São as nossas resoluções de Ano Novo. E todos os elementos da Família Mistério têm direito a voto.
No final de Dezembro, eu reúno uma lista de 20 a 30 restaurantes que tenham aberto ao longo dos últimos seis meses e aos quais ainda não tenhamos ido. No nosso tradicional brunch de Ano Novo, toda a família se reúne à mesa para votar nos 10 restaurantes a que cada um mais quer ir. Cada elemento da família tem direito a um voto. No final, ganham os 10 restaurantes em que eu votei.
É assim! Se sou eu que escrevo e assino o texto, também sou eu que decido quais são os restaurantes a visitar no próximo ano. Mesmo que, ao longo dos 12 meses seguintes, toda a família me boicote e eu não consiga visitar muitos destes santuários. Mas não interessa! Pelo menos, um dia por ano tenho o meu momento Pinochet.
Izcalli, Lisboa
Abriu em Setembro, em Alcântara
Comida mexicana
T: 211 914 991
São apenas sete pessoas sentadas à volta de um balcão com dois sócios (não é uma referência a Paulo Futre) a prepararem pratos mexicanos à sua frente. Aqui, os cozinheiros quase lhe levam a comida à boca. É a melhor maneira de fazer uma cozinha mexicana bem feita que é o que o chef deste restaurante promete aos clientes: pratos preparados cuidadosa e artesanalmente e que seguem as técnicas usadas no México.
Se acha que, por um jantar aqui, vai pagar o mesmo que por uma noite no Ritz, está enganado: há pratos a partir de €4,50. E todos feitos 100% no restaurante, ali mesmo à sua frente. Os responsáveis por esta verdadeira experiência são uma mexicana e um português que trabalhou num restaurante na Cidade do México.
Eu estou de cabeça perdida para provar as tostadas de caranguejo com tortillas feitas no restaurante e o sikil p’aak, uma espécie de húmus feito com sementes de abóbora. Mas confesso que estive tentado a não publicar este restaurante nesta lista: não porque ache que não merece, mas porque, com apenas sete lugares, vai ser um inferno marcar uma mesa aqui.
Semea, Porto
Abriu em Junho, na Rua das Flores
Comida biológica
T: 938 566 766
Na lista de resoluções de 2017, falámos do Euskalduna Studio, um restaurante de autor com produtos biológicos e pretensão a uma estrela Michelin. Este ano, falamos do Semea, um restaurante de autor com produtos biológicos e sem pretensão a uma estrela Michelin. E o que é que esta diferença significa? Significa que se num paga 95 euros por uma refeição sem bebidas, no outro paga €3,80 por um divinal carapau alimado ou €5,50 por uma espectacular açorda vegetariana com tomate assado e ovo frito.
Tudo criado pelo mesmo chef e tudo feito com ingredientes biológicos e ultra-saborosos. Eu confesso que, desde que fui ao Leopold e ao Prado, em Lisboa, estou absolutamente viciado nesta nova tendência de fazer alta-cozinha com produtos biológicos e acabados de apanhar. Além de ser muito mais saudável, é muitíssimo mais delicioso.
A ementa varia regularmente, dependendo dos produtos da época, e foi pensada para partilhar cada petisco entre toda a gente. O espaço é pequeno e acolhedor e é dirigido por Vasco Coelho dos Santos, que já passou pelas cozinhas do Mugaritz, Arzak ou El Bulli. A mim, chega-me para me fazer apanhar o próximo comboio para o Porto.
Valdo Gatti, Lisboa
Abriu em Julho, no Bairro Alto
Pizzaria
T: 213 471 601
Mais um restaurante que investe em ingredientes biológicos. Só 5% dos produtos que usam não tem certificação bio. Tudo o resto é feito de forma natural, sem químicos nem outras invenções que atrapalhem o sabor.
A nova pizzaria da Rua do Grémio Lusitano, em Lisboa, tem um forno que mistura gás com fogo a lenha. E, mesmo aí, a lenha é sustentável. No centro do forno, há uma pedra giratória que ajuda as pizzas a ficarem cozinhadas de forma mais homogénea. E agora a melhor notícia de todas: a pizza mais cara da ementa custa €9,50. Parece mentira, não parece? Mas é uma das mais recentes pizzarias de Lisboa. E eu estou lá caído não tarda nada. Para provar a Pizza Bufalotta, feita com mozzarella de búfala DOP, tomate cherry, prosciutto crudo, orégãos e manjericão. Não espere aqui ingredientes muito sofisticados. É tudo simples e genuíno.
Enoteca 17·56, Gaia
Abriu em Setembro, na Rua Serpa Pinto
Wine bar e restaurante
T: 222 448 500
Não é bem um restaurante, é mais uma mistura de wine bar, terraço, esplanada, loja, museu interactivo, clube de charutos e restaurantes. Digo “restaurantes”, no plural, porque não é uma única cozinha que está naquele espaço deslumbrante criado pela Real Companhia Velha.
A Enoteca 17·56 é um enorme espaço, em Gaia, com uma incrível vista para o Porto. No piso de baixo, tem um museu interactivo sobre a história da Real Companhia Velha. No andar de cima, tem um clube de fumo com os melhores charutos, um grande wine bar, uma zona de queijos com várias opções e alguns espaços com diferentes ofertas de comida: as carnes maturadas e as sanduíches gourmet do restaurante Reitoria, os petiscos crus do restaurante Shiko, peixe fresco e um balcão de presuntos Joselito.
Tudo isto à frente de uma enorme janela com vista para o Douro e para o Porto. Nos dias com melhor tempo, tem um espectacular terraço. Perfeito para almoçar, jantar ou simplesmente para beber um copo durante o dia.
Picamiolos, Lisboa
Abriu em Novembro, no Cais do Sodré
Comida típica portuguesa
T: 215 890 487
Não se deixe assustar pela introdução: focinho de porco grelhado, miolos de borrego panados ou orelha de porco na grelha. O Picamiolos resulta de uma parceria dos donos do restaurante By The Wine com o chef José Júlio Vintém, o criador do Tombalombos, em Portalegre, e um dos meus cozinheiros preferidos a preparar petiscos típicos portugueses. E eu não sou propriamente alguém que goste de ver uma mioleira no garfo, à frente da minha boca.
Então o que é que me atrai neste novíssimo restaurante do Cais do Sodré, em Lisboa? A capacidade criativa do chef. Vintém não se limita a abrir o focinho do porco e a pespegá-lo no prato à sua frente. Trata-o de tal maneira que o transforma em fininhas e apetecíveis tirinhas de carne que arrasam qualquer conta de Instagram. Além disso, prepara outras delícias mais consensuais como a salada de corações de alcachofra, as lulas fritas ou as costeletas de coelho.
Basicamente, não tem desculpa para não experimentar esta maravilha.
The George Restaurante & Terrace, Gaia
Abriu em Junho, no Largo Miguel Bombarda
Petiscos de autor
T: 213 461 381
Quem é que se lembra de juntar uma típica morcela com um sofisticado ovo fumado? Ou um requintado bife tártaro com uns populares couratos? Ou uns saudáveis palitos de cenoura com um calórico dip de feijoada caseira? O chef Pedro Limão, pois então.
Apesar de rimar, não estou aqui para falar de versos; vim para falar do novo restaurante com vista para o Rio Douro. Fica em Gaia, mesmo em frente ao rio, e resulta de uma parceria entre os donos do hostel The Independente e a Sandeman. Se quiser ficar a dormir ali, depois do jantar, tem sempre o hostel de charme The House of Sandeman.
Eu estou especialmente entusiasmado com a carta do chef Pedro Limão e com o espaço decorado pelos criadores dos restaurantes Decadente e Insólito – quando fui a estes dois restaurantes, o serviço pode não ter corrido bem, mas a decoração foi sempre maravilhosa.
Za’atar, Lisboa
Abriu em Outubro, na Rua de São Paulo, Cais do Sodré
Comida libanesa
T: 211 350 860
Eu sei, já não é notícia. Dizer que José Avillez abriu um novo restaurante é tão frequente como receber um telefonema de Marcelo Rebelo de Sousa. No entanto, convém contextualizar as coisas: o homem não é só chef, é também empresário. E isso quer dizer que não tem de estar nas cozinhas de todos os seus restaurantes. Nem perceber tanto de bacalhau à Brás como de faláfel.
Para o que aqui interessa: quem está na cozinha deste restaurante libanês é o chef Joe Barza, uma estrela televisiva no Líbano, mas uma novidade para este pobre misterioso. O que me motiva neste projecto é que ele foi o chef escolhido por Avillez para abrir o seu primeiro restaurante libanês. E também o facto de ele cozinhar com um enorme chapéu de abas na cabeça, o que anima qualquer cozinha.
Isto e o tabbouleh, o fattouch, o húmus ou os kebab que tornam a comida libanesa numa verdadeira delícia.
Fava Tonka, Leça da Palmeira
Abriu em Agosto, na Rua de Santa Catarina
Comida vegan e vegetariana de autor
T: 915 343 494
Aqui há caviar de algas, sopa de cebola com trufas ou crème brûlée de mel biológico. Imagine um restaurante com alta cozinha de autor. Agora imagine que o chef só usa produtos vegan e vegetarianos. É o Fava Tonka. E, maior ironia de todas: um dos sócios é dono do Terminal 4450, um verdadeiro paraíso da carne, com enormes bifes e costeletas mal passadas.
Eu confesso que não resisto a tudo o que tenha carne e peixe mas, acima de tudo, gosto de comer. Tudo. Desde que seja bom. E o que o Fava Tonka promete é uma experiência totalmente diferente daquilo a que estou habituado. Senão, veja lá o que será provar uma couve-flor com beurre blanc e caviar de algas. Ou umas alcachofras com Queijo da Ilha e batata violeta. Ou uns figos com queijo Stilton e nozes. Tudo fresco e quase tudo acabadinho de apanhar.
A ementa do Fava Tonka tem apenas 12 pratos fixos (sete vegetarianos e cinco vegan). Tudo o resto é criado no próprio dia e, sempre que possível, com os ingredientes que sobraram para não haver desperdícios.
E já nem tenho espaço para falar da decoração arejada e alegre ou das loiças feitas à mão. O melhor mesmo é ir lá.
Okah, Lisboa
Abriu em Setembro, no Cais Rocha Conde de Óbidos
Comida asiática
T: 914 110 791
Antes de qualquer outra coisa, vamos falar da vista. Este restaurante fica num contentor, no topo do LACS, o novo hub criativo de Alcântara, mesmo de frente para o Rio Tejo. E para a Ponte 25 de Abril. E para o depósito de contentores de Lisboa. Por isso, não espere uma vista idílica, com rio e natureza. Aqui vai ver contentores coloridos, barcos, rio e ponte. Não é propriamente um quadro de Monet, mas não deixa de ser agradável.
Quando chegar lá a cima, pode escolher entre um bar com petiscos ou o restaurante Okah, com especialidades da Tailândia, China, Japão ou Coreia do Sul. Eu estou tentado pelas amêijoas em molho Garam Masala, pelo arroz basmati de coco com sementes de sésamo e pelo camarão tigre escalado com molho especial. Além da vista, claro.
Soão, Lisboa
Abriu em Maio, na Avenida de Roma
Taberna asiática
T: 210 534 499
Desde que experimentei, pela primeira vez, o Shiko, no Porto, que tenho uma paixão por tabernas asiáticas, onde se podem provar os mais deliciosos petiscos orientais que vão muito para além do sushi e do sashimi. E é por isso que estou obcecado pelo Soão, dos mesmos donos do grupo Sea Me, do fantástico Prego da Peixaria.
Já marquei mesa para jantar aqui, duas vezes, mas surgiram sempre problemas de última hora que me obrigaram a desmarcar. E é por isso que abri uma excepção para colocar o Soão nesta lista, apesar de ter aberto há pouco mais de seis meses.
Se se sentar ao balcão, tem a robata, uma espécie de grelha a carvão, onde são cozinhados os mariscos e os vegetais frescos do dia, ali mesmo à sua frente, e onde não há uma ementa fixa. No resto do restaurante, tem as mesas com a carta de petiscos asiáticos (mas sem a robata) onde pode experimentar as chamuças de queijo de cabra, caril e molho de iogurte com menta, os phos (o de rabo de boi com lima, cozinhado a baixa temperatura, parece maravilhoso), os baos, os dim sum (estou na fila para provar o de lavagante e champanhe) ou o caril verde de peixe e manjericão, entre outras especialidades.
Confesso que, no meio de tudo isto, o mais difícil é escolher por onde começar: Lisboa ou Porto?
Um óptimo ano de 2019 para si onde quer que os restaurantes estejam,
Ele
fotos: d.r.
Adoro!!! Esta lista vai ajudar.me muito. Num ano que começa, junto com uma vida nova, vou querer segui.la. Os do Norte talvez fiquem para depois mas os da grande Lisboa estão já apontados. Obrigado