Olha para a frente e o que é que vê? Mar. Olha para a direita e o que é que vê? Mar. Olha para a esquerda e o que é que vê? Mar. Olha para trás e o que é que vê? Mar? Nãaa, vê uma melga a morder-lhe o pescoço. É por isso que este restaurante não é perfeito – por causa das centenas de milhares de melgas que tratam o seu pescoço como o urso Pooh trata um pote de mel. E, já agora, também por causa da conta. Todos nós sabemos que a Comporta é o destino de férias de Charlotte do Mónaco e que aqui encontramos mais membros da família Espírito Santo do que na sede do próprio banco (espere lá, agora se calhar não…). Mas não há necessidade de cobrar por uma refeição o mesmo que Ricardo Salgado dava de gorjeta ao seu caddy depois de um jogo de golfe. É que, mesmo com o repelente que os empregados simpaticamente dispensam aos clientes, é dinheiro a mais para um não-banqueiro dispender numa refeição. Mas, tirando isso, e sentando uma família numerosa à mesa, e dividindo um pregado frito e um arroz de lingueirão, e… bom, o melhor é analisarmos ponto por ponto.
Primeiro, as entradas. O queijo fresco tem a consistência de um queijo fresco alentejano à antiga. Parece que o leite foi acabado de ordenhar e coalhado com cardo na cozinha da senhora da quinta ao lado. É claro que, desde que José Sócrates inventou a ASAE, nada disto é possível. Mas o queijo fresco é óptimo. E, apesar do certificado sanitário, sabe quase a queijo caseiro.
Depois, as saladas. A de bacalhau com grão é altamente recomendável e um óptimo petisco para abrir as hostilidades enquanto espera pelo peixe. Está bem temperada e é suave.
A seguir, os petiscos. Não se perca com muita coisa. Experimente apenas o óptimo queijo de cabra gratinado com doce de tomate. O queijo não é demasiado enjoativo e o doce de tomate não é demasiado doce – o equilíbrio perfeito.
Finalmente, os pratos principais. O peixe é óptimo e os arrozes são deliciosos. Dois conselhos: pregado frito e arroz de lingueirão. O pregado é um peixe fantástico que, muitas vezes, passa despercebido e quase cai no esquecimento. Aqui encontra sempre pregados frescos. A um preço estilo Comporta. Mas, como o arroz é enorme, alimenta facilmente seis bocas vorazes só com estas duas doses. E não dispense o arroz de lingueirão por nada deste mundo. Primeiro, porque a Comporta é a terra do arroz: basta olhar à volta e ver os enormes arrozais a perder de vista mesmo em cima da praia. Depois porque o lingueirão é um dos mais maravilhosos mariscos do planeta. E, tal como o pregado, muitas vezes passa despercebido e facilmente cai no esquecimento. Se, no fim disto tudo, ainda tiver espaço para uma sobremesa, experimente um crepe. Ou então diga que está de dieta e peça mais uma caipirinha. Com adoçante, claro.
O ambiente
Este é um dos últimos fins-de-semana pré-Verão para vir até à Comporta. A partir daqui, a taxa de ocupação vai subir com tanta velocidade como a taxa de IMI subiu com a troika. E o Comporta Café vai tornar-se num local impossível para visitar ao fim-de-semana (em Agosto, só no final do mês e durante a semana). Nós estivemos lá na semana passada e aproveitámos um restaurante quase vazio e um pôr-do-sol deslumbrante. O ideal é ir ao fim do dia e sentar-se junto à janela (a esplanada é de evitar a essa hora por causa das melgas) com uma caipirinha numa mão e uma salada de grão na outra, enquanto espera pelo jantar.
Se for antes de o sol se começar a pôr, aproveite os confortáveis pufes coloridos ou as deliciosas redes na esplanada enquanto ouve música chill out. Mas no Verão tudo isto é impossível. Há dezenas de pessoas à espera de um lugar na esplanada e muita confusão na sua órbita. Nos meses de Julho e Agosto, o restaurante transforma-se mesmo em discoteca ao fim da noite. Por isso, tranquilidade não é aqui.
Este é um ponto que está directamente ligado ao anterior. Quando o restaurante está cheio, o serviço torna-se mais empenado, os empregados falham e os pratos atrasam. Na época do ano em que estamos, ainda é o sonho: simpatia, atenção e rapidez. Por isso, aproveite os últimos dias de tranquilidade.
O bom
O pregado e o arroz de lingueirão
O mau
O preço
O óptimo
A vista
Um bom pôr-do-sol para si, onde quer que esteja,
Ele
Hummmm!
E há época melhor que esta para usufruir de um local tão belo e de uma refeição, pelo que li, deliciosa.
Boas memórias. Também já lá comi um arroz de coentros original e delicioso… sim, era mesmo só um arroz malandrinho com coentros, no ponto de cozedura e de sabor. Perfeito.
Qual é o preço médio por pessoa? Acham que vale a pena?