frango até era saboroso!
A empregada ainda lhe ajudou a carregar os tabuleiros!!
Acho os argumentos muito fracos e injustos para o título do post e sinceramente não percebo a ultima frase Michelin frangos?!
Quando realmente quiser conhecer o conceito com um outro ponto de vista terei todo gosto em lhe convidar.
Parabéns pelo blog
Ml
Caro Miguel,
Deixe começar por lhe agradecer a sua atenção e, acima de tudo, a educação com que encara as críticas. Como pode calcular, dá-me muito mais prazer escrever sobre um restaurante que adorei do que sobre um restaurante de que não gostei tanto. No entanto, estou firmemente convencido de que devo a honestidade de uma crítica isenta aos leitores do blog.
Parece-me, no entanto, que o Miguel parte de um princípio errado na crítica que faz ao Casal Mistério: eu não sou um crítico gastronómico reputado e não pretendo sê-lo. Sou apenas um cliente normal que frequenta muitos restaurantes e que adora comer. É por isso que não tenho o mesmo método de trabalho dos críticos gastronómicos reputados: não aceito convites para almoçar com os donos dos restaurantes, não faço amizade com os chefs, não permito que me paguem a conta quando vou escrever sobre um espaço. Quero ser tratado como qualquer outro cliente – que não tem um tratamento especial, que não ouve as explicações dos chefs sobre o seu conceito e que, às vezes, quando faz perguntas para o esclarecerem sobre um prato, depara-se com um empregado que não lhe sabe responder.
Este cliente normal tanto pode visitar um restaurante seis meses depois de abrir ou seis dias. E é por isso que eu escrevo sobre restaurantes que abriram apenas há dois meses, como aconteceu com o Chicken All Around – porque parto do princípio de que, quando um restaurante está aberto ao público, também está aberto às críticas.
Isto para lhe dizer que infelizmente não poderei aceitar o seu amável convite, tal como tenho recusado o de tantos outros chefs que simpaticamente me têm convidado para visitar os seus espaços – porque tenho a certeza de que teria um tratamento especial e isso iria influenciar a minha opinião sobre o restaurante.
Quanto aos argumentos que eu exponho no texto que escrevi, foram sinceramente aquilo que eu senti. Eu não sei se o frango passou por uma emulsão nem a quantos graus foi cozinhado. Eu sei apenas que estava seco. Tinha bem presente o sabor do molho chimichurri, mas estava seco demais para o meu gosto. E acho que os leitores do Casal Mistério gostariam de saber isso antes de lá irem. Se calhar, daqui a seis meses estará tudo muito melhor. É aí terei oportunidade de escrever outro texto.
Espero que não me interprete mal nem tome esta resposta com qualquer amargura, mas acho importante que tanto os leitores como os chefs compreendam o conceito do Casal Mistério.
Muito obrigado mais uma vez pela sua mensagem e espero sinceramente que o seu novo espaço seja um sucesso.
Um abraço,
Ele
Caro Miguel,
Antes de mais, muito obrigado pelo seu comentário. Ao contrário do que refere, não me parece que o chef Miguel Laffan seja apenas o consultor, como pode ver pelo nome que aparece à porta do restaurante. O anonimato é aquilo que nos permite fazer críticas isentas (como aquelas que o Miguel defende) e não receber um tratamento especial. Quanto ao facto de publicarmos as opiniões negativas que temos sobre os espaços em vez de as guardarmos para nós próprios, é uma questão essencial de honestidade para com os nossos leitores.
Muito obrigado,
Ele
quando se faz uma critica construtiva com pes e cabeça vai que nao vai agora criticar e no se dar a conhecer esse casal e um grande acto de cobardos conheço muito bem todo o trab desse grupo o seu esforço para que tudo seja servido como deve ser enfim deixem se de ser cobardos e digam quem sao o que fazem na vida talvez nada a noa ser so deitar a baixo quemtrabalha muitas vezes das 6h da manha as 24h pois voces devem passar a vida a serem ns inuteis pensem bem o que vos leva so a falar d mal tenham um santissimo fim de semana sem nada para fazer pois penso que deve ser o grande mal deste que se da pelo nome CASAL MISTERIO
tambem acho e penso que com o tempo se vai chegar a este casal misterio
gostaria so de saber o porque por em questao o profissionalismo do chefe JOAO OLIVEIRA penso que esse vosso comentario CASAL MISTERIO tem realmente ou nao uma grande ponta de maldade ? cuidado quando se poe o trab dos outros com raiva e maudade gostaria de receber alguma resposta aos meus comentarios muito obrigado
Olá, Anabela
Antes de mais, deixe-nos agradecer as suas críticas e comentários. Apesar da sua revolta, é sempre bom recebermos o feedback dos leitores. É evidente que, para um profissional que trabalha na restauração, não é agradável ouvir críticas negativas, mas acredite que também não é agradável escrevê-las. No entanto, nós estamos convencidos de que a honestidade e a transparência são valores fundamentais na relação com os nossos leitores. E, para isso acontecer, temos de relatar as experiências negativas da mesma forma que enaltecemos as positivas.
É também por isso que mantemos o anonimato e só fazemos crítica-mistério: para que não sejamos recebidos nos restaurantes com mais cuidados ou mais privilégios do que são recebidos os clientes normais.
Obrigado,
Casal Mistério
nao aceito essa resposta penso que como nao teem realmente nunhum fundamento e so criticar por criticar para isso ais vale estarem calados e nao passarem a vida a falar mal ou quando criticarem tenham ou apresentem soluçoes caso contrario deixem trabalhar
Apesar de estar aberto há pouco tempo, está aberto e como tal deve esperar-se que esteja no seu melhor, porque senão, começamos desde já com um mau conceito face aos possíveis clientes. O casal foi lá e não gostou, o que interessa se é o restaurante é do chef Miguel ou do Chef não sei quantos. Não gostaram e partilharam. São obrigados a gostar de todos os sítios? sabem que a revolução veio permitir às pessoas dizerem exatamente o que pensam e se vocês gostam assim tanto do restaurante, abram um post no vosso blog e escrevam lá o que intenderem, tal como estes senhores fizeram aqui. Que raio.