Antes de começarmos, uma pergunta fácil:
– Achou graça à Gaiola Dourada, não achou? À casa da Rita Blanco, com o napron de renda em cima da televisão e o galo de Barcelos no centro da mesa de jantar?
Então também vai achar graça a este novo restaurante, que abriu há umas semanas no Mercado da Vila, em Cascais. Aqui há galos de Barcelos, louças das Caldas, pratos em forma de coração, azulejos nas paredes e tudo o que poderia caber em casa do Roberto Leal. O espaço é tão kitsh que se torna engraçado. É como jantar no meio da Gaiola Dourada, entre a Rita Blanco e o Joaquim de Almeida. Além disso, a comida é boa.
O ambiente
O restaurante é uma espécie de taberna moderna portuguesa. Mas em vez de couratos tem bruschettas e em vez de copos de três tem sumos de fruta naturais. A decoração é divertida e o ambiente é castiço. No interior tem os tais azulejos, galos e espelhos rococó. No exterior tem uma simpática mini-esplanada com vista para o mercado. Se for a uma quarta ou a um sábado, dias de feira, pode comer qualquer coisa enquanto olha para as bancas de fruta, legumes e flores repletas de gente. Os clientes variam entre casais jovens ou homens em pré-cirrose hepática à procura de um copo de vinho ou de um bagaço. É uma amostra de toda a sociedade: dos pescadores da vila aos queques da Quinta da Marinha.
Nos dias em que não há mercado, há menos gente e menos variedade. E também é mais fácil reparar naquilo que está ao lado. Ao contrário do Marisco na Praça, que fica mesmo dentro da área do peixe, o Grão d’ Amor está nas arcadas à volta da zona da fruta e dos legumes. E esta área ainda está a ser renovada. Ao lado vai abrir uma chocolataria e outro restaurante dos donos do Páteo do Petisco. Mas um pouco mais à frente, mantêm-se umas lojas de palhinhas e roupas que não fazem qualquer sentido num mercado de comida.
Segundo problema: os restaurantes do mercado não têm casa-de-banho própria. É necessário partilhar as casas-de-banho comuns no espal. E esse é um tema que eu não vou aprofundar num texto sobre comida.
A ementa
Durante a semana, o Grão d’Amor está aberto de manhã até às 20h. À sexta e sábado, fecha à meia-noite. Até às 12h serve um pequeno-almoço reforçado por 6,90 euros: café, chá ou meia de leite; sumo de laranja; um cesto com pão de seis cereais e o bolo do dia; compota; manteiga e um iogurte natural com frutos silvestres e muesli.
À tarde, tem saladas, sanduíches, tostas, bruschettas e alguns petiscos. Dá jeito para vir almoçar tarde e comer uma salada depois da praia, ou para beber um copo à noite durante o fim-de-semana enquanto petisca qualquer coisa.
Nós pedimos um pratinho de queijo da ilha (€4,50) normalíssimo, que vem acompanhado com um cesto que traz pão normal e umas deliciosas tostinhas molhadas em azeite e sal. Este cesto é o que vem também com o couvert (€2,50), que inclui ainda uma pasta de azeitonas e alcaparras surpreendente.
Enquanto entretínhamos a Família Mistério com estes petiscos, as senhoras iam preparando umas saladas e bruschettas que dividimos. Primeiro veio a salada de queijo fresco (€6,40), com cogumelos grandes, tomate confitado e cebola desidratada. Estava maravilhosa. A cebola é crocante, o tomate adocicado e as tostinhas de azeite e sal que também vinham no prato davam um toque salgado.
A seguir, chegou uma salada de presunto (€8,90), com tomate cherry, nozes, maçã, queijo de cabra e mais tostinhas que também não estava nada de se deitar fora. E, finalmente, aterrou na mesa com a imponência de um Airbus da TAP a bruschetta. A de tomate (€4,20) é feita com pão saloio, pesto de manjericão e queijo limiano. É boa, mas fica atrás das saladas: o pão estava ligeiramente mole (é arriscado comer à mão) e o queijo poderia ser um pouco mais intenso.
Estive quase a pedir a bruschetta de alheira e grelos com ovos de codorniz por cima (€7,90). Mas, nesse preciso instante, o espírito da Ágata Roquette desceu sobre mim e fez-me ver que, depois de tudo o que tínhamos comido, o petisco arriscava-se a transformar-se num banquete. Foi aí que paralisei e pedi dois cafés. Da próxima vez que for à praia para aqueles lados, passo por lá. E até trago qualquer coisa para casa, porque, além de restaurante, o Grão d’ Amor é também uma mini-mercearia gourmet que vende chás, gelados, azeites, tostas, bolachas – tudo produtos portugueses.
O serviço
Simpático, mas um pouco à velocidade de uma preguiça-de-três-dedos. As bruschettas demoraram quase 20 minutos a chegar.
As crianças
O espaço do mercado é óptimo para os miúdos correrem, saltarem e queimarem energias enquanto os pais acumulam calorias. Além disso, o restaurante tem um menu infantil. Por €6,50, pode pedir a sopa do dia, um prato à escolha e uma sobremesa. Os pratos disponíveis são cocorico de peito de frango (um bifinho de frango em cima de um pão) com tomate cherry e batata saloia; tostinha mista com batata e palitos de cenoura; ou bifinho de frango com batata e tomate cherry. Para sobremesa pode optar entre um prato de fruta Romeu e Julieta (queijo com marmelada) ou um gelado de baunilha com chocolate quente.
O bom
A decoração
O mau
A demora
O óptimo
A salada de queijo fresco
Uma boa visita ao mercado para si, onde quer que esteja,
Ele