Todos os anos, no Verão, eu faço o meu sacrifício anual. Há quem vá a pé a Santiago de Compostela, há quem corra uma maratona, há quem convide a sogra para jantar – eu vou ao Ideal em Cabanas de Tavira. Canso-me menos do que a correr a maratona, mas desgasto-me mais.
O serviço
Aqui estamos no Algarve dos anos 80. As esplanadas são tapadas, as cadeiras são desconfortáveis e os empregados discutem entre si como se estivessem em casa, a ver o Sporting-Benfica na televisão. Gritam, ofendem-se, gesticulam. E se algum cliente ousar fazer um pedido que não lhes agrade, o melhor é esperar pelo pior.
Então o que é que me pode levar até aqui – além, claro, do enorme espírito de sacrifício que me caracteriza? A deliciosa sopa do mar, servida dentro de um típico pão algarvio (€8,50).
A táctica é sempre a mesma: quando chego, vou cumprimentar a dona do restaurante como se nos conhecêssemos há anos. A senhora fica meio baralhada, mas não tem coragem de perguntar “Eu conheço-o de algum lado?”. A única alternativa é sorrir de volta perante o meu cumprimento de velho amigo. E se conseguir o sorriso, metade da minha missão está cumprida. Falta apenas a outra metade. O marido. Que caminha furiosamente por entre as mesas, repreendendo os empregados e alguns clientes. A senhora explicou que este ano ele está mais stressado do que é costume, mas eu desconfio que o senhor ande, há anos, a bater consecutivamente o seu record pessoal.
A ementa
Se conseguir sobreviver a isto (e aos empregados que se empenham especialmente em tentar copiar os patrões), ganhou o seu jantar. E esse jantar resume-se a um prato. Divinal. Único. Irrepetível. Surpreendente.
Trata-se de uma sopa do mar servida dentro de um pão tradicional do Algarve. O pão é cortado por cima e uma boa parte do miolo é retirada de dentro para se conseguir colocar uma fantástica sopa de peixe e marisco. E não estamos evidentemente a falar daquelas habituais sopas de peixe feitas com os restos dos pratos da véspera desfiados dentro de um caldo a saber a Knorr. Nada disso. Aqui o líquido é uma deliciosa calda de tomate com os sabores e os aromas bem equilibrados e discretos. Depois leva uns fantásticos cubos de peixe fresco e suculento misturados com gambas grandes, amêijoas saborosas e conquilhas quando é a altura delas (nós tivemos azar, porque fomos em época de defeso). Para acabar, é colocado um raminho de hortelã que lhe dá um toque especial.
Esta fantástica sopa – que tem de ser encomendada de véspera pelo telefone 281370232, senão não há – é servida como uma entrada. Mas como eu começo por saborear o líquido e depois rapo os restos de miolo que estão junto à côdea, ainda embebidos na sopa, como se fossem uma açorda, peço-a como prato principal. Também porque não sou grande fã dos palitos de atum fritos e grandes demais nem do polvo de tomatada que tem um molho muito forte para o meu gosto.
Por isso, opto por pedir as óptimas amêijoas à Bulhão Pato (€11,50) de entrada – grandes, saborosas e com um molho mesmo no ponto – e só depois a sopa do mar. Se houver conquilhas, também vale a pena pedir. E os jaquinzinhos ou as petingas fritas com arroz de tomate malandrinho são uma perdição.
A sobremesa
Ir ao Algarve e não comer uma tarte mista (€2,80) é como ir ao Estádio da Luz e não ver a Águia Vitória (atenção: a pobre águia não tem qualquer relação familiar com o Rui Vitória). E o que é essa maravilha? É uma tarte que junta os três frutos típicos do Algarve: amêndoa, figo e alfarroba, que por acaso são também os meus preferidos. Há quem não se canse de elogiar o doce de vinagre, mas eu acho-o apenas um doce de ovos doce demais.
O ambiente
É o ambiente de um restaurante típico, com um espaço interior e uma esplanada coberta. Fica numa rua estreita e não tem vista. O único argumento para vir aqui é mesmo a divinal sopa do mar.
O bom
A tarte de figo, alfarroba e amêndoa
O mau
O serviço e o espaço
O óptimo
A sopa do mar dentro do pão algarvio
Umas boas férias para si onde quer que esteja,
Ele
fotos: casal mistério; google
Para saborear uma sopa destas, aguenta-se o mau feitio de quem a serve.
Que aspecto!
Ui…ainda ha uns 2 meses estive la…adoro essa sopinha e as pataniscas
Mau serviço no “Ideal”? Discussão entre empregados? Há cerca de 10 anos que é um dos restaurantes a que vou sempre que estou pelo Algarve e nunca vi nem mau serviço, nem empregados a discutirem (até porque não são muitos resumindo-se a 4 se incluirmos o casal dono do restaurante). A comida é muito boa e sempre foram extremamente simpáticos e eficientes mesmo nos dias mais complicados com mais clientes.
Infelizmente concordo com a parte do serviço. O Sr. Manuel este ano estava de fugir. Vale a sopa e a simpatia da dona. O doce de vinagre e as farófias são divinais. Um restaurante a experimentar, mas com paciência…
Sem duvida o melhor restaurante! A minha eleição quando estou de férias no Algarve!
E muitos outros pratos (premiados ou não!) ficaram por falar…
Mas discordo totalmente do que disse do atendimento! Mal encarados? Conheço o restaurante há mais de 35 anos e não o revejo no mau serviço que tanto refere.
Deixo aqui o meu testemunho e um cumprimento especial à família que o gere, cada um com a sua personalidade muito própria. Conseguem ao fim destes anos manter um restaurante de excelente e reconhecida qualidade, que faz com que as várias gerações regressem.
Não acho mesmo que tenha mau serviço! Claro está que em Agosto e com todo o turista armado em carapau de corrida a querer ser servido rápido para poder voltar para a praia ou piscina nem todos podem ser servidos com a calma e simpatia que querem! Experimente ir fora da época alta e vai ter uma surpresa agradável. É o meu restaurante de eleição nunca fui mal atendida…
Concordo com o Alexandre Abreu, nunca lá vi esse tipo de mau ambiente, pelo contrário, sendo que no meu caso é restaurante que frequento há vinte e tal anos. Desde miúda passei férias em cabanas e sempre se comeu muito bem no Ideal. Recomendo muito os pastéis de polvo e as farófias também!
Mau feitio também não conheço no Ideal, mas também nunca lá estive no pico da loucura de 15 de Julho a 15 de Agosto…
Quanto à comida, acrescento os filetes de polvo e de pescada. E as farófias, que são muito boas.
Finalmente, que se mantenha nos anos 80 e com a esplanada tapada durante muitos e muitos bons anos. Estou tão farta da homogeneidade dos restaurantes modernos e lindinhos… e todos iguais.
A partir de hoje tenho um problema para resolver! Passo a explicar. Provávelmente há em Cabanas de Tavira mais do que um restaurante com o nome de “Ideal”, pois se falarmos do Restaurante Ideal, da D.Graça, D.Lurdes, Sr. Fernando e Sr. Manuel, que frequento desde 1980, só pode haver uma frase: recomenda-se!………vivamente, tanto pela qualidade como pela amizade. Lembro que há muito mais para além da sopa do mar! Com o devido respeito, não compreendo alguns comentários menos positivos, profundamente injustos!
Há 15 anos que lá vou todos os Verões e com bastante frequência, o único com mau feitio é o patrão. Sobre o espaço é verdade mas tudo compensado pela maravilhosa sopa do mar e os pasteis de polvo ou jaquinzinhos com arroz de tomate!
Adoro como prato principal os filetes de linguado fritos com amêndoa. Já não vou há uns 5 anos mas lembro-me de ficar deliciado com o linguado… Mas sim, a sopa é de outro mundo!
Mau serviço no Ideal???Empregados antipáticos???
Vou a este restaurante há mais de 30 anos e discordo por completo.. um dos meus restaurantes preferidos…
Mas se calhar é melhor não irem…Anda muito cheio e acaba tudo …
Querido Casal Mistério,
Já fiz 2 incursões a este restaurante e nenhuma correu bem. A primeira, estava eu grávida de 35 semanas, em pleno mês de Julho, sem conseguir que me atendessem o telefone decidimos lá ir cedinho para jantar, passava pouco das 19h e a casa já estava cheia, mesmo sendo apenas 2 a única solução que nos deram foi fazer uma reserva para dali a 15 dias para o almoço.. A segunda tentativa foi este ano, novamente mês de Julho, desta vez com uma bebe de 11 meses e com reserva feita para almoço, a casa estava cheia mas a nossa mesa estava lá à espera com espaço para a cadeirinha. Até aqui tudo bem, nem mesmo a falta de empatia dos funcionários iria atrapalhar a refeição… Pelo menos era o que achava-mos até pedirmos 2 sopas do Mar e nos perguntarem se tínhamos reserva (?!), algo que até ali ninguém nos tinha dito. Conclusão, não havia sopa do mar para quem não reservou a dita, nos pegamos na bebe e viemos embora! Um cliente quando vai pela primeira vez a um restaurante não tem de saber todas as regras da casa, e nos claramente não sabíamos, embora tenha feito a reserva de mesa pelo telefone nada nos foi indicado quanto à refeição. A sopa pode ser a oitava maravilha do mundo, mas nunca mais irei a este restaurante!
Os pasteis de polvo também são bons!!! O problema realmente é o serviço! E quando estive lá tive de marcar com cerca de 4 dias de antcedência.