Alerta geral à população! Aeeeeeeeeeehhhhhhhhhhhhh! (Isto era suposto ser a onomatopeia da sirene dos bombeiros que antigamente tocava ao meio-dia, mas acho que não resultou muito bem): o bairro de Santos, em Lisboa, está a transformar-se na nova zona cool da cidade. O sucesso do Cais do Sodré está a ser levado como uma brisa marítima para o bairro do lado: há lojas com pinta, restaurantes com estilo e novidades a abrirem todos os dias (ok, todos os dias, todos os dias, é capaz de ser exagero, mas lá que há muitas coisas novas, lá isso há…). E não estou a falar só da Av. 24 de Julho, onde estreou recentemente o Popolo. Estou a falar das entranhas mais profundas do bairro. Aquelas ruelas cheias de armazéns e graffiti, onde agora estão a abrir espaços simpáticos e originais.
E foi exactamente a um desses novos recintos lúdico-gastronómicos que este vosso fraterno casal se dirigiu há poucos dias para refeiçoar tranquilamente: fomos ao Pachamama, um restaurante totalmente biológico, que também é padaria – e também totalmente biológica.
A ementa
Aqui a palavra “totalmente” não está a ser 100% rigorosa. Na verdade, é apenas 99,98%, uma vez que o descafeínado e a água tónica não são biológicos. De resto, café, gin, vinho, comida e bebidas estão livres de fertilizantes, corantes, conservantes e outras palavras horripilentas acabadas em “antes”. Eu não sou propriamente um fundamentalista destas coisas, mas lá que a fruta, os legumes, os ovos, a carne e o peixe têm um sabor totalmente diferente, lá isso têm. E, por acaso, o pão também.
O couvert
Mal sentei estes glúteos turbinados por horas e horas diárias de ginásio na cadeira do restaurante, trouxeram para a mesa um vaso com dois tipos de pão: um mais claro, de trigo, e um mais escuro, de trigo integral e centeio. Primeiro ponto: o pão é feito pelo próprio restaurante num local ao lado. Segundo ponto: é feito de forma tradicional e amassado à mão. Terceiro ponto: é uma delícia, uma das melhores coisas do Pachamama. Por fora, a côdea é estaladiça; por dentro, o miolo é húmido. Para mim, o pão escuro, que é ligeiramente mais azedo do que o claro, é muito melhor. É evidente que o primeiro vaso de pão não chegou e teve de vir um reforço para a mesa e mais outros dois exemplares para levar para casa. E esta é uma informação digna do seu registo, amigo leitor: além de serviço de take-away, o Pachamama abre de segunda a sábado às 8h para servir pequenos-almoços, por isso, se não lhe apetecer almoçar e se viver ali por perto, experimente este divinal pãozinho bio logo pela fresca.
A completar o couvert (€3) vem ainda uma boa pasta de grão com colorau, muito leve e agradável, e umas azeitonas com azeite e alho, tenrinhas e super saborosas.
Os pratos
Este é o momento alto do meu humilde texto. Pela primeira vez na curta história do Casal Mistério este vosso criado escolheu melhor do que a senhora, sua mulher. É verdade. É a mais pura das verdades. E por muito que Ela vos diga que foi influenciada por mim a escolher a sua polenta de vegetais, não acreditem. É falso! Totalmente falso! (Reparem na repetição da palavra “falso” e nos dois pontos de exclamação para reforçar a minha posição) É evidente que a polenta de vegetais (€7,90) é um prato mais difícil. Orgulhosamente apresentado na ementa como uma opção vegan, vem com polenta, beringela, cenoura e courgette. Além de pesado demais, tinha ainda bem presente o sabor da beringela com casca, que não é, definitivamente, dos meus vegetais favoritos.
Em compensação, eu pedi uma simpática salada de bacalhau (€8,50), que, não sendo a melhor salada que comi nos últimos tempos, era saborosa: vinha com o bacalhau lascado entre um pouco de rúcula, cebola roxa e ovo cozido, e salpicado com uma emulsão de laranja. Além de ter aquele toque meio picante da rúcula selvagem, que eu adoro, convenhamos que seria um prato bastante mais apropriado para quem se auto-intitula uma “dieteira” permanente.
O melhor de tudo foi, no entanto, a entrada (€5,70): um cogumelo portobelo recheado com pimentos, uma juliana de cenoura, quinoa, rúcula e nozes, e temperado com vinagrete. Além de leve, o cogumelo estava muitíssimo bem cozinhado e o molho de pimentos que vinha ao lado dava-lhe um toque salgado delicioso.
As bebidas
É claro que com esta sensibilidade de troglodita da civilização moderna, a primeira coisa que fiz ao chegar foi pedir uma Coca-cola. A simpática senhora olhou para mim com um sorriso condescendente, como quem diz:
– Lamento, mas ainda não temos Coca-cola biológica.
Acabei por pedir um sumo do dia, feito com ananás e aipo, que estava fantástico: doce, fresco, nada aguado e com um toque picante delicioso.
O ambiente
Eu sei que um restaurante totalmente biológico, e ainda por cima chamado Pachamama (a divindade máxima das tribos dos Andes) tem de ter uma onda meio-indígena. Mas sinceramente os grafitti que enfeitam as paredes do restaurante não são o meu ideal de decoração. É pena, porque os arcos originais em pedra, as lâmpadas penduradas no tecto e as mesas brancas dão um ambiente simpático. O problema é que os graffitti, tal como os dois cadeirões estampados com tucanos, poderiam ter saído directamente da sede do Movimento de Amizade Luso-Brasileiro.
O serviço
Fomos almoçar a um dia de semana e só estava uma mesa ocupada além da nossa. Por isso, sobrou disponibilidade por parte do empregado. Sempre muito simpático, falou de todos os detalhes de cada prato com uma dedicação impressionante. De vez em quando, vinha até à mesa perguntar se estava tudo bem… Ou se faltava alguma coisa… Ou se estávamos a gostar… Ou se não queríamos pedir mais nada… Como diz o meu filho mais velho, um pouco intenso demais – mas sempre muitíssimo simpático.
As crianças
Não existe um menu especificamente infantil, mas há um menu de almoço com um prato do dia e uma sopa ou uma salada de frutas por €8,90. Além disso, tem sanduíches, tostas, bruschettas ou salgados (quiches, empadas, croquetes, rissóis) todos feitos no restaurante.
O bom
O cogumelo portobelo recheado
O mau
A polenta de vegetais
O óptimo
O pão e a oferta de produtos biológicos
Um bom resto de semana saudável para si onde quer que esteja,
Ele
fotos: pachamama