Senhoras e senhores, meninas e meninos, tenho o prazer de lhes apresentar o Nicolau. Apesar de ter nome de gente e focinho de cão, é o novo e mais do que irresistível café de Lisboa. O Nicolau é a mascote do café aberto com o mesmo nome na baixa da cidade, no Verão passado, e está pomposamente exposto na sala, através de um quadro muitíssimo menos arrepiante do que o novo busto do Cristiano Ronaldo.
Mas isso interessa pouco para agora. Aquilo que me prende a este computador com a mesma intensidade com que o José Castelo Branco se agarra à carteira da Betty Grafstein é a ementa do Nicolau Lisboa. Em primeiro lugar, aqui há brunch a qualquer dia e a qualquer hora – o que me deixa no mais profundo êxtase. Depois, a lista tem tudo o que de mais saudável pode sair de uma cozinha – o que deixa a minha querida Mulher Mistério num ainda mais profundo encantamento. E, finalmente, o espaço é maravilhoso – o que deixa os nossos queridos mini-misteriosos agarrados ao telemóvel, a tirarem fotografias como se fossem os herdeiros do Foto Tó.
Mas antes que eu me perca em tantas considerações irrelevantes, o melhor é começar pela entrada.
O ambiente
O Nicolau fica na rua de São Nicolau, onde os carros não passam e o chão é todo de calçada portuguesa. Do lado de fora, há uma esplanada descontraída e directamente ligada com o interior através de enormes janelas que são escancaradas nos dias de calor. Ou seja, da esplanada, vê todo o restaurante; do restaurante, vê toda a esplanada – quase como se estivesse sentado dentro e fora ao mesmo tempo.
Depois de entrar, vai encontrar uma decoração em tons de verde água que o vão fazer sentir-se quatro quilos mais magro só de olhar. Aqui, tudo é fresco, leve e moderno: há balanças expostas na sala, há torradeiras Smeg perdidas em cima das mesas, há azulejos coloridos no chão e até há gira-discos que o vão fazer sentir-se a dançar um slow, numa garagem, ao som dos Bee Gees. Entrar no Nicolau é quase como entrar num café de Greenwich Village. Até os pratos estão pintados com cores que o fazem sorrir.
A ementa
Não espere couverts, arroz maladrinho ou espumas de batata doce. O Nicolau é um café-restaurante. Abre às 9h da manhã e fecha às 20h. Não serve jantares nem almoços dignos desse nome. Da primeira vez que lá fomos, para um almoço rápido e saudável, a dois, durante um dia de semana, entraram dois pomposos executivos, de fato e gravata, pouco depois de nós. Pediram a ementa, olharam, viram a segunda página, voltaram à primeira, procuraram, reviraram, até que perguntaram:
– Mas comida à séria, não têm?
Sem querer entrar em discussões estéreis sobre a noção de seriedade da comida, a simpática empregada explicou educadamente que tinham um prato do dia e depois o que estava na lista: saladas, ovos, wraps, tapiocas, panquecas, húmus, iogurtes e outras coisas leves e saudáveis. Os executivos olharam novamente para a ementa, com uma cara algures entre a desilusão e a repulsa e levantaram-se:
– Se calhar, vamos a outro sítio.
Aquilo que para alguns é comida de pássaros, para a minha querida e prezada Mulher Mistério é o passaporte para a dieta. Eu não estou num grupo nem no outro: acho simplesmente que a comida é deliciosa. E muitíssimo fresca. E bem cozinhada, o que para mim é mais do que suficiente.
Para almoçar, eu pedi uma fantástica salada de quinoa com salmão fumado, espinafres baby, abacate, papaia, avelãs e sementes de abóbora crocantes (€8,50).
Em primeiro lugar, a quantidade: se é daqueles que fica com fome depois de dois pratos de feijoada, então este almoço não é para si. Caso contrário, a mistura do abacate com a quinoa vai deixá-lo bem saciado durante duas ou três horas, que é aquilo de que eu preciso.
Agora, a qualidade: tirando o salmão fumado, que não faz muito o meu género (acho que a salada ficaria bastante melhor com salmão fresco braseado), estava tudo simplesmente perfeito. A quinoa estava solta, tenrinha e suculenta, os espinafres estavam saborosos e crocantes, o abacate estava macio e a papaia muitíssimo doce. Depois ainda levava o toque final das sementes de abóbora que quase estalavam ao trincar.
A minha querida Mulher Mistério preferiu uns ovos Nicolau (€5) que só pecavam pelo exagero do plural. Na verdade, trata-se de um ovo escalfado (no singular) por cima de uma pasta de abacate e de uma fatia de pão escuro com sementes, que me pareceu ser feita com farinha de alfarroba. O ovo estava no ponto, com a clara consistente e a gema bem líquida, o abacate cremoso e por cima ainda trazia um flocos de chilli que lhe davam um sabor acentuado. Ao lado, vinham uns tomatinhos cherry cortados ao meio e um fantástico húmus de beterraba. Tudo sabores e texturas que ligam na perfeição.
A sobremesa
Para acabar – e porque a minha querida Mulher Mistério ficou desolada com o ovo solitário – ainda pedimos um fantástico bolo de chocolate com chantilly e uns morangos saborosos ao lado (€2,50). O bolo conseguia ser húmido, macio e não demasiado doce e os morangos ligavam lindamente.
O brunch
É claro que uma descoberta destas não podia ficar limitada aos dois anciões da Família Mistério – especialmente quando a nossa filha adolescente decidiu recentemente passar a comer pasta de abacate com azeite e flor de sal a todas as refeições do dia. E foi por isso que voltámos ao Nicolau, num sábado, para experimentar um brunch em modo família numerosa.
Chegámos às 12h40, em jejum, para encontrar uma simpática empregada a guardar a porta como se se tratasse de um templo budista. Na mão, tinha uma assustadora lista com quase dez nomes à nossa frente. Como infelizmente o Nicolau não aceita reservas para o brunch, ao fim-de-semana, o cenário costuma ser este. Por isso, o melhor é fazer como nós: vá cedo, deixe o seu nome à porta e depois vá dar uma volta pelo Chiado. E, por favor, não cometa o erro de ir em jejum porque a espera costuma variar entre 40 minutos e uma hora.
A nós disseram-nos para voltarmos 40 minutos depois. E, quando chegámos, já só esperámos mais cinco minutos. É muito tempo de espera? É. Mas vale a pena? Seguramente – e, ainda por cima, um passeio pelo Chiado, ao fim da manhã, é sempre bem-vindo.
O brunch custa €13 e inclui uma panqueca macia, grande e saborosa, uma taça de iogurte grego com fruta fresca, granola caseira feita todas as manhãs na cozinha do Nicolau e um fio de mel por cima, sumo de laranja natural, uma tosta de pasta de abacate com umas sementes e uns flocos de chilli por cima ou, em alternativa, uma tosta de queijo e salmão fumado, e um café americano ou um chá.
Se isto não for suficiente, ainda pode pedir uns ovos mexidos (por mais €3), uns ovos benedict (por mais €5) ou – melhor ainda – um mimosa (por mais €3). É claro que, para mim, nunca é suficiente, em especial quando tenho à frente um dos mais espectaculares e adequados cocktails para começar o dia. E foi por isso que pedi esta deliciosa combinação de espumante e sumo de laranja. O mimosa estava leve, fresco e não demasiado doce, o que me soube lindamente.
Atendendo à abstinência provocada pela idade (pelo menos quando o pai está ao lado), as crianças trocaram o álcool pelos ovos. Pediram uns ovos mexidos com cogumelos e parmesão, que estavam um bocadinho bem passados demais para o meu gosto, e uns ovos benedict, aqui, sim, merecedores do plural: vêm dois ovos, por cima de uma tosta e de uma fatia de fiambre magro, com um molho cremoso e cebolinho picado no topo. Os ovos estavam bem quentes e feitos exactamente no ponto.
Para acabar, não consegui resistir a provar a tapioca. Dividido entre a tapioca com Nutella e morangos (€4) e a tapioca com doce de leite e banana (€4), acabei por optar pela tapioca com queijo e fiambre (€3,50) que a minha querida Mulher Mistério é muito pouco permissiva a loucuras calóricas dessas. Ao contrário daquela que provei no Beiju, o novo restaurante da actriz Rita Pereira, esta tapioca vinha fininha e crocante, com uma consistência agradável e sem qualquer toque farinhento. Só foi pena o recheio: se não vivesse agrilhoado numa tirania dietética, não teria hesitado em pedir a de doce de leite e banana.
O serviço
É extraordinário como é que, num sítio em que tem de esperar mais de 40 minutos por uma mesa, o serviço pode ser exemplar. Desde a chegada, e o pedido desculpa pela demora, até à previsão certeira do tempo que a mesa ia demorar a ficar livre, passando pela disponibilidade para que uma pessoa vá dar uma volta enquanto aguarda pela mesa (o que não aconteceu, por exemplo, no Bairro do Avillez), tudo aqui correu maravilhosamente.
Da primeira vez que lá fomos almoçar, a um dia de semana, a empregada que nos atendeu foi de uma simpatia contagiante. Sugeriu pratos, explicou ingredientes, quase vibrou com tudo aquilo que dizia sobre o Nicolau. No dia do brunch, não houve tempo para grandes conversas, mas, com o restaurante cheio, acho que nunca esperámos mais de cinco minutos por qualquer pedido. E isso é tudo aquilo que se pode pedir de um serviço.
As crianças
Não tem menu infantil, mas as crianças vão adorar quase tudo o que está aqui.
O bom
O serviço simpático, rápido e eficiente.
O mau
Não aceitam reservas para o brunch – pode ter de esperar cerca de uma hora.
O óptimo
A comida saudável e deliciosa, como a salada de quinoa, a tosta com ovo e abacate ou o iogurte com fruta e granola caseira.
Um óptimo brunch para si onde quer que a comida saudável esteja,
Ele
fotos: nicolau; casal mistério
Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial.
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Nicolau Lisboa
Rua de São Nicolau, 17 Lisboa
De segunda a sábado, das 9h às 20h; domingo das 10h às 19h
T: 218 860 312