Tem boxes para prender os cavalos, tem manjedouras para colocar o feno, até tem a antiga cuba onde se deitava a água para matar a sede dos animais. Só não tem mesmo é bichos. Em vez deles, agora estão lá mesas de jantar e uma das mais criativas cozinhas que provámos na zona da Comporta.
A Cavalariça é um antigo estábulo onde os habitantes da Comporta paravam os cavalos até aos anos 60 e 70. Hoje foi transformado num fantástico restaurante com uma comida criativa e surpreendente e com um ambiente único. Aviso importante: este fim-de-semana é a última oportunidade de lá ir em 2018. Depois fecha para férias e só volta para o ano.
O ambiente
Antes de qualquer outra coisa, vale a pena falar do espaço. Ao entrar na Cavalariça, a primeira coisa que vê é a gigante manjedoura de ferro que atravessa o espaço de uma ponta à outra. Onde antigamente estava a palha para os cavalos se alimentarem, agora foram colocadas plantas, garrafas e até o espelho rústico por cima do lavatório.
Num dos topos da sala, está um balcão de madeira tosca onde fica o bar e onde está a tal cuba da qual os cavalos bebiam água. As mesas de jantar estão dentro das antigas boxes, com as velhas argolas de ferro que prendiam os animais. E o chão ainda é o original, com os enormes ralos de escoamento das águas. O tecto é feito com velhas ripas de madeira e os candeeiros são canos pintados e reaproveitados.
Todos os detalhes aqui são rústicos e muitíssimo bem enquadrados num antigo estábulo. Mas com uma boa notícia: não vai comer palha.
A ementa
Quase todos os produtos usados para cozinhar são da região. Vai encontrar ostras do Sado, carne de Grândola, salicórnia apanhada na zona ou peixe pescado nas praias das redondezas. E tudo tem um toque surpreendente e caseiro – por exemplo, em vez de ser simplesmente grelhado, o pargo é servido com um óptimo escabeche de mexilhão.
Ficou tentado? Então deixe-me abrir-lhe ainda mais o apetite: o pão do couvert (€4,50) é amassado e cozido no próprio restaurante. Resultado: veio para a mesa com um miolo tão leve como algodão e com uma côdea tão estaladiça como uma torrada acabada de tostar.
A acompanhar, serviram um inacreditável requeijão de Alcácer do Sal que ainda hoje me faz sonhar com aquela textura cremosa tipo mousse de Nutella e com o delicado e discreto sabor a queijo. É um dos mais deliciosos requeijões que já experimentei. Veio também uma manteiga que não era má e uma massa de pimentão caseira de que gostei menos.
As entradas
Para abrir as festas, pedimos seis ostras do Sado (€14) que estavam frescas mas que vinham com um molho mignonette por cima (chalotas picadas, vinagre e pimenta). E porque é que está aí um “mas” perdido a meio da frase anterior? Não é que o molho estivesse mau, é que as ostras são para mim o marisco que melhor absorve o sabor a mar. E quando são comidas ao natural, sem nada por cima, tornam-se o melhor exemplo de frescura, sabor e simplicidade. Por isso, qualquer molho que venha por cima merece sempre um “mas”. Especialmente se for intenso e abafar o sabor natural das ostras.
Ultrapassada esta semi-desilusão, chegou uma das melhores maravilhas da noite: um fantástico patê de fígados de aves servido com umas levíssimas torradas de pão brioche caseiro, feito ali mesmo na cozinha (€7,50). O paté estava cremoso e muitíssimo saboroso e o brioche estava divinal. Mas o melhor de tudo foi o inacreditável crumble de pele de galinha tostada que foi espalhado por cima do paté e que lhe dava um sabor e uma textura únicas. Não vale a pena explicar a maravilha que é trincar um paté macio com uns pedacinhos estaladiços de pele de frango por cima, pois não?
A seguir, vieram uns deliciosos gnocchi (€12,50) feitos com um levíssimo e saboroso requeijão de Alcácer (sim, o tal do gostinho especial!) em vez da tradicional e pesada batata. Os gnocchi não levam batata nenhuma, o que os torna muito menos pesados e muito mais light. Vêm servidos por cima de um puré de milho (também leve e saboroso) e misturados com milho doce e pimentos jalapeños ligeiramente picantes. A combinação do doce com o toque picante é fantástica.
As entradas acabaram com um bom, mas menos surpreendente crudo de dourada (€13). Os lombinhos da dourada foram apenas braseados e servidos por cima de uma suave emulsão de coentros. A acompanhar vinha a tal inigualável salicórnia (trata-se de uma planta parecida com espargos fininhos que cresce nas rias, junto à água salgada, e que adquire um sabor tão bom a mar que chega a ser usada para substituir o sal), tomilho-do-mar e outras delícias apanhadas na região. Por cima, vinham umas rodelas laminadas de ameixa.
O prato principal
Depois de todas estas entradas, só consegui convencer a minha renovada e dietética Mulher Mistério a pedir um único prato principal. Mas estava tão bom que chegou: foram uns suculentos e fresquíssimos lombos de pargo (€15) servidos por cima de um surpreendente molho escabeche feito à base de mexilhão e acompanhado por uns pedaços de nabo (de que eu não sou grande fã, mas que não estavam maus). Por cima, vinham umas folhas de nabo tostadas e estaladiças.
As sobremesas
Cada vez mais a minha querida e dilecta esposa está transformada numa chocoólica anónima (e misteriosa também). Onde quer que Ela veja chocolate, vê também um garfo à frente. Aqui pediu uns bons torrões de chocolate servidos por cima de um fantástico creme de avelã, com uma bola de gelado a acompanhar (€9).
Mas o mais surpreendente foi a bola de gelado de pinha (€3). Exactamente, pinha de pinheiro. Não tenha medo porque vai conhecer um sabor suave e completamente inesperado, com um agradável toque de resina. Vale mesmo a pena.
O serviço
Cada prato que era trazido para a mesa, tinha direito a uma aprofundada explicação e a uma sugestão de vinhos para acompanhar. E isso teve uma vantagem e um problema. A vantagem foi ficar a conhecer, de forma muito simpática e ainda mais atenciosa, cada detalhe da preparação de todos os pratos que provámos. O problema foi ter-me levado a optar por uma extravagante prova de vinhos a copo que atirou a parte vitivinícola da conta para uns assustadores 48 euros. E nem nos atrevemos a ir para uma degustação de cocktails.
As crianças
Não tem menu infantil e não espere encontrar entre as opções um hambúrguer no pão ou uma massa à bolonhesa. Na Cavalariça, tudo é inesperado – a começar pelo espaço e a acabar na comida.
O bom
O pão, o pargo, os gnocchi, o requeijão e quase toda a comida que prova
O mau
O preço, especialmente dos vinhos a copo
O óptimo
A decoração surpreendente o incrível paté com a pele de galinha estaladiça
Um óptimo jantar opara si onde quer que a cavalariça esteja,
Ele
fotos: cavalariça; casal mistério
Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial.
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Rua do Secador, 9, Comporta
De terça a domingo, das 19h30 às 22h30
Ao fim-de-semana, serve almoços
Fecha no Outono e Inverno
Tel: 930 451 879
ja fui e não gostei.
mal recebida pela relaçõoes públicas (talvez a achar que nao fosse gastar o dinhero suficiente na refeição???), comi sim uma das melhores entradas que já provei na vida, mas a carne maturada – o prato mais caro que havia na lista – não era nada de especial, caríssimo, frio, e pouca quantidade. Não pedi sobremesa e fiquei com fome, tendo que ir em seguida complementar a minha refeição noutro espaço da comporta.
Já da refeição do Sem Porta do Sublime Comporta, gostei muito.
O pequeno almoço deste hotel é maravilhoso, e o espaço/decoração e staff são maravilhosos.Adorei a minha estadia lá.
Se pudesse passaria muitos fim de semana lá!
Como é possível escreverem esta crónica? Só se mudou muito. Mas eu fui lá em 2014 e DETESTEI. Tudo vinha mal confecionado, serviço péssimo. Espero que tenha melhorado então…