Depois das sardinhas do São João, chegou a vez dos bifes do São Sushi. Bifes de sushi?! É verdade! Quem é que alguma vez lhe garantiu que só havia sushi de peixe? O Ikeda, no Porto, está pronto e direito para lhe desmentir todas essas ideias feitas sobre a comida japonesa. E, depois das tradicionais festas dos Santos Populares, não há nada como inovar naquele que, para mim, é um dos melhores e mais surpreendentes restaurantes japoneses do país.
O ambiente
A surpresa do Ikeda não está só na comida. Até a decoração do espaço está seguramente no Top 10 do ranking de Gostos do Instagram nacional. Especialmente a sala do primeiro andar, onde uma enorme nuvem de origamis em forma de pássaro cobre o tecto criando um efeito espectacular.
Como fomos os dois jantar sem crianças, não houve lugar a poses com boquinhas à frente da passarada de papel, mas confesso que ainda vi a minha querida Mulher Mistério, de telemóvel na mão, à espera de uns segundos sozinha para se fotografar sem comentários recriminatórios da minha parte.
Infelizmente, não teve sorte. Entre a decoração bonita e a comida deliciosa, eu escolho sempre a comida deliciosa. E por isso trocámos a sala dos origamis por uma mesa ao lado do balcão, para vermos de perto os sushimen a prepararem as maravilhas que saem desta cozinha.
Os nigiris de wagyu
Se vamos falar de maravilhas, temos de falar dos tais divinais nigiris de wagyu (€12 por duas peças – eu sei que é caro, mas merece). Pedimos depois de todos os outros pratos de sushi, para acabar a refeição, em vez da calórica e dispensável sobremesa que infelizmente, nos restaurantes luso-japoneses, raramente foge do desenxabido gelado de chá verde ou da desconfiável panna cotta de matcha.
Confesso que, entre arriscar nos doces verdes ou inovar num promissor nigiri feito com a carne de uma vaca massajada regularmente e alimentada a sake e cerveja, não hesitei um segundo. Ainda por cima, os suculentos nacos de wagyu vêm cozinhados na perfeição (bem tostados por fora e mal passados por dentro) e são servidos por baixo de um imperdível escalope de foie gras e de uma deliciosa cebola caramelizada. Vai ver que não se arrepende porque o toque doce e forte da mistura do foie gras com a cebola caramelizada é óptimo para acabar a refeição.
Depois desta originalidade que é começar o texto pela sobremesa, vamos então a tudo o resto, que também não ficou nada mal. E tudo o resto é um peixe fresquíssimo e variado, apresentado da forma mais deliciosa e criativa. O único defeito: o preço que, no caso de pessoas com um estômago com a capacidade do porta-bagagens de um monovolume, como nós, pode elevar facilmente a conta de um jantar para dois para lá dos 100 euros.
O sashimi e os tártaros
O jantar começou com um fantástico sashimi servido com um divinal óleo de trufa. Chama-se New Style Sashimi (€16) e leva uma fresquíssima combinação de salmão, atum e peixe branco por baixo de sementes de sésamo e de umas ovas que lhe dão uma sensação explosiva a cada dentada. Mas o melhor é mesmo o tempero feito com o extraordinário óleo trufado que consegue ter um toque picante que combina maravilhosamente com o peixe fresco e saboroso.
Se um sashimi não alimenta muita gente, umas espetadas de vieiras não alimentam muito mais. O que vale é que, com a quantidade colossal de pratos deliciosos que há para pedir nesta ementa, tudo o que queremos são pratos pequenos e leves para podermos provar tudo.
E as espetadas de vieira merecem ser provadas e aprovadas. O que lhe trazem para a mesa são duas pequenas espetadas (€12) com umas fantásticas e levemente braseadas vieiras acompanhadas por uma ácida ameixa. Se isto já lhe parece uma combinação interessante, então espere até provar o fantástico molho de manteiga de amendoim e soja, ligeiramente adocicado, que liga tudo isto como se estivéssemos em pleno Tóquio.
A seguir, pedimos uns mini-tártaros de salmão (€10 cada) que também estavam óptimos. Com uma base de alga nori tostada – onde se nota bem o sabor a tostado –, trazem uma cama de arroz, salmão fresquíssimo picado, uma viera em cima, ovas e, para terminar, gema de ovo de codorniz. Tudo isto temperado com uma fantástica mostarda japonesa.
Os gunkans
O passo seguinte foi o dos estrondosos gunkans. Primeiro, uma mistura de gunkans que dá pelo pouco asiático nome de Freestyle Mix (€20). Vieram seis peças de três tipos diferentes de gunkans: um muito bom com lírio por fora, ceviche de robalo no centro e ovas no topo; outro óptimo com salmão por fora, caranguejo real por dentro e ovas de salmão por cima; e finalmente um terceiro absolutamente divinal com alga tostada, enguia fumada, foie gras e cebola caramelizada – a combinação da enguia fumada com o foie gras e a cebola adocicada é qualquer coisa do outro planeta. E que infelizmente abre o apetite.
Por isso, ainda tivemos de pedir (eu avisei que estas barrigas têm a capacidade de armazenamento de um monovolume) outros gunkans (€10) agora de barriga de atum com um picadinho de atum, a parte de cima da flor do wasabi, um ovo de codorniz e uns fios de pimenta. Para terminar, ainda levam cebolinho laminado.
Será desta que passamos para os cafés?
Ups… Não foi desta. Antes das tais “sobremesas” de nigiris de wagyu, ainda encontrámos um espacinho minúsculo para experimentar o Maguro Tataki (€16), umas fresquíssimas fatias de atum braseado com molho miso picante, cebolinho picado e sementes de sésamo polvilhadas por cima.
Agora, sim, podemos passar para…
…O serviço
A enorme vantagem de se sentar ao lado dos sushimen é que os pedidos chegam com uma rapidez supersónica, além de ainda poder ouvir sábios conselhos de pratos a pedir e poder acompanhar todo o apetecível processo de preparação dos ingredientes.
Isto tudo a juntar a um serviço tão simpático quanto eficaz.
As crianças
Não tem menu infantil.
O bom
O sashimi, a qualidade do peixe e a criatividade das combinações
O mau
Os preços
O óptimo
Os nigiris de wagyu com foie gras e cebola caramelizada
Um óptimo sushi para si onde quer que a vaca wagyu esteja,
Ele
fotos: ikeda; casal mistério
Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial.
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Rua do Campo Alegre, 416, Porto
3ª a Domingo, das 12h30 às 15h e das 20h às 23h
Tel: 915 499 363