o novo izakaya não é bem um restaurante, é um bar japonês onde se come lindamente

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    Tem um único balcão com 17 lugares, vários neons espalhados pela sala e uma casa-de-banho com as paredes cobertas de graffitti. E não espere aqueles graffitti estilosos candidatos a ganhar um lugar de destaque no MAAT, são mesmo paredes de azulejo com palavras escritas a caneta de tinta permanente.

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    O ambiente 

    O novo Izakaya, acabado de abrir em Cascais, não é um restaurante para meninos. Na verdade, nem sequer é bem um restaurante, é mais um bar com a música muitíssimo alta, empregados a dançar, clientes sentadas no parapeito da janela e onde se come óptima comida japonesa. Agora não venha para aqui à espera de um serviço tranquilo e um ambiente calmo. Quando eu digo que a música é muitíssimo alta, é porque até a minha querida Mulher Mistério, com a sua audição de 98 anos, se queixou do barulho…

    O Izakaya é perfeito para quem quer ir comer um petisco a dois ou então para quem não faz questão de ouvir o que o resto das pessoas tem para lhe dizer, o que, confesso, cada vez me acontece mais. Agora, se gosta de comida japonesa que não encontra no SushiCome da esquina, não deixe de experimentar o Izakaya.

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    As bebidas 

    Tem duas opções: um menu de degustação por €65 por pessoa (sem bebidas) ou escolha à carta. Como gosto de escolher e preciso de tomar notas, optei pela carta. Enquanto escolhíamos, pedimos um cocktail para começar: a Kimchi Margarita para Ela (feito com tequila de pimento jalapeño, sumo de kimchi, sal e pimenta sancho) e o Tokyo Mule para mim (com gengibre e sake).

    Feitos à sua frente, são bem equilibrados, pouco doces e ligeiramente picantes, o que lhes dá um toque verdadeiramente surpreendente. No entanto, desisti rapidamente de acompanhar todo o jantar a cocktails porque se o Tokyo Mule custa €12, a margarita chega aos €15 e, como se sabe, a minha querida Mulher Mistério não é menina para beber apenas um copo por refeição. Nem dois… Acabámos por mudar depois para o vinho que também não é propriamente barato. Nem a comida…

     

    Os petiscos 

    Tratadas as primeiras bebidas, passámos para os petiscos. E aqui fomos num crescendo como se estivéssemos a subir de teleférico em direcção ao cume do Everest. Começámos com umas asas de frango (€9) desossadas estaladiças e tenrinhas que não estavam más, mas o melhor foi mesmo a maionese de alho fumado que veio a acompanhar. Cremosa e com um irresistível sabor fumado, liga na perfeição com as asas de frango estaladiças.

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    A subida continuou com o edamame (€5,50). Aqueles feijões de soja habituais em todos os restaurantes japoneses são absolutamente surpreendentes no Izakaya. Tudo porque o edamame aqui é grelhado na robata, uma tradicional e pequena grelha japonesa com carvão que dá aos feijões um divinal sabor a churrasco. Cozinhado no ponto, o edamame é ainda temperado com flor de sal e sementes de sésamo. Tudo combina harmoniosamente elevando esta à galáctica das entradas japonesas.

    A seguir chegou mais uma surpresa, o escabeche de sardinha, aqui chamado “nanbanzuk” (€9). Naban significa estrangeiro e “dzuke” marinado. A receita vem do século XVII quando o Japão teve o mais forte período comercial com Portugal e Espanha. Terá sido dessa relação que nasceu esta receita, claramente inspirada no escabeche português e espanhol. Em vez de vir frio, o escabeche japonês é servido morno. Traz um suculento lombo de sardinha frita, sem ponta de espinhas, acompanhado com um molho equilibradamente avinagrado e alguns legumes laminados. O resultado é delicioso.

    O nível manteve-se com umas ostras grandes e suculentas (€12 por duas ostras), do rio Sado temperadas com molho de ponzo, ovas de salmão e vinagrete apimentado com limão. São boas, mas quem me tira as minhas ostras cruas, com apenas umas gotas de limão, a transbordarem de sabor a mar, tira-me o ventrículo esquerdo.

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    Mais um prato, mais um degrau subido no nível de qualidade. Chama-se kakuni (€16) e é uma barriga de porco lentamente cozida durante oito horas num delicioso molho à base de soja até ficar a desfazer-se na boca em pequenos e saborosos fios de carne que não resistem ao contacto com a língua. Dentro do caldo onde está mergulhada a barriga de porco encontra ainda um ovo cozinhado a baixa temperatura, até atingir aquela consistência única de clara-gelatina e gema-creme, e uns fios de alho francês. A acompanhar, trazem-lhe ainda uma taça com arroz japonês e outra com picles. Quando acabar a carne, mergulhe o resto do arroz no fim do caldo e delicie-se.

    Para compor este prato, pedimos ainda à parte uns legumes grelhados com molho de sésamo (€14). Bem crocantes e saborosos, o que veio para a mesa foi uma combinação agradável onde se destacaram as mini-maçarocas. Não estava nada mal, mas o preço pareceu-me como a notícia da morte antecipada do Mark Twain: “manifestamente exagerado”.

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    Antes da carne, já tinha pedido aquele que, para mim, foi o melhor prato da noite. Mas como estamos a ir num crescendo, deixo essa pequena maravilha para o fim. Antes vou falar da sanduíche de cachaço de porco preto (€16). A carne desfaz-se na boca tal como a barriga de porco, mas tem a enorme vantagem de ser panada com uma delicada camada de panko, aquele finíssimo pão ralado japonês que, depois de frito, fica estupidamente estaladiço.

    O cachaço vem dentro de uma sanduiche de brioche, também japonês e feito no restaurante, que chegou levemente aquecido e que se desfaz à mínima dentada. Para compor a sanduíche, tem ainda uma boa couve chinesa e a tradicional maionese japonesa que quase toda a gente adora, mas que eu sempre achei enjoativa demais. Para cortar esta tentação, vem à parte uma mostarda incrivelmente picante que lhe sobe ao nariz como uma zaragatoa do teste de Covid mas que é fundamental para equilibrar os sabores.

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    A qualidade deu um salto em altura de nível olímpico com o prato seguinte: umas gyozas de rabo de boi (€10) com uma massa fininha e levemente crocante e com um recheio que é de me deixar com falta de ar. O rabo de boi é cozinhado lentamente durante oito horas até ficar quase desfeito, depois é misturado com uma couve kimchi que lhe dá um sabor único e só então é enrolado pela gyoza que é cozida ao vapor e depois finalizada na frigideira para ficar crocante.

    Se isto não bastasse, é melhor dizer-lhe que o molho em cima do qual as gyozas são servidas é um imbatível molho criado com os sucos da carne. Para terminar, ainda vêm uns finíssimos fios de alho francês. Tudo isto é tão rico e saboroso que dificilmente voltarei a comer umas gyozas sem me lembrar desta maravilha.

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    E eis que chegámos ao pináculo da criação, ao arquétipo da perfeição, como diz o Miguel Araújo. A yaki ika (€19), que se pode honrosamente traduzir pela melhor lula que já comi na vida – e olhe que já comi as fenomenais lulas gigantes grelhadas da costa algarvia. A lula do Izakaya não é tão grande como essas, mas estava incrivelmente fresca, saborosa e tenrinha. Grelhada na robata, por cima de binchotan (aquele que é considerado por muitos chefs o melhor carvão do mundo), conseguia manter um inacreditável sabor a mar que combinava maravilhosamente com o fenomenal molho de manteiga feito com miso, vinagre vermelho e lima. A harmonização de todos estes sabores é uma surpresa única. Quase vale a pena ir ao Izakaya só para provar esta maravilha.

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    As sobremesas 
    Tal como quase todos os outros restaurantes japoneses em que já estive, as sobremesas estão longe de ser o melhor do Izakaya. Eu ainda tentei pedir mais umas gyozas ou outra lula como sobremesa, mas a minha querida Mulher Mistério não cedeu.

    Optou por um 3 leches (€6) que é um bolo molhadinho preparado à base de leite, com um creme de leite no fundo, um merengue por cima e ainda um suspiro. É interessante a mistura de texturas, mas estava excessivamente doce.

    Para cortar, Ela pediu o kaki morango (€6), uma sobremesa tradicional no Japão que é pouco mais do que um granizado de morango.

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    O serviço 

    Simpático, eficaz, rápido e, acima de tudo, feliz. É difícil encontrar empregados que dançam, cantam e não páram de sorrir enquanto trabalham. E, acima de tudo, que tabalham mesmo. Além de terem sugerido uma série de pratos, avisaram quando acharam que a comida era demais e serviram-nos a uma velocidade estonteante. E numa ordem que fazia sentido: edamame primeiro, ostras e peixe depois e a carne no final.

    Mais: apesar de termos sido os últimos a sair do restaurante, nunca olharam de lado para nós. 

     

    O bom 

    A decoração surpreendente do espaço

    O mau 

    A música alta de mais e o granizado de morango

    O óptimo 

    As gyozas de rabo de boi e a lula grelhada com manteiga de miso

     

    Dokoni ite mo anata no tame no subarashī dinā,

    Ele

     

    fotos: izakaya e casal mistério

     

    Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial. 
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    Izakaya

    Rua do Poço Novo, 180, Cascais

    De 3ª a domingo, das 12h30 às 15h30 e das 19h às 2h

    T: 214 045 106

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