O que é que um pai garboso faz quando tem de levar o seu filho ao médico às três da tarde? Exactamente isso que estava a pensar: leva-o para almoçar no novo quiosque da Charcutaria Lisboa, na Avenida da Liberdade. É preciso animar a criança… dar-lhe alguma recompensa… e enquanto alguns enchem os filhos de chupa-chupas à entrada do médico, eu encho-os de presunto e queijo.
O ambiente
A Charcutaria Lisboa é uma das tasquinhas do Mercado de Campo de Ourique e em Março abriu um quiosque na Avenida da Liberdade, junto à esquina com a Praça da Alegria, onde antes ficava o quiosque Maritaca. Feita esta introdução ao bom velho estilo “Vamos Jogar no Totobola”, podemos passar ao que realmente interessa. O espaço – tal como os outros quiosques da Avenida da Liberdade – começa a ser um local de passagem obrigatória para quem quer almoçar em Lisboa nestes dias de calor. Além de ter muita sombra, tem árvores à volta, o que nos permite auto-convencer, durante uns minutos, de que estamos de férias, a almoçar num jardim quando na verdade estamos a poucos segundos do trabalho.
A esplanada está decorada com as tradicionais cadeiras Gonçalo, pintadas de branco e com umas tábuas de madeira no assento. Se for ao fim do dia e estiver mais frescote, também há umas mantas para pôr por cima das lombares mais sensíveis. Em alguns dias ao fim da tarde, há música ao vivo, mas quando fomos ao almoço o ambiente estava tranquilo.
A ementa
Não comece já com a conversa das dietas. Estamos numa charcutaria, onde eu vim para ter uma conversa de homem para homem com uma criança de 12 anos, à frente de um prato de presunto e de um copo de três (ok, esta parte do copo de três já é exagero…). Por isso, os meus olhos estavam direccionados exclusivamente para os queijos, os enchidos, as empanadas, as tostas, as chapatas e as tábuas mistas. Mas depois desviei ligeiramente os olhos à procura dos meus abdominais estilo-tanque-de-lavar-roupa – e não os encontrei. Fugiram, desapareceram, sumiram, evaporaram-se. Foi nesse instante que percebi a dura realidade de não ser o Cristiano Ronaldo. Enquanto ele anda a virar margaritas em Saint Tropez, eu tenho de comer uma saladinha na Charcutaria Lisboa.
Pior. Eu como a saladinha enquanto o meu pequeno herdeiro mistério se delicia com uma muitíssimo bem apessoada chapata de queijo da Serra com presunto (€4,50). Repare: o jovem aspirante a chef que temos cá em casa não se deu por satisfeito com uma chapata de queijo da serra. Nem com uma chapata de presunto. Teve de juntar estas duas tentações do demo numa mesma chapata.
O pão é feito de centeio alentejano e tem uma extraordinária côdea que estala ao trincar enquanto solta uns suaves restos de farinha para a boca. O miolo é mole, mas é miolo a sério, não é daquele miolo moderninho que tem a consistência de algodão doce. Este sente-se e aprecia-se. Dentro desta fantástica chapata vêm umas fatias finíssimas de presunto acompanhadas de um delicioso queijo da serra, tão cremoso quanto viciante, que tem um ligeiro travo tostado no fim. A quantidade não é gigante, mas é razoável e dá perfeitamente para o almoço de alguém que não tenha o apetite do Monstro das Bolachas.
Como já conseguiram facilmente perceber por todas estas sentenças dadas à volta da chapata de queijo da serra com presunto, eu terei eventualmente dado uma trinca ou outra apenas para provar – nada que comprometa o meu objectivo-tanque-de-lavar-roupa até ao Verão. Além disso, ainda comi uma muito simpática salada de salmão fumado (€4,50). Se está atento ao parêntesis, posso esclarecer-lhe que os €4,50 não foram engano nem a salada é servida num pires de caracóis. É mesmo barata e suficiente para o deixar satisfeito ao almoço se pedir uma sobremesa.
Por baixo vem uma mistura de alface verde, alface roxa e rúcula boa e saborosa. Depois vêm algumas fatias de um salmão fumado que consegue essa proeza cada vez mais extraordinária de não ser demasiado gorduroso. E finalmente vêm quatro tomates cherry manifestamente insuficientes para o tamanho do prato.
Perante a escassez de tomate, e depois de conferenciar seriamente com o senhor, meu filho, cheguei à conclusão de que seria quase indelicado vir almoçar a uma charcutaria e não provar um queijinho. Foi o golpe fatal na dieta. Pedimos uma Tábua Charcutaria (€11) que vem com uma variedade de presunto e outra de queijo curado e forte. Apesar de vir acompanhada com uma chapata fatiada, a tábua é claramente pequena demais e com pouca variedade para o preço cobrado.
Como sobremesa, dividimos uma tarte de amêndoa (€2,80), um dos pratos preferidos do meu querido filho mistério. E antes que comece a desconfiar mais uma vez da minha capacidade de me conter na alimentação, devo dizer-lhe que me limitei a provar a tarte de amêndoa apesar de ter passado parte da minha manhã a correr furiosamente numa desagradável passadeira. A tarte é crocante por cima e não muito dura na base. Eu prefiro aquelas tartes de amêndoa que partem dentes de tão caramelizadas, mas esta também estava óptima e com um intenso sabor a amêndoa. Ele adorou.
O serviço
Há um detalhe que faz uma grande diferença para outros quiosques da Avenida da Liberdade: as bebidas são servidas em simpáticos copos de vidro, não nos sinistros copos de plástico que estão a invadir as esplanadas deste país. Além disso, as empregadas que nos serviram foram sempre muito simpáticas. Pedimos ao balcão, pagámos e depois vieram trazer-nos os pratos à mesa, o que evita que uma pessoa ande para a frente e para trás com a comida na mão.
As crianças
Não tem menu infantil, mas o espaço é óptimo para as crianças. Só tem de ter cuidado com a estrada ali ao lado.
O bom
O sítio, no centro de Lisboa
O mau
O preço da tábua de queijo e presunto
O óptimo
A tosta de queijo da serra e presunto
Uma boa esplanada para si onde quer que o queijinho esteja,
Ele
fotos: charcutaria lisboa; mercado de campo de ourique; quiosques liberdade
Boa tarde querido casal mistério.
Sou o responsável da Charcutaria Lisboa, e
foi com muito agrado que li a vossa critica sobre mais um espaço que abrimos! Ficamos a aguardar mais visitas, até porque vamos ter uma novidades, que aposto que vão adorar!
Apenas um reparo. O presunto que utilizamos nas chapatas, é um presunto de porco branco serrano, enquanto o presunto que está nas tábuas, é um presunto de porco preto, com 24 meses de cura, de elevada qualidade, além de ser cortado à mão por um mestre cortador!
O pormenor e a qualidade fazem a diferença e tentamos que assim seja 🙂
Muito obrigado,
Francisco Mira
( Charcutaria Lisboa)
Olá, Francisco
Antes de mais, muito obrigado pelo seu comentário. Pedimos desculpa pelo lapso que já está corrigido. Assim que tiver novidades, diga. Gostamos de estar sempre a par do que se passa.
Obrigado,
Ele
Sem dúvida que vosso blog é interessante, no mínimo para quem vive em locais onde o acesso à informação é difícil e complicado… dai ser um seguidor relativamente activo do vosso blog… 1 vez por semana vejo as receitas sugeridas… e algumas delas são aproveitadas, mas adaptadas (no fim do mundo não existem todos os ingredientes… temos de nos tornar em ‘yogis – do you know what i mean!’)
No entanto devo escrever que a vossa actividade não me parece produtiva (de um ponto de vista económico não gera riqueza… pelo contrário) … deixo aqui uma ideia… em vez de criticarem a iniciativa dos outros porque não comunicam aos visados o que esta mal e os ajudam a aperfeiçoar… de certeza que terá um impacto mais positivo na economia da felicidade… agora falar em prejuízo de algo quando se é seguido por uma multidão (sem falar do programa na rádio) requer responsabilidade e conhecimento… alem disso o ego é uma coisa do século passado…
@+
CF
Olá, César
Antes de mais, muito obrigado pelo seu comentário e pelas suas sugestões. Nós publicamos as críticas, tal como os elogios, por uma questão de transparência e honestidade para com os leitores. Se ocultássemos as opiniões negativas, não estaríamos a ser sérios consigo.
Além do mais, acreditamos que os meios de comunicação social livres, sérios e honestos são essenciais para a evolução de qualquer economia.
Muito obrigado,
Casal Mistério